Isaac Lira
Repórter
Os agricultores potiguares têm uma boa notícia para
2011. O monitoramento climático da Empresa de Pesquisa Agropecuária
do Rio Grande do Norte (EMPARN) aponta sinais concretos de um bom
período chuvoso para o próximo ano, principalmente
por conta do resfriamento do Oceano Pacífico. Como se sabe,
em termos de clima, os modelos não são exatos e algo
pode mudar. Mas esse é o cenário que emerge dos mapas
e imagens de satélite da Emparn, segundo o meteorologista
Gilmar Bristot.
Gilmar conversou com a reportagem da Tribuna do Norte e alertou
para o extremo oposto da situação de 2010: ao invés
de seca, enchentes. A ocorrência de chuvas normais ou acima
do normal pode ocasionar enchentes em regiões como o Vale
do Açu e o Vale do Apodi. "É uma informação
importante para os gestores tentarem diminuírem os efeitos
negativos nessas duas áreas críticas", aponta.
COMO está o monitoramento para o período chuvoso do
próximo ano?
UMA das variáveis mais importantes para detectar e estudar
o clima é a temperatura dos oceanos. O que se pôde
ver até outubro de 2010 é um cenário favorável
no que diz respeito ao Oceano Pacífico. O Pacífico
é o maior oceano do planeta e tem mais influência do
que o Atlântico, que é mais relevante para o Nordeste
e o litoral brasileiro. O que temos visto até então
é um resfriamento da superfície do Oceano Pacífico
e, caso esse cenário se mantenha, podemos dizer que há
grande probabilidade de um inverno normal em 2011. Sempre lembrando
que o primeiro diagnóstico oficial desse processo será
possível somente em dezembro desse ano.
QUE outras variáveis são importantes?
HÁ o Oceano Atlântico, que é muito mais dinâmico.
Não há como dizer muito a esse respeito nessa época
do ano, mas caso a situação no Atlântico fique
mais favorável, com resfriamento de algumas regiões
específicas, haverá um inverno entre normal e acima
do normal. Observações da última semana mostram
essa tendência. Se isso for concretizado, teremos plenas condições
para um período chuvoso entre normal e acima do normal.
QUAIS as conseqüências diretas disso?
CONDIÇÕES favoráveis para a agricultura, para
o armazenamento de água nos grandes reservatórios
e a ocorrência de problemas de enchentes em algumas regiões.
No Rio Grande do Norte, são principalmente duas: o Vale do
Assu e do Apodi. Nesses dois locais, com chuvas entre normal e acima
do normal poderá haver problemas de inundações,
como já foi verificado. Isso acontece principalmente por
problemas ambientais, como a ocupação do solo, remoção
de matas ciliares e assoreamento de rios, como também pela
característica desses dois vales. São duas bacias
com embasamento cristalino, o que propicia o escoamento da água
e não a infiltração. Por isso, essas são
áreas críticas, com potencial de alagamento. Numa
situação de enchente, haveria prejuízos para
a agroindústria, para a carcinicultura, entre outras atividades.
São informações que precisam ser levadas em
consideração pelos gestores para evitar prejuízos
ainda maiores.
NESSE ano, a Emparn fez orientação no que diz respeito
à seca?
SIM, fizemos um trabalho com a Secretaria de Agricultura para orientar
os agricultores. É importante dizer que a Emparn, neste ano
como em outros, acertou 100% nos seus prognósticos. Dissemos
que não se deveria investir em culturas que necessitam de
chuvas mais bem distribuídas e por mais de 60 dias. Orientamos
a distribuir sementes de feijão, em detrimento de outras
culturas como girassol e milho. O resultado é que quem plantou
girassol, por exemplo, perdeu tudo, porque o período chuvoso
não foi favorável.
EM 2010, tivemos o fenômeno "El Niño", responsável
pela diminuição das chuvas. E neste ano? Existe uma
periodicidade para o El Niño?
NÃO há ainda como estabelecer um padrão. Somente
com o monitoramento é possível afirmar algo com um
certo grau de certeza. O que há de certo é o resfriamento
e o esfriamento dos oceanos. No caso do Pacífico, ora ele
esfria ora ele esquenta. Quando esquenta, temos o El Niño,
com probabilidade de menos chuva, e quando ele esfria temos o fenômeno
"La niña". O mais provável é que
haja "La niña" em 2011 por conta do resfriamento
do Oceano Pacífico. Somente com o monitoramento é
possível afirmar com certeza, principalmente com o aquecimento
global.
HÁ algum projeto específico da Emparn sobre esse assunto?
SIM, estamos finalizando um estudo sobre a relação
entre o aumento da temperatura e a agricultura no Estado. Justamente
para saber qual o panorama para daqui a 20 anos, por exemplo, como
as mudanças climáticas vão influenciar nas
principais culturas atualmente. O algodão, por exemplo, não
tem como ser cultivado como era há alguns anos no semi-árido.
Um aumento de um grau significa muita coisa, haverá menos
água disponível no solo porque a água irá
evaporar mais rápido com a temperatura mais alta.
VOLTANDO à questão do 'inverno', o que dizer em relação
às chuvas de dezembro e janeiro?
CASO a atual situação persista, é normal que
haja chuvas no litoral e no interior no mês de dezembro, embora
essas sejam chuvas um tanto quanto imprevisíveis. Um dado
interessante é que tivemos o mês de outubro mais chuvoso
desde que a Emparn começou a fazer essa medição
em algumas regiões do Estado. Tivemos locais com acumulado
de chuva de mais de 100 milímetros. Fizemos um levantamento
aqui na Emparn e nos cinco anos onde o mês de outubro teve
chuva acima da média, o ano subseqüente também
foi agraciado com um bom inverno. Esse tipo de estatística
não é considerado seguro, mas em conjunto com os outros
fatores, é uma boa notícia.
A MEDIÇÃO que a Emparn faz pelo Estado é segura?
O ESTADO não tem custo algum para conseguir essa medição.
Os pluviômetros estão distribuídos em mais de
200 pontos pelo Rio Grande do Norte e voluntários fazem essa
medição. Todos os dias, no início da manhã,
policiais, funcionários da Emater e outros voluntários
vão até o medidor e passam os dados para a Emparn.
O sistema tem falhas? Claro que tem. Poderia ser mais profissional?
Com certeza. Mas é o que temos para oferecer nesse momento.
A Emparn adquiriu 10 medidores automáticos, que enviam esses
dados diretamente para os nossos computadores. Esses medidores serão
instalados em breve, mas por enquanto usaremos o atual sistema.
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