Representantes de diversos segmentos criticam falta de propostas e acusações feitas em propaganda eleitoral
Alex VianaRepórter de Política
Mentiras, desrespeito, sujeira. Vale tudo para tentar convencer o
eleitor a deixar de votar no adversário? Para setores sociais ligados à
Igreja, ao meio empresarial e mesmo ao marketing político, a resposta é
um sonoro não. “Nunca vi uma campanha tão suja”, afirma a empresária
Daniele Fonseca. “Acho que o desespero tem levado os candidatos a
plantar mentiras como verdades. E esquecem que os adversários têm
família e vida social”, diz. Para o pároco da cidade de Parnamirim,
Padre Murilo, o nível da campanha eleitoral para governador do Rio
Grande do Norte “poderia ser muito melhor, discutir mais as alternativas
para o RN, de pé no chão”, afirmou. Profissionais do marketing e da
propaganda, como José Ivan e Jenner Tinoco, concordam. “A baixaria está
sendo total e isso é falta de respeito com o eleitor cidadão”, diz Ivan.
“Essa campanha é a mais radical, desrespeitosa, mentirosa e indigna que
eu já vi na história política do Rio Grande do Norte. Admira o Tribunal
Regional Eleitoral não ter tomado nenhuma decisão, para resguardar a
sociedade desse mar de lama”, complementa Tinoco.
Na visão de analistas, embalado pelos números desfavoráveis do Ibope e
por um marketing importado da Bahia, o candidato do PMDB a governador,
Henrique Alves, tenta desqualificar o adversário, o candidato do PSD,
Robinson Faria, usando, para tanto, o chamado marketing da
desconstrução. Nesse sentido, Henrique se faz valer de acusações contra
Robinson com forte tom sensacionalista, afirmando, por exemplo, que
Robinson fará governo igual ao de Rosalba, “ou coisa pior”. Até mesmo
questões da vida privada do candidato, como uma suposta permuta de
terreno por apartamentos, têm sido usadas pela campanha de Henrique,
enquanto que Robinson, por sua vez, rebate citando os diversos
escândalos nos quais Henrique se envolveu ao longo da vida pública e
também questiona a quantidade de projetos apresentados pelo peemedebista
ao longo de 44 anos de mandato: apenas cinco.
“Nunca vi uma campanha tão suja. Tenho comentado com amigos que a
verdade tem que ser esclarecida e divulgada. Mas, cabe à imprensa, e não
aos candidatos. Acho que o desespero tem levado os candidatos a
plantarem mentiras como verdades. E esquecem que os candidatos
adversários têm família, têm nome, foram empresários, têm empregados, e,
simplesmente, começam a sujar o nome”, diz a empresária Daniele
Fonseca. Para ela, entretanto, tudo se vira contra o ofensor, que perde
com isso, porque, quem está assistindo, começa a não admirar quem
ofende, fazendo com que o agressor perca a credibilidade. “Imagine como
vai ser o governo de uma pessoa dessas? Jogando tantas mentiras? Até o
marketing político fica desacreditado. Na hora que joga para a população
‘olhem, vocês são burros, vão engolir qualquer mentira’. Nunca vi uma
campanha tão baixa, tanto a nível estadual como federal”, completa.
Na internet, as baixarias e o campo de sua disseminação são maiores,
segundo a empresária. “Qualquer pessoa quer ser jornalista, dar furo e,
na ânsia de defender seus candidatos, planta muitas mentiras”, afirma,
destacando que faltam propostas. “Não se tem proposta, mas jogo de
defesa e ataque. É o jogo. E não sou só eu, mas toda a população vê
isso. Na hora que vejo os comentários em grupos de internet, todos
comentam o nojo de olharem. Muita coisa é por dizer, são falsas verdades
plantadas. Talvez pelo desespero”, observa.
Padre Murilo: “Faltou discutir as melhores alternativas para o RN”
Para o Padre Murilo, pároco do município de Parnamirim, o debate
eleitoral deste ano foi carente de discussões importantes, como
infraestrutura logística, educação, saúde e segurança, dentre outros. Ao
falar sobre o nível da eleição, classificou: “Poderia ser muito melhor.
Discutir mais as alternativas para o RN, de pé no chão. Por exemplo,
discutir mais a questão do futuro porto do RN. Temos diversas opções”,
afirmou, destacando que Robinson tentou “puxar” o debate de propostas,
enquanto Henrique “não aprofundou” as questões.
“Alguns nos debates passam como de raspão nesses temas mais
relevantes, mas não se aprofunda. Robinson tem puxado mais, ido mais a
fundo. Henrique fica muito dizendo do que fez, mas não aprofunda as
questões. Por exemplo, a questão dos parques eólicos. Como transformar
em patrimônio do povo? Nas comunidades onde há eólicas, que haja o
diferencial da energia, que os pequenos possam produzir energia. É
possível, tem alternativa”, salienta.
A questão da pesca, segundo Padre Murilo, ficou fora de todos os
scripts. “Temos uma costa fabulosa. E quando falo do porto, também tem o
impacto que tem nas comunidades tradicionais do RN, os pescadores. Onde
estiver o porto, tem que ter um diálogo profundo com as comunidades
envolvidas. Se for a região de Macau, tem que ter um diálogo com os
municípios da região. A atividade da Petrobras no Estado, para onde vai?
Não se foi discutido que passos o governador vai dar para solidificar a
produção de petróleo no RN. As pesquisas, tanto de terra como de mar,
os novos campos, a questão do biodiesel”, constatou.
Na Educação, Padre Murilo mostrou insatisfação com a discussão sem
aprofundamento. “No campo da educação, como vivemos uma hora
interessante na área federal, com os IFRN’s, o Prouni, e os novos cursos
universitários, de qualquer maneira começamos a nos sentir um pouco
satisfeitos. Mas temos que universalizar os IFRN’s e ampliar o
Pronatec”, observa.
No que toca à discussão sobre ensino integral, Padre Murilo diz que
há um grande equívoco na hora de se falar do plano, onde se confunde
escola de tempo integral com educação de tempo integral. “Escola de
tempo integral significa enclausurar jovens entre quatro paredes. Mas a
educação em tempo integral significa a interdisciplinaridade, com
diversas ações da infância e juventude existentes no Estado e
municípios, integrando todos os programas de cultura, esporte,
assistência e saúde no contexto da educação integral. Quando a gente
alarga isso, a gente realmente faz educação em tempo integral. Esse é o
espírito da integração”, afirmou, sugerindo que os candidatos se
aprofundem na discussão dessa temática. “Ainda temos esses dias para
aprofundar essas coisas”, finalizou.
Publicitários reclamam: “Baixaria está sendo total”
Se fizer uma busca na história política do Rio Grande do Norte, nunca
se viu tanta baixaria como nesta campanha eleitoral. A opinião é do
publicitário José Ivan Fernandes, com diversas campanhas eleitorais na
bagagem. “Acho que a baixaria é total”, define, ao se reportar a alguns
programas eleitorais, mas sem se referir especificamente a nenhum deles.
“O eleitor não é burro, sabe quem está fazendo o que”. Para o
publicitário, há uma tremenda falta de respeito com o eleitor, que não
vê impassível o que acontece. “É uma falta de respeito com o
eleitor-cidadão”, diz.
Na visão do marqueteiro, numa campanha eleitoral o marketing político
tem a possibilidade de construir a imagem de um político e gestor. E
como se constrói? Potencializando virtudes, capacidades, experiências.
“Fazendo uma analogia com a vida no dia-a-dia, você não procura um
médico que tenha números de insucesso em cirurgias. Da mesma forma, você
não procura um arquiteto que tenha projetos que não funcionam. Você
também não procura um engenheiro que tenha no currículo uma obra que
caiu. Pelo contrário. Você procura exemplos de bons profissionais. E
esse mesmo caminho poderia ser desenvolvido nessa campanha, respondendo
àquelas perguntas-chaves que o eleitor quer saber? O que o candidato vai
fazer? Quais as propostas? Quais as ideias? Como fazer para melhorar a
vida das pessoas? Afinal de contas, a ideia dos programas eleitorais é
exatamente essa: que o eleitor conheça as propostas e ideias, e saiba em
quem votar”, diz Ivan.
Dentro desse contexto de baixo nível, segundo José Ivan, o programa
que conseguir passar, de uma forma melhor, uma mensagem coerente para a
segurança, educação, saúde e desenvolvimento, será vencedor. “O que
sinto e ouço é que as pessoas repudiam. São contra esse tipo de
estratégia porque não são construtivas, mas destrutivas. Votar no
candidato que tem menos baixaria que o outro? As pessoas não querem
isso, o cidadão é contra. Acho que o Brasil mudou, o mundo mudou. As
pessoas mudaram, e queremos o melhor gestor, aquele que tem capacidade
de fazer o melhor para o Estado e as pessoas. Baixaria sou contra”, diz
José Ivan, afirmando que de todas as campanhas das quais participou, em
todas elas, sempre potencializou o que o candidato tem de melhor para
que o eleitor vislumbre o que há de melhor. “Fizemos várias campanhas
proporcionais, seguindo essa linha, e foram vitoriosas, tanto a deputado
estadual quanto a federal. Veja que nenhum dos oito deputados federais
eleitos ou 24 deputados estaduais eleitos, nenhum se preocupou em bater
no candidato. Cada um se preocupou com suas propostas. Fica a sugestão
para os candidatos majoritários: seguirem os proporcionais”.
MAR DE LAMA
O publicitário Jenner Tinoco também repudia o vale-tudo eleitoral
desta reta final de campanha. “Essa campanha é a mais radical,
desrespeitosa, mentirosa e indigna que eu já vi na história política do
Rio Grande do Norte. Admira o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande
do Norte (TRE) não ter tomado nenhuma decisão para resguardar a
sociedade desse mar de lama”, afirmou.
Na visão de Jenner, o nível da campanha caiu desde que a pesquisa
Ibope registrou a “virada” de Robinson sobre Henrique. “Desde o instante
em que ficou configurado o segundo turno, a campanha veio de forma
radical. E piorou muito a partir da divulgação da pesquisa Ibope/Intertv
Cabugi”, afirmou. “Esta campanha gera vergonha alheia”, resumiu.
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