Polícia Civil juntou documentos e depoimentos para comprovar participação de Ruth Ciarlini em esquema
Repórter de Política
Os gastos elevados com a folha de pagamento do Governo do Estado, que
é um dos maiores problemas reclamados pela governadora Rosalba
Ciarlini, do DEM, foram mantidos, justamente, com a contribuição da irmã
dela, a ex-vice-prefeita de Mossoró, Ruth Ciarlini. Pelo menos, foi
isso que constatou a Polícia Civil de Mossoró, que indiciou Ruth e
outras pessoas por estelionato e falsidade ideológica, consequência de
fraude no pagamento de plantões eletrônicos no hospital regional
Tarcísio Maia, de Mossoró.
O inquérito policial civil foi assinado pelos delegados Fábio
Montanha, da 1ª DP de Mossoró; Nivaldo Floripes Batista, da 2ª DP, e
José Vieira, da Delegacia de Defraudações. A assistente social Ruth
Ciarlini (DEM); o médico Eider Barreto de Medeiros (cunhado de Ruth),
que é diretor do Tarcísio Maia, e outros 11 servidores da unidade
médica, foram indiciados por crimes de estelionato qualificado,
falsidade ideológica e peculato culposo, principalmente.
A informação foi inicialmente divulgada pelo jornalista Cesar Alves,
do blog Retrato do Oeste, contudo, o caso é bem antigo. Surgiu em maio
de 2013, e foi, inclusive, repercutindo aqui n’O Jornal de Hoje. O
secretário estadual de Saúde Pública, Luiz Roberto Fonseca, que na época
tinha acabado de assumir, iria investigar o caso, abrindo uma
sindicância interna. Contudo, até hoje, nada foi descoberto pela
Secretaria.
Pela Polícia Civil, sim. Os delegados teriam confirmado que Ruth
Ciarlini ganhava sem trabalhar no Tarcísio Maia e recebia uma
bonificação especial denominada de “Plantão Eventual”, que só deveria
ser pago para quem, de fato, trabalhasse além de seu expediente normal
completando escala. Ruth recebeu, mas estava afastada da unidade médica
há anos.
Por isso, a irmã de Rosalba Ciarlini foi indiciada por estelionato
qualificado e falsidade Ideológica que o Código Penal Processual (CPP)
prevê pena de 2 a 10 anos de prisão. Segundo o delegado José Vieira, a
ex-deputada e ex-vice-prefeita de Mossoró ainda tentou esconder que
recebia plantão eventual e salário sem trabalhar no Tarcísio Maia.
A chefe do Setor de Serviço Social do HRTM, Rosângela Almeida Moreira
Carioca, foi indiciada por estelionato qualificado, que o CPP prevê
pena de 1 a 5 anos de prisão, além de Fraude Processual, que o CPP prevê
pena de 3 meses a 2 anos. Eider Barreto de Medeiros foi indiciado por
peculato culposo, pois, segundo o delegado, sabia de tudo quando
assumiu, deixou o esquema continuar e ainda autorizava pagar a si
próprio com plantão eventual.
INVESTIGAÇÃO
Segundo o blogueiro Cesar Alves, no dia 27 de setembro, com ordens
judiciais, os delegados apreenderam documentos no hospital regional
Tarcísio Maia e foi, por meio deles, que pôde se comprovar os desvios de
recursos públicos através de fraude na folha de pagamento, destinando
plantão eventual para quem não merecia.
Segundo a Polícia Civil, eram destinados até quatro plantões
eventuais (o máximo) para pessoas que sequer estavam trabalhando no
Tarcísio Maia – na lista dos beneficiados, está Ruth Ciarlini. Para
comprovar que eles não compareciam, além dos documentos, os delegados e
policiais civis confirmaram a fraude também por meio de depoimentos e
escutas telefônicas autorizadas pela Justiça com o aval do Ministério
Público do RN. “Só está sendo indiciado quem tem comprovação testemunhal
e material”, explicou o delegado Fábio Montanha.
Esquema teria desviado R$ 5 milhões por mês em todo o RN
Segundo a Polícia Civil, mensalmente, o Governo do Estado pagava R$ 8
milhões por mês em plantões eventuais de servidores do Estado em várias
unidades médicas do Rio Grande do Norte. Depois da ação policial, o
rigor aumentou e foi reduzido, aproximadamente, 60% desse valor pago. Ou
seja: o custo para o Estado com esses plantões foi reduzido em R$ 5
milhões.
E pensar que, desde que assumiu a gestão estadual, uma das maiores
reclamações da governadora Rosalba Ciarlini é, justamente, a folha de
servidores. Sobretudo, na saúde e na educação. Tanto que a gestão
estadual chegou a “comprar briga” com médicos e enfermeiros ao instalar
pontos eletrônicos nas unidades médicas do RN. Rosalba só não esperava –
talvez – que fosse pegar, com isso, a própria irmã.
DEFESA
O advogado Thiago Cortez, que foi secretário estadual de Justiça e
Cidadania e defende a governadora Rosalba Ciarlini em vários processos,
será o defensor da assistente social Ruth Ciarlini num eventual processo
por conta desse indiciamento policial.
“Nós estamos tranquilos, recebemos a notícia com serenidade, mas é
preciso deixar claro que se trata apenas de uma interpretação do
delegado, que nós respeitamos, mas não tivemos direito de defesa”,
afirmou Thiago Cortez ao blog do jornalista Heitor Gregório.
Isso porque, é importante lembrar, o indiciamento significa, apenas
que a Polícia Civil viu elementos suficientes para responsabilizar a
irmã de Rosalba e outros envolvidos no suposto esquema. Contudo, ainda
será a manifestação do Ministério Público, para depois a denúncia ser
feita à Justiça e, então, a defesa poder se manifestar. Só depois de
tudo isso, que na maioria dos casos, demoram anos, é que, finalmente,
haverá o julgamento e a definição, em primeira instância, se o esquema
realmente existiu e se Ruth Ciarlini foi envolvida e beneficiada.
SAÚDE POLÊMICA
É importante lembrar que esse não é o único caso polêmico
envolvimento a saúde pública na gestão da médica Rosalba Ciarlini. No
início de 2012, o Governo do Estado teve que responder por
irregularidades na contratação, sem licitação, da Associação Marca para
gerir o Hospital da Mulher de Mossoró.
A Organização Social foi a mesma envolvida em denúncias de desvio de
recursos na Prefeitura de Natal e a parceria com o Governo do Estado
acabou rendendo uma ação civil pública do Ministério Público do RN, que
apontou, por meio de investigação, um “jogo de cartas marcadas” na
contratação da Marca.
A irregularidade foi comprovada. A Marca teve o contrato rescindido,
mas o Governo preferiu contratar outra terceirizada do que assumir a
gestão. O resultado disso foram novas suspeitas de irregularidades e de
desvio de recursos públicos. Estima-se que a gestão tenha pago de forma
indevida mais de R$ 8 milhões a essas terceirizadas.
Jornal de Hoje
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