Em três anos, projeto inédito testou 45 mil índios que vivem em
aldeias (representando 54,7% da população indígena do Amazonas e
Roraima). Meta é levar o teste para outras comunidades indígenas
Uma pesquisa baseada no uso inédito de uma tecnologia para testagem
de Sífilis e HIV permitiu rastrear a prevalência dessas doenças na
população indígena do Amazonas e Roraima. Antes, os pacientes precisavam
ser removidos para as áreas urbanas. Agora, em 20 minutos, na própria
aldeia é obtido o resultado – a mesma tecnologia será utilizada em
gestantes em todo o país, por meio da Rede Cegonha (veja abaixo). Com o
diagnóstico, foi possível o início imediato do tratamento para esses
pacientes. A ação é uma parceria da secretarias Especial de Saúde
Indígena (Sesai) e de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, da
Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta
(FUAM), da Fundação Bill & Melinda Gates e da Organização Mundial de
Saúde (OMS). Os resultados estão sendo apresentados durante o I
Encontro de Participantes do Projeto de Teste Rápido nos dias 24 e 25 de
maio, em Manaus.
De acordo com o secretário Especial de Saúde
Indígena, Antônio Alves, o projeto buscou vencer as barreiras
geográficas para diagnóstico destes agravos. É a primeira vez que o
teste rápido para sífilis é utilizado no país. “O sucesso desse trabalho
só foi possível graças à parceria com as entidades envolvidas e os
profissionais de saúde, que não mediram esforços para colher as amostras
e tabular os dados com qualidade. As comunidades escolhidas estão em
áreas de difícil acesso, com algum interelacionamento dentro e fora da
comunidade”, destacou. As áreas onde a sífilis apresentou maior
prevalência foram na região do Alto Solimões e do Vale do Javari,
localizadas na região da Tríplice Fronteira, situação de facilita o
contato com não-indígenas.
Ainda de acordo com a pesquisa,
fatores externos e internos foram apontados como causadores desta
vulnerabilidade indígena. Entre os externos estão a ocupação ilegal de
não indígenas, turismo e a presença de organizações não governamentais.
Os fatores internos apontados pelos pesquisadores são o desconhecimento
sobre DST/Aids, uso de álcool, presença de comunidades indígenas em
centro urbanos, migrações, restrições de uso de preservativo e
festividades com presença de não indígenas.
RESULTADOS
- De acordo com o estudo, a prevalência de sífilis na população
indígena avaliada foi 1,43% - um índice considerado elevado pelos
pesquisadores. A prevalência de HIV foi de 0,1% na população testada,
baixa quando comparada a população geral do país (0.6%). Em gestantes
indígenas, o percentual de sífilis foi 1,03% um pouco mais baixa que as
taxas encontradas em gestantes que moram nos grandes centros urbanos
(1,6%); já a prevalência de HIV foi de 0,08%.
Até o momento,
foram testados 45.612 indígenas, acima de 10 anos de idade, o que
representa 54,7% da população indígena de Amazonas e Roraima. No total,
serão testados pelo projeto, 83.311 indígenas destes dois estados,
atingindo 100% da população dos dois estados correspondendo a 195 etnias
espalhadas em áreas indígenas. A intenção da Sesai é ampliar a testagem
para outras comunidades indígenas do país ainda este ano, devido ao
contato dos índios com os não-índios. A primeira etapa do projeto
termina em 30 julho.
O PROJETO: Em 2008, a
Fundação Bill e Melinda Gates financiou sete projetos em vários países
para expandir o diagnóstico e tratamento da sífilis em populações
vulneráveis. No mesmo ano, foi selada uma parceria com o Departamento de
DST, Aids e Hepatites Virais/SVS/MS para detecção de HIV e sífilis. O
projeto enfocou as populações indígenas nos estados do Amazonas e
Roraima. As áreas foram escolhidas por estarem em localidades remotas ou
de difícil acesso, e englobam nove Distritos Sanitários Especiais de
Saúde Indígena (DSEIs): Alto Solimões (sede em Tabatinga), Alto Rio
Negro (sede em São Gabriel da Cachoeira), Manaus, Parintins, Purus (sede
em Lábrea), Médio Solimões (sede em Tefé), Vale do Javari (sede em
Atalaia do Norte), Leste Roraima e Yanomami (ambos com sede em Boa
Vista).
O Departamento de DST/Aids forneceu todos os testes
rápidos de HIV utilizados no projeto. Coube a Sesai o treinamento dos
509 profissionais envolvidos, a realização dos testes nas comunidades,
compilação e comunicação dos dados à FUAM, o fornecimento de penicilina
para o tratamento da sífilis e os custos de transporte das equipes. A
FUAM ficou responsável pelo fornecimento dos testes rápidos de sífilis
(inéditos no país), a elaboração do projeto, a execução do controle de
qualidade, a coordenação logística e o fornecimento de todos os outros
insumos necessários para a realização da pesquisa. Além disso, houve um
apoio Fundação Bill Gates que doou US$ 500 mil para a implementação do
projeto.
REDE CEGONHA E TESTE SÍFILIS: A mesma
tecnologia de testagem para sífilis será utilizada para gestantes em
todo o país, por meio do Rede Cegonha. Em 2008, prevalência da sífilis
foi de aproximadamente sete mil grávidas. Isso poderá evitar a
transmissão da doença ao bebê (ou seja, a sífilis congênita, cuja taxa
de incidência, em 2008, foi de 1,8 caso/mil nascidos vivos). A doença,
quando não provoca a morte do bebê, pode causar problemas auditivos,
visuais e neurológicos à criança. Toda a estratégia da Rede Cegonha
prevê um investimento de R$ 9,4 bilhões até 2014. O objetivo é
qualificar toda a rede de assistência obstétrica (às mulheres) – com
foco na gravidez, no parto e pós-parto – como também infantil (às
crianças) até o segundo ano de vida.
Por Valéria Amaral, da Agência Saúde.
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