Por Juliska Azevedo
Eleita pela segunda vez a deputada federal mais votada do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra vive um momento especial em sua vida pública. Em 2010, teve a maior votação proporcional do PT no Brasil. E ainda comemora a terceira vitória seguida do partido para a Presidência da República. Nesta entrevista, Fátima fala de sua expectativa em relação ao governo Dilma, num contexto em que o Estado será governado por uma adversária política. Garante que o apoio da prefeita Micarla de Sousa a Dilma em nada muda a postura oposicionista do PT em Natal. E aproveita a deixa para criticar a administração de sua ex-adversária em 2008. Sobre a disputa com o PMDB pelo comando da Câmara dos Deputados, Fátima acredita num entendimento, mas deixa claro que o PT não abre mão de presidir a casa já no primeiro biênio (2011-2012). Sobre os rumos do partido no RN, a parlamentar defende uma campanha de filiação, a ser feita em todo o estado parareforçar as fileiras da sigla, e avalia que o partido tem tido uma postura "tímida" que atrapalha seu crescimento no Estado.
O PT inicia seu terceiro mandato à frente da Presidência, com Dilma Rousseff, ao mesmo tempo em que Rosalba Ciarlini, do DEM, assume o governo do RN. Como a senhora, principal liderança do PT do Estado, vê esse momento político e o que espera dessa relação entre os governos do DEM e do PT?
O PT tem a melhor expectativa possível em relação ao Governo Federal. Estive com a presidente eleita, por ocasião da reunião do diretório nacional do PT, e vi que Dilma está muito motivada. Ela sabe da dificuldade, do desafio que está colocado. Ela disse que não quer fazer mais do mesmo. Quer avançar. Com relação ao Governo do Estado, a expectativa que está colocada, do ponto de vista da relação do governo estadual com o federal, é uma relação institucional. O que vai pesar é a gestão. É o governo ser competente, ter bons projetos, porque o governo federal não deixará jamais de ajudar o RN. Quanto ao PT no plano local, a nossa posição política é muito clara: vamos fazer oposição. Uma oposição firme e clara, mas uma oposição com responsabilidade.
Em relação à Prefeitura de Natal, houve algum avanço, alguma negociação?
Nada mudou. O PT continua na oposição. Não houve nenhuma conversa da prefeitura com o PT. E por parte do PT não existe nenhum movimento favorável a uma aproximação política com o PV. Pelo contrário, muito pelo contrário, nas bases, dentro do PT, o sentimento é de oposição. As lideranças políticas do partido compactuam deste sentimento. Foi a esse o caminho que o povo de Natal mandou. Então, estamos agindo com coerência.
A senhora falou que esse apoio de Micarla a Dilma foi uma coisa que veio de cima para baixo, uma determinação do PT nacional. Como consequência disso, poderia então vir uma orientação de cima para baixo para a aproximação. Isso pode acontecer?
Não acredito. Isso não existe mais. Essa fase dentro do PT já passou. Isso é folclore. Na verdade, a prefeita aderiu à candidatura de Dilma. Infelizmente no segundo turno Dilma não ganhou em Natal. No primeiro, ela ganhou.
Então a senhora está relacionando a derrota de Dilma, no segundo turno em Natal, ao apoio de Micarla?
Não estou relacionando. É só um fato. Eu coordenava a campanha de Dilma em todo o Estado, onde ela ganhou no primeiro turno e, no segundo turno, nós ampliamos a votação dela no Estado. Naquele momento a coordenação da campanha de Dilma buscou o apoio da prefeita, levando em consideração que havia um movimento para que o PV oficializasse apoio a Serra. E, portanto, a campanha nacional, corretamente, procurou entendimentos não só com Micarla como outros setores do PV. O objetivo era impedir a oficialização do apoio do PV a Serra. Independente da nossa posição em nível local, eu não tinha o direito, jamais, de criar dificuldades para quem viesse a apoiar a reeleição de Dilma. Outra coisa é a realidade no plano local. Eu sou membro da Executiva Nacional do PT, sou terceira vice-presidente. Então o PT nacional está suficientemente informado sobre a realidade local. Quem tem que decidir que caminho seguir, de aliança ou não aliança, éo PT do RN. Na verdade vocês sabem que nós temos uma visão muito crítica da gestão do PV. Lamentavelmente, eu acho que a gestão de Micarla à frente da prefeitura de Natal nesses dois anos tem sido uma aventura e Natal tem pago um preço muito alto por isso. É um apagão administrativo, que tomou conta da cidade. Foi falta de capacidade e iniciativa para formar uma boa equipe. Ela não está conseguindo chamar gente boa. Tanto é que, em quase dois anos, bateu o recorde: mais de 25 modificações. Não tem secretariado que se sustente com um grau de descontinuidade administrativa como esse.
O secretário Kalazans Bezerra deixou claro, após o afastamento de José Agripino, que Micarla quer agora um perfil de centro-esquerda, que o PT e o PSB seriam bem- vindos. Essa realidade não mudaria a postura do PT local? Ele disse também que Micarla tem uma gestão muito petista, com muitos ex-petistas no secretariado.
Veja bem. A gestão não tem nada de petista. São pessoas que já foram do PT. Tenho inclusive um carinho muito grande por alguns. Mas não tem a menor possibilidade de aliança, porque nós temos uma visão crítica da gestão. Há um verdadeiro apagão administrativo dentro da prefeitura, que vai até a falta de energia nas secretarias.
