sábado, 5 de maio de 2012

Direção do Varela busca alternativa para não fechar

Na entrada do Hospital Varela Santiago uma faixa já demonstra a situação pela qual passa a unidade hospitalar que foi pioneira no tratamento do câncer e referência no atendimento pediátrico no Estado. “O Varela Santiago pede socorro”. A crise financeira enfrentada pela instituição é tida com a maior desde a criação do hospital em 1936, pois o déficit financeiro mensal do hospital é superior a R$ 150 mil. Diante da falta de perspectiva de solução para a crise financeira, o diretor presidente do Hospital Varela Santiago, Paulo Xavier, há 12 anos no cargo, ameaçou renunciar, no entanto, após reunião na manhã desta sexta-feira (4) com outros diretores e com o presidente do Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Rio Grande do Norte (Ipai-RN), Manoel de Medeiros Brito, Paulo Xavier decidiu, após um apelo dos diretores, dos funcionários e dos pais dos pacientes, permanecer à frente da instituição.
Durante a reunião de ontem ficou definido que o Hospital Varela Santiago vai intensificar as ações de marketing para conseguir mais recursos, por meio de doações, buscar ações concretas para minimizar os efeitos da crise financeira, além de buscar uma audiência com a governadora Rosalba Ciarlini para discutir a situação do hospital. Para complicar ainda mais a situação no Hospital, a greve dos médicos está prejudicando a realização das cirurgias, já que os profissionais são cedidos pelo Governo do Estado.
“O repasse do SUS é feito pela quantidade de cirurgias que são realizadas, com a greve essas cirurgias estão acontecendo abaixo do normal e o repasse no próximo mês será mínimo. Se a situação está crítica hoje, mês que vem estará bem pior. A tendência é que, caso não seja feito algo de concreto para resolver essa situação, o Hospital Varela Santiago terá de fechar as suas portas no segundo semestre”, disse o gerente Administrativo do Hospital Varela Santiago, Francisco Régis Neto.
Segundo Francisco Régis, atualmente o Varela arrecada cerca de R$ 900 mil, mas as despesas ultrapassam R$ 1 milhão, com isso o déficit é superior aos R$ 150 mil por mês. “Todos os meses temos que ter pelo menos R$ 650 mil para honrar com a folha de pagamento”, explica Régis.
Diante disso, o hospital acumula uma dívida de R$ 2,5 milhões com a Caixa Econômica Federal, fruto de um empréstimo que foi renovado no mês de janeiro, para suprir o déficit financeiro. Da parte do Governo do Estado, o hospital tem R$ 500 mil a receber referente a terceira parcela de um convênio de 2011 com a Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap). Já a Prefeitura de Natal não repassou verbas do Sistema Único de Saúde (SUS) de março e abril para o pagamento dos plantões dos cirurgiões e intensivistas. Um total de R$ 332 mil no acumulado.
 A Prefeitura de Natal publicou uma nota de esclarecimento informando que está em dia com os repasses de verbas ao Hospital Varela Santiago, observando o pagamento do mês de março é pago em abril, mês subseqüente, de acordo com as normas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. A nota da Prefeitura esclarece que há um trâmite legal e obrigatório das notas fiscais pelos serviços prestados. O Hospital Infantil Varela Santiago enviou à SMS a nota fiscal no dia 25 de abril de 2012, o DRAC atestou dia 26 de abril. O Setor Financeiro vistou em 26 de abril e enviou para a Controladoria que liberou em 24 horas. O pagamento foi depositado no banco na quarta-feira (2) e deverá está na conta do HIVS nesta sexta-feira,  4 de maio. No entanto, o gerente administrativo do Hospital desmentiu a nota, negando que o repasse tenha sido feito e que até o fim da manhã de ontem o dinheiro ainda não estava na conta da instituição.
A defasagem no valor da diária por leito de UTI pago pela tabela do SUS é outro problema. O valor, R$ 450, é mais de duas vezes inferior ao contratado na rede privada, que chega a R$ 1,1 mil, em alguns hospitais do Estado. “Nosso maior problema é que nossas fontes de renda são os repasses da Prefeitura de Natal e do Governo e quando atrasam esse repasse, fato que é recorrente, a nossa situação que já é complicada, se torna caótica”, explicou Francisco Régis.
A promotora de Justiça da Defesa da Saúde, Iara Pinheiro,  instaurou inquérito de ação civil para investigar a inadimplência financeira das Secretaria Estadual de Saúde, Sesap, e Secretaria Municipal de Saúde, SMS, junto ao Hospital Infantil Varela Santiago. O inquérito de número 06.2012.000432-4 foi publicado no Diário Oficial do Estado de terça-feira (1º).
O Varela Santiago possui 110 leitos para o atendimento de neurologia, oncologia infantil, neonatalogia, além de 10 unidades de terapia intensiva em pleno funcionamento e outros 10 leitos de UTI Neo Natal estão em construção. Em fase final, a obra aguarda a liberação de recursos para a conclusão do acabamento e adquirir equipamentos. A montagem de cada leito custa em média R$ 120 mil, em aparelhos.
Pacientes lamentam crise no Varela Santiago
O clima entre os pais e pacientes que estão internados no Hospital Varela Santiago é de tensão. Gicele Alves Bezerra é do município de Tenente Ananias e desde novembro sua residência oficial é o Hospital. Gicele cuida da filha, de três anos, que tem meningite tuberculosa. “Estamos muito tristes com tudo o que está acontecendo e esperamos que o Governo do Estado tome uma providência o quanto antes, pois isso aqui não pode fechar”, desabafou a mãe.
Pauliane Ribeiro de Oliveira veio de Santa Cruz para fazer um tratamento renal no filho de nove meses. Há um mês internado no hospital, Pauliane considera uma “vergonha abandonar as crianças do Estado, pois se fechar as crianças ficarão desamparadas”. “Isso aqui é muito importante para o tratamento das nossas crianças e não pode parar”, destacou a mãe que tem fé que possa ser resolvido esse problema. “Acreditamos que não deixarão este hospital fechar”, disse.

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