A maior unidade de saúde pública do Estado, o Hospital Monsenhor
Walfredo Gurgel, em Natal, está doente. Uma das situações mais urgentes
da unidade está no setor de tomografia, que possui duas máquinas antigas
(uma com 10 e outra com 15 anos de uso) e que constantemente apresentam
problemas graves. Sem funcionar, é a população quem fica desassistida.
Na
última vez que os dois tomógrafos quebraram, fato ocorrido no dia 14
deste mês, uma comissão parlamentar formada por deputados estaduais fez
uma visita de inspeção ao hospital, mais precisamente ao setor de
tomografia, para ver de perto o tamanho do problema.
Na ocasião, o deputado estadual Dr. Kerginaldo, que acompanhou a inspeção, criticou a infraestrutura da unidade. Disse ele:Não
há banheiros para acompanhantes, falta de alimentação e manutenção
básica. Isso é desumano. Há ausência de gestão e priorização”.
Atualmente,
os dois tomógrafos juntos são responsáveis por mais de 4 mil exames
mensais. Quando os equipamentos param, além de afetar o funcionamento do
próprio hospital, pacientes ficam sem diagnósticos.
Para Terezinha Maia, a situação é inaceitável. E ela criticou a situação:
Não
importa a classe social da pessoa envolvida em um acidente. Se o
paciente é assistido pelo SAMU, deve ser recebido e diagnosticado com
segurança. Não podemos aceitar que o maior hospital do Estado opere com
tomógrafos de 10 a 15 anos”.
Situação do Walfredo Gurgel exige ação imediata, diz relatório
Ao
final da visita, que contou também com a presença das deputadas
Cristiane Dantas e Terezinha Maia, a comissão prometeu elaborar um
relatório para cobrar do governo estadual providências.
O BNews Natal
teve acesso exclusivo ao relatório, que lista com detalhes a situação. O
documento também exige ações imediatas para a solução dos problemas no
setor de tomografia. Tem que "arrumar a casa para não voltar a dar
problema", recomendam os deputados.
Importante ressaltar que o
setor de tomografia estava inteiramente parado quando o relatório foi
elaborado, fato ocorrido no último dia 15. Naquele mesmo dia, à noite,
os dois tomógrafos teriam voltado a funcionar após a execução de
serviços de reparo e manutenção técnica dos aparelhos, segundo informou a
Secretaria da Saúde Pública (SESAP).
Relatório de visita ao Hospital Walfredo Gurgel
Data: 15 de outubro de 2025
Local: Hospital Walfredo Gurgel
Participantes: Deputada Cristiane Dantas, Deputado Dr. Kerginaldo, Deputada Terezinha Maia e a servidora Jussara Chaves Câmara.
Objetivo da visita
O
objetivo da visita foi verificar, no local, por que a tomografia do HWG
está parada e o que falta para voltar a funcionar com segurança;
confirmar o andamento das obras e da compra do novo tomógrafo; combinar
ações imediatas com a equipe (manutenção com prazos, peças críticas e
apoio da rede para não faltar exame), definir responsáveis e prazos
claros (cronograma público) e alinhar as decisões legais necessárias,
para garantir diagnóstico por imagem contínuo e de qualidade aos
pacientes.
Principais pontos abordados
Diagnóstico
do serviço de Tomografia Situação atual. Os dois tomógrafos estão
parados e são antigos (10–15 anos de uso). O setor passa por manutenção e
reforma enquanto os aparelhos seguem indisponíveis. Para não deixar
pacientes sem exame, a rede de apoio (Deoclécio Marques, Giselda
Trigueiro, Hospital da PM e alguns privados) está recebendo parte da
demanda.
Impacto nos pacientes
A
falta de tomografia dentro do HWG atrasa diagnósticos, aumenta o tempo
de espera e pode piorar desfechos clínicos em casos urgentes (trauma,
neuro, abdome agudo), além de exigir mais deslocamentos entre unidades.
Causas principais
Obsolescência
do equipamento, falhas recorrentes e dependência de um único fornecedor
de manutenção/peças (com prazos instáveis), o que cria um “ponto único
de falha” no serviço.
O que já está em andamento
• Manutenção e obras no setor de imagem para corrigir problemas estruturais.
• Fluxo de contingência na rede para exames fora do HWG.
• Processo de compra de um novo tomógrafo (estimado em R$ 2,5 milhões) iniciado no ano passado.
Lacunas e riscos
•
Não há um cronograma público e integrado com datas para concluir a
obra, finalizar a manutenção, instalar, testar e iniciar o uso do novo
aparelho.
• Ausência de metas contratuais claras (SLAs)
para resposta e reparo, e de estoque mínimo de peças críticas, mantendo o
risco de novas paradas.
• Dependência técnica
concentrada em um único fornecedor, sem alternativas homologadas para
reduzir o risco de interrupção do serviço.
Aquisição de novo tomógrafo
O processo de compra encontra-se em curso desde o exercício anterior, com valor estimado de R$ 2,5 milhões e menções, nas transcrições, a fontes estaduais
e a referência a “R$ 4 milhões em 1º de agosto”, informação que requer
confirmação documental. A ausência de um cronograma público, com marcos
para licitação/contratação, entrega, instalação, comissionamento e
início de operação, amplia incertezas operacionais e dificulta a gestão
de fila e a previsão de capacidade futura.
Manutenção e dependência do fornecedor
A
empresa FIPS é a empresa contratada, mas há atrasos e falta de peças, o
que cria dependência de um único fornecedor e aumenta o risco de o
serviço parar. Para evitar novas interrupções e gastos ruins, é preciso
ter regras claras no contrato, com metas fáceis de medir: prazo para
responder ao chamado, disponibilidade de peças críticas e multas quando
não cumprir. Sempre que possível, também é importante ter outras opções
técnicas/fornecedores para não ficar sem alternativa quando houver
problema.
Infraestrutura e governança
A
ALRN cobrou prioridade institucional e eventual remanejamento
orçamentário via Conselho Estadual de Saúde para viabilizar a retomada
plena do serviço. As equipes reconhecem a necessidade de intervenções
estruturais no setor de imagem e de um planejamento de obra “em fases”,
que permita manter parte do atendimento durante reformas, com fluxos
seguros para pacientes e equipe.
Recomenda-se reforçar
governança com pareceres jurídicos, matriz de riscos e ritos de
transparência (atas, relatórios e publicação de marcos), assegurando
controle externo e social.
Pré-operatório de neurocirurgia, confirmação de óbitos e comunicação com famílias
Observou-se
perfil de cuidado crítico (pacientes em coma, extubação/traqueostomia),
com monitorização adequada (gasometria, pressão) e antibioticoterapia,
havendo casos em estabilidade. As checagens de segurança e a
documentação clínica foram consideradas completas, mas há espaço para
padronizar protocolos de comunicação de risco/óbito, com registro
sistemático e acolhimento às famílias, minimizando assimetria de
informação e sofrimento evitável.
Recomendações prioritárias
Curto prazo (0–30 dias) – o que dá para arrumar já
•
Comunicação com as famílias e checklist de segurança: criar um
protocolo claro para avisar parentes sobre o estado do paciente e um
checklist obrigatório de segurança para UTI/Neuro, a fim de evitar
falhas.
• Base legal para o veículo de apoio: pedir um
parecer jurídico dizendo se é possível comprar direto (compra rápida).
Se não for, abrir uma licitação simplificada imediatamente.
Acordo de manutenção com prazos definidos: fechar com o fornecedor um
plano emergencial com metas de tempo (SLAs = prazos obrigatórios de
resposta e conserto) e estoque mínimo de peças críticas para evitar
novas paradas.
• Transparência sobre obras e plano B:
publicar um cronograma das obras do setor de tomografia e o plano de
contingência (para onde os pacientes irão enquanto o serviço estiver em
reforma).
Médio prazo (31–180 dias) – arrumar a casa para não voltar a dar problema
•
Contrato de manutenção mais firme: revisar o contrato atual, avaliar
outros fornecedores e incluir multas e prazos obrigatórios (SLAs) em
caso de descumprimento.
• Troca planejada dos
equipamentos antigos: montar um cronograma para substituir os tomógrafos
obsoletos e preparar o projeto técnico das salas (obras, elétrica,
ar-condicionado, blindagem, etc.).
• Logística
funcionando na prática: regularizar, dentro da lei, a frota e condutores
para transporte entre hospitais e treinar as equipes para usar o fluxo
em rede sem atrasos.
Longo prazo (>180 dias) – soluções estruturais
•
Novo hospital metropolitano (estudo de viabilidade): analisar se vale a
pena e como fazer, com números de custo para construir/equipar (CAPEX) e
custo para manter funcionando (OPEX), definindo fases de implantação.
• Metas de tempo no diagnóstico por imagem: estabelecer prazos máximos para fazer e laudar exames conforme a urgência:
- P1 (muito urgente): atendimento imediato/horas
- P2 (urgente): até 24 horas
- P3 (eletivo): prazo maior, sem risco ao paciente
Essas
medidas combinam ações rápidas (para reduzir filas e riscos agora) com
ajustes de contrato e infraestrutura (para o serviço ficar estável) e,
por fim, um plano de expansão responsável para atender a demanda da
região.
Conclusão
A situação do
Walfredo Gurgel exige ação imediata. Há acordo entre técnicos, direção
do hospital e parlamentares de que é urgente recolocar a tomografia em
funcionamento. As obras de manutenção do setor já começaram e, enquanto
os aparelhos seguem parados, os pacientes estão sendo atendidos em
outros hospitais da rede (Deoclécio Marques, Giselda Trigueiro, Hospital
da PM e alguns privados), para evitar que fiquem sem diagnóstico.
A
compra de um novo tomógrafo, estimada em R$ 2,5 milhões, está
tramitando desde o ano passado, mas precisa de um cronograma claro com
datas para entrega, instalação, testes e início de uso. Ao mesmo tempo, é
essencial reduzir a dependência de um único fornecedor e trocar os
equipamentos antigos.
Isso pede um plano firme de manutenção, metas de desempenho (SLAs) e regras de acompanhamento e transparência.
Em
resumo: o hospital já iniciou correções, a rede está apoiando, e há
dinheiro em discussão — o que falta é prazos definidos,
responsabilidades claras e acompanhamento público para que a tomografia
volte rápido e não pare de novo.
Próximos passos imediatos
1. Publicar um cronograma único (obras, manutenção, compra, instalação e início de operação).
2. Garantir os pareceres e autorizações (jurídico e Conselho Estadual de
Saúde) para destravar compras e contratos.
3.
Colocar em prática um Plano de Ação com responsáveis, prazos e
indicadores (ex.: tempo de resposta a chamados, disponibilidade do
equipamento e tempo para realizar o exame e emitir o laudo).
Responsável pela elaboração do relatório
- Jussara Chaves Câmara
- Fernanda de Fátima Medeiros de Azevedo (Revisão)
O que é aparelho de tomografia?
Aparelho
de tomografia é o equipamento que viabiliza a coleta de cortes
transversais das estruturas anatômicas a partir da emissão de radiação
ionizante.
Fruto da evolução do equipamento de raio-X, o tomógrafo
produz centenas de radiografias ou chapas em um único exame. É assim
que aumenta a precisão do diagnóstico.
Sua tecnologia permite o
monitoramento do câncer de forma não invasiva, bem como a observação dos
resultados de tratamentos como radioterapia e quimioterapia, além de
aplicações mais simples, incluindo a identificação de lesões ósseas,
como fissuras, por exemplo.