A senhora não relaciona o fato de essa verba do PAC, de R$ 180 milhões, ter sido liberada só agora, com o apoio de Micarla no segundo turno?
Não existe nada disso. É preciso ter projeto para receber a verba. É disso que precisa. O governo federal está fazendo sua parte. Esperamos que a prefeitura faça a dela.
Você acha que haverá a chegada de mais recursos para Natal com Dilma Rousseff presidente?
Não muda nada. O fundamental é a prefeitura ter bons gestores. Um exemplo disso é Mossoró, que é governada pelo DEM. Vá lá que a prefeita Fafá vai dizer, parodiando o presidente Lula, que nunca na história de Mossoró chegou tanto dinheiro como agora. Então, na verdade, o acesso de Natal ou qualquer outra cidade ao governo federal vai depender, repito, de capacidade de gestão e bons projetos. Isso vale para o governo de Rosalba também. Claro que eu não posso deixar de ressaltar que quando os governos estão alinhados politicamente a parceria flui mais, porque você tem um alinhamento não só político, mas programático. Independente disso, a relação é institucional e republicana.
Do ano passado para este ano foram pagos menos de 10% dos recursos pedidos pelos deputados potiguares em emendas. Por que isso ocorreu e como se pode mudar?
Não foi só com o Estado. Acontece com os demais estados, são problemas de natureza orçamentária, financeira Essas emendas de bancada, em sua grande maioria, a gente tem tido muitas dificuldades para liberar. As minhas exigem um esforço e um empenho muito grande. Muitas vezes consigo liberar por dentro do orçamento. Mas essa não é uma questão só do Rio Grande do Norte. Agora, é importante destacar que, o PAC é muito mais importante do que as propostas ao OGU. Quando a obra vai para o PAC, como a barragem de Oiticica, adquire outro status, pois não há contingenciamento. Oiticica está no PAC, como o aeroporto de São Gonçalo do Amarante. É uma das obras mais estruturantes para o Nordeste. E vai sair. Independente da Copa, o aeroporto é irreversível. Dilma teve um papel decisivo para que o aeroporto chegasse ao estágio em que chegou. Imagine ela presidente. Independente de Copa, não haverá nenhum retrocesso. No início de dezembro, o edital será publicado.
Como a senhora está avaliando a movimentação do PMDB? Henrique consegue assumir a presidência da Câmara Federal nesse primeiro biênio?
Olha, eu tenho participado desse debate junto com a bancada do meu partido. As coisas estão tomando o rumo do entendimento. Não haverá briga do PT com o PMDB. O próprio PMDB já admite claramente que respeita a prerrogativa do PT apresentar candidatura à presidência da Casa no primeiro biênio, que pode ser Vacarezza, Chinaglia, João Paulo Cunha, Marco Maia. Todos os quatro são muito bons, experientes e com credenciais para exercer a presidência da Casa. O PT não vai bater chapa internamente. O que está faltando agora para fechar o entendimento é que o PMDB está cobrando do PT o compromisso de que no segundo biênio a candidatura seja do PMDB, do deputado Henrique Eduardo Alves. Isso também é mais do que legítimo. Há 40 anos na Casa, aliado nosso, parceiro, Henrique tem tudo para ser o presidente no segundo biênio.
Eles estão colocando o Senadonesse pacote?
Não. A questão é o seguinte: a norma adotada na Câmara é a mesma do Senado. Como o PMDB tem a maior bancada lá, o PT defende que ele fique com a presidência no primeiro biênio e a gente no segundo. O PT gostaria que a mesma lógica seja adotada. O Senado está caminhando para o PMDB. Há também um sentimento no Congresso Nacional que o PMDB não presida as duas Casas. O equilíbrio mais razoável não seria esse. O PT não abre mão de presidir a Câmara dos Deputados. Não abre mão. É um direito legítimo nosso. Fizemos a maior bancada e somos o partido da presidente. Queremos uma reforma política com a participação de todos os partidos e da sociedade. Por isso é importante o Partido dos Trabalhadores na presidência da Casa já a partir do ano que vem.
A senhora pretende ser candidata a prefeita em 2012?
Não pretendo ser candidata. Isso não está nos meus planos.
Já aparecem no seu grupo candidaturas como as de Wilma de Faria (PSB) e Carlos Eduardo (PDT). Com quem o PT teria uma afinidade maior?
O PTainda vai abrir uma discussão, tanto em Natal quanto nas outras cidades do Estado. O que vou defender é que o partido se prepare tanto para a disputa na capital quanto no interior, se fortalecendo. A gente deve começa a pensar desde agora nas nossas chapas de vereadores, para o executivo, se lança nome próprio ou faz aliança. Vou defender que o PT atraia para os seus quadros pessoas que simpatizam com ele Falta atrevimento do PT do RN no sentido de não só fortalecer os quadros existentes, mas de atrair novos. Estão em curso negociações nesse sentido. A disputa política eleitoral agora, no segundo turno, fez com que várias pessoas se aproximassem mais ao partido e demonstrassem interesse de se filiar ao PT. Vou defender que o partido organize uma campanha de filiação, em todo o estado.
O PT se fechou muito aqui no Estado?
Não é que o PT tenha se fechado. Acho que ele foi tímido, pois, em determinado momentos que pessoas demonstraram interesses de se filiar, fomos tímidos, pelo fato de essas pessoas serem departidos aliados nossos. Não queríamos gerar atritos. Precisamos ser mais ousados. Várias figuras políticas do Estado poderiam estar hoje figurando nos quadros do PT.
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