Um representante do Ministério
da Integração Nacional admitiu à BBC Brasil que existe a possibilidade
que a obra de transposição do rio São Francisco, cuja previsão de
conclusão é de até 2015, só termine em 2016.
Frederico Meira, Coordenador Geral de
Acompanhamento e Fiscalização de Obras do Ministério da Integração
Nacional, fez a afirmação em Salgueiro, cidade no sertão pernambucano,
durante a realização de uma série de reportagens sobre a obra.
Meira disse que o prazo de conclusão para dezembro de 2015 é "factível e real", mas admite que pode haver mais atrasos.
"Vamos dizer que a gente tenha um nível de
chuva, como que a gente teve neste ano, no próximo ano. Se a gente
mantiver, certamente compromete o ritmo da obra", disse.
Questionado se as obras poderiam então se arrastar para 2016, reconheceu o risco.
"Pode acontecer, mas num intervalo pequeno de
um, dois ou três meses, não mais do que isso. Mas infelizmente pode
acontecer", afirmou.
Missão complexa
Meira vive no Recife, mas passa a maior parte do
tempo no sertão vistoriando as obras. Ele defende o cronograma da
transposição e diz que as imagens frequentemente publicadas na imprensa,
mostrando canais supostamente abandonados, não condizem com a realidade
das metas de execução, que o governo diz estarem dentro do previsto.
"Nós temos várias empresas operando em vários
lotes. É normal ter essas lacunas, esses espaços que não foram ainda
concluídos entre esses lotes. Mas em algum momento essas obras se
encontram", diz.
Lançada em 2007, as obras da tranposição devem
levar água a 12 milhões de nordestinos, segundo as previsões oficiais. O
primeiro prazo dado pelo governo foi ousado - 2010.
Mas os obstáculos encontrados pelo caminho
acabaram atrasando as obras e mostraram que transpor o sertão era uma
empreitada muito mais complexa do que se previa.
Na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife, o
pesquisador João Suassuna, um dos críticos mais ácidos da transposição,
diz que "os atrasos mostram falta de planejamento do governo".
"Havia outras opções mais baratas à
transposição. Mas nesse momento eu só posso torcer pelo sucesso da
transposição, depois de tantos bilhões gastos", diz.
'A água não faltará'
BBC Brasil percorreu centenas de quilômetros de canais no Sertão
Maior obra de infraestrutura hídrica do país, a
transposição do São Francisco é uma obra chave para o governo, que
refuta críticas de que a água pode ir parar em grandes fazendas,
beneficiando o agronegócio.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, a prioridade é o consumo humano e animal.
A água está programada para chegar a 23 açudes e
27 reservatórios e vai, ainda, abastecer rios que hoje ficam secos em
boa parte do ano. O objetivo é garantir a segurança hídrica do
semiárido, com represas cheias mesmo em tempo de seca.
Durante a reportagem, a BBC Brasil acompanhou
uma vistoria das obras por parte da presidente Dilma Rousseff em Jati,
no sul do Ceará.
Falando a uma plateia formada por boa parte dos
apenas 7 mil habitantes do pequeno município, Dilma prometeu que aquele
seria "um lugar onde a água não faltará".
Obra subestimada
Em conversa com a imprensa, Dilma admitiu que o
governo era "inexperiente" com obras desse gênero e dessa magnitude, ao
prometer a entrega em apenas três anos, em 2007.
"Houve uma subestimação da obra. Eu não acredito
que uma obra dessas em outro lugar no mundo leve dois anos para ser
feita", disse em conversa com a imprensa.
Enquanto a água não chega, o sentimento entre os
sertanejos é de esperança. Francisco Gonçalves, conhecido como "Seu
Panda", era um dos presentes no ato em Jati.
De sua varanda, ele vê as obras da transposição.
Aos 74, com sete dos 15 filhos vivendo em São Paulo, onde já foi
retirante, Panda espera que a água chegue rápido.
"Antes a gente tinha dificuldade de ter água
para beber", diz Panda, que quer utilizar a água "de imediato",
aposentando a cisterna que mantém ao lado da casa.
Em conversas nas ruas de Jati, a ansiedade era
outra. Hoje, a transposição é uma das maiores empregadoras do município.
Para alguns comerciantes, o temor é que os empregos desapareçam assim
que as obras forem concluídas para a água chegar às torneiras da cidade.
BBC/Brasil
BBC/Brasil
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