Municípios potiguares com até 50 mil habitantes e localizados fora da
região metropolitana de Natal receberão do governo federal
retroescavadeiras para melhorar estradas vicinais (àquelas que ligam a
zona rural à urbana), facilitar o escoamento da produção da agricultura
familiar, e perfurar poços. O anúncio foi feito ontem pelo ministro do
Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, durante doação das primeiras
máquinas. Vinte e seis municípios, entre eles Santana do Matos, Lagoa Nova e Jucurutu, já foram contemplados. O governo federal
investiu R$ 4,5 milhões na aquisição das 26 retroescavadeiras.
As retroescavadeiras vão beneficiar municípios com até 50 mil habitantes do Rio Grande do Norte
Segundo o ministro, uma nova licitação será aberta para adquirir novas
máquinas, que deverão ter componentes nacionais para estimular a
produção da indústria. Ainda não há uma data definida. A governadora
Rosalba Ciarlini, que participou da solenidade, cobrou agilidade e
pediu que o governo federal priorizasse os municípios mais afetados pela
seca no Rio Grande do Norte. Cento e trinta e nove municípios
potiguares já decretaram estado de emergência em função da estiagem no
estado. O RN enfrenta a pior seca dos últimos 50 anos.
O MDA,
que investirá quase R$ 1 bilhão no programa, já atendeu 619 municípios
no país. Mais 1.275 serão contemplados este ano. A presidenta Dilma
Roussef anunciou, este mês, que atenderá mais 3.591 municípios. Para o
prefeito de Ipanguaçu, Leonardo Oliveira, as retroescavadeiras chegam em
boa hora. A medida, entretanto, é insuficiente para amenizar os efeitos
da seca. "É preciso fazer mais". Sessenta e três por cento da população
de Ipanguaçu vive na zona rural e depende exclusivamente da produção
agrícola. Aurinete Lima, vice-presidente dos Trabalhadores Rurais de
Olho D'água dos Borges, concorda com o prefeito. "O governo precisa
fazer muita coisa. O campo está abandonado". A agricultora critica a
interrupção da construção de barragens e perfuração de poços, retomada
recentemente. "Não deveríamos mais estar discutindo seca". Rosalba
Ciarlini reconhece que a seca não é novidade para o Rio Grande do Norte e
para o Nordeste, mas diz ter sido pega de surpresa pela estiagem.
"Ninguém esperava". Segundo ela, muito já foi feito para amenizar os
efeitos. "Claro que precisamos fazer mais". Para Pepe Vargas, ministro
do Desenvolvimento Agrário, os Estados precisam implementar projetos
complementares. "Sabemos que a seca vai trazer sofrimento. Queremos que
ele seja o menor possível", afirma o ministro.
De sofrimento,
Manoel Vitorino da Silva, 70, entende. Ele perdeu tudo o que plantou e
agora luta para não perder a única vaca que tem. Por dia, percorre 10 km
para saciar a sede do animal num olheiro quase seco, em Ielmo Marinho. A
vaca, que antes dava 4 litros de leite por dia e alimentava a família
composta por seis adultos e uma criança, hoje não consegue alimentar nem
o próprio bezerro. Relatos semelhantes são ouvidos na maioria dos
municípios potiguares.
"Quando não chove, a situação fica
desesperadora", afirma a governadora. As áreas cultiváveis no estado
encolheram 79,9% e a produção de grãos em relação às principais culturas
- feijão, milho, sorgo, algodão, arroz, mandioca e mamona - pode ser
91,8% menor que a do ano passado, segundo dados do 8º Levantamento da
Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A estiagem e a alta de
preços nos insumos e serviços necessários à manutenção do rebanho bovino
também provocaram uma redução de 40% na produção da bacia leiteira do
estado, segundo a Federação da Agricultura e da Pecuária do Rio Grande
do Norte (Faern).
Beneficiados
As
retroescavadeiras beneficiam, segundo o MDA, os municípios Apodi,
Baraúna, Caiçara do Norte, Coronel João Pessoa, Doutor Severiano,
Encanto, Grossos, Ielmo Marinho, Ipanguaçu, Itajá, João Câmara,
Jucurutu, Lagoa Nova, Lucrécia, Olho D'água do Borges, Pedra Grande,
Pendências, Pureza, Rafael Fernandes, Santana do Matos, São Bento do
Norte, São Francisco do Oeste, São Miguel do Gostoso, Serra do Mel,
Touros e Upanema. Num primeiro momento, a seleção dos municípios
beneficiados seguiu a metodologia utilizada pelo Programa de Aceleração
do Desenvolvimento (PAC): pertencer ao programa Territórios da
Cidadania, ter maior participação do Produto Interno Bruto (PIB)
agrícola no PIB total do município, possuir maior extensão territorial e
maior presença de agricultores familiares em relação ao total de
produtores registrados no município. O programa será ampliado para todos
os municípios com até 50 mil habitantes localizados fora das regiões
metropolitanas num segundo momento.
"Rede rural" vai estimular compras coletivas no RN
O
ministro do Desenvolvimento Agrário. Pepe Vargas, também firmou um
acordo de cooperação com o governo do estado para implementar a Rede
Brasil Rural no Rio Grande do Norte. Lançada nacionalmente em dezembro
passado, a rede é uma ferramenta virtual criada para organizar a cadeia
de produtos da agricultura familiar, desde o processo de produção até o
mercado consumidor. O acesso é feito pelo portal do MDA
(redebrasilrural.mda.gov.br).
Cooperativas de agricultores
familiares podem se cadastrar e vender juntas seus produtos direto pela
internet, além de comprar insumos agrícolas, máquinas e equipamentos.
As compras coletivas ajudam a baratear o preço dos insumos, reduzindo o
custo de produção e tornando o produto final dos agricultores mais
competitivo. A rede pode ser acessada ainda por potenciais clientes, que
contarão, assim, com um canal de compras mais eficiente para a
aquisição de produtos da agricultura familiar. Quase 190 mil
agricultores familiares já estão cadastrados na Rede, por meio de mais
de 450 cooperativas.
O ministro também firmou um acordo de
cooperação com o governo do estado para implementar o Programa Nacional
de Documentação da Trabalhadora Rural, que prevê a realização de
mutirões itinerantes para emissão gratuita de documentos como Registro
de Nascimento, Carteira de Identidade, CPF, Carteira de Trabalho,
Registro no INSS, atendimentos previdenciários (aposentadoria, auxílio
maternidade, entre outros) e Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP).
Foto fdamião com informações da TN
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