O caso chegou ao Supremo em março e a decisão de abertura de inquérito foi tomada pela ministra relatora do caso, Cármen Lúcia
Ciro Marques/JH
Repórter de Política
Dez dias depois de ir para as ruas protestar contra a corrupção, o
senador e presidente nacional do Democratas, José