
Musicista de formação e forrozeira de coração, Suzete Sales foi responsável pela formação de no mínimo 500 sanfoneiros espalhados pelo país, um número impreciso já que a professora não consegue lembrar com exatidão dos alunos que passaram por suas mãos em 57 anos dedicados à música.
Ao longo destes anos, Suzete compartilhou os palcos com grandes nomes da música brasileira, como Elino Julião, Alcymar Monteiro, Beto Carreiro, além de Falcão e a banda de forró Ferro na Boneca. Ela também subiu aos tablados em apresentações solos e acompanhada de seu marido, o musicista carioca Carlos Ferreira.
O legado da sanfona deixado pela musicista também reúne a fundação do grupo de sanfoneiras “As Potyguaras” e a idealização da “Banda Sanfônica do RN” junto à Fundação José Augusto. Hoje Suzete é membro da Banda Sanfônica e entre ensaios e elaboração de novos projetos, ela dedica-se às aulas de sanfona a três crianças e a um grupo de 30 pessoas entre 16 e 60 anos de idade.
O repertório eclético e bem executado, que passa por obras eruditas e populares, foi conquistado depois que passou por diversas escolas.
A primeira delas, em sua própria casa, já que seu pai era sanfoneiro e mestre de bandas no estado, seus tios eram sanfoneiros, sua mãe tocava cavaquinho e o avô era especialista em fole e baixo. “Eu fazia uma sanfona de papel dobrado, colava duas caixas de pasta de dente nas extremidades e pendurava no pescoço. Usava uma vassoura como microfone e tocava com a boca, Asa Branca”, recorda Suzete.
Os pais da sanfoneira não queriam que ela seguisse a carreira por temer que ela se tornasse prostituta, mas a insistência e o gosto pelo instrumento era tão evidente, que aos 9 anos recebeu sua primeira sanfona, aprendeu a tocar imediatamente e aos 10 anos já dava aulas em Natal.
A astúcia da jovem professora não parava por ali. Ela ia para a feira do Alecrim, logo cedo e subia nas banquinhas para tocar sanfona. As pessoas gostavam e deixavam moedas em seus pés. E foi assim que a sanfoneira herdou da família o gosto pela música e desenvolveu com muito esforço a técnica em ambientes públicos e em cursos como os de Acordeom, coral, saxofone, oboé, teoria e solfejo, todos na escola de música da UFRN.
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Sanfona é um instrumento caro
Assim como Rute e Suzete, os apaixonados pela sanfona e pelo forró não se deparam apenas com as dificuldades impostas pelo instrumento, que exige bastante coordenação motora. A primeira barreira encontrada por eles é o preço de uma boa sanfona, que pode chegar até R$ 20 mil. Uma sanfona para criança, de marca nacional, pode ser comprada por R$ 500,00. As de adulto, usadas e nacionais, custam em média R$ 2 mil. Os preços mais elevados são os das sanfonas italianas, que segundo Suzete, são as melhores.
Aos dez anos, aprendiz de sanfoneira
Acompanhada da menina Rute Carolina, de apenas 10 anos, Suzete recebeu a reportagem do VIVER em sua casa ao som de Asa Branca, Olha pro céu e Casa de Reboco. O dueto entre a mestra e a aprendiz mostrou que a sanfona está longe de ser um instrumento esquecido e desvalorizado.
Baixinha, a professora Suzete se confunde com a aluna Rute. Juntas, tocam um repertório de canções tipicamente nordestinas, clássicos da música brasileira, francesa e até russa. “Sanfona não toca apenas forró”, lembra Suzete. Mas foi justamente o forró que uniu as duas gerações de apaixonadas pela sanfona.
Com o sonho de ser sanfoneira bem definido, Rute foi prestigiar uma apresentação da Orquestra Sanfônica e lá conheceu Suzete Sales. Com o apoio da família, a menina passou a receber aulas particulares e a sua estréia na Orquestra Sanfônica já está marcada para dezembro deste ano, onde fará um solo do Bolero de Ravel.
Rute Carolina conta que desde pequena gostava de ouvir forró. “Passei muitos anos dizendo: quando crescer quero tocar sanfona”. Ela falou que seus pais ouviam Elino Julião, Luiz Gonzaga, Dominguinhos e que aprendeu com eles a gostar do ritmo. Algo bem diferente do que é tocado por bandas de forró eletrônico. “Eles tentam reproduzir o forró, mas não sai uma coisa boa”, critica Rute, com seu bom ouvido musical.
Aos nove anos, assim como a sua mestra, a menina ganhou uma sanfona. A pequena sanfona de oito baixos, vermelha, foi presente de sua avó. Na lateral do instrumento a menina exibe a assinatura de Dominguinhos, que conseguiu numa noite de debates no Forró da Lua, realizado no final de maio.
Rute faz a sexta série em uma escola particular de Natal e diz que não sabe definir uma carreira profissional. Ela nem arrisca um chute, mas vai logo dizendo “só sei que quero tocar sanfona”.
Da Tribuna do Norte
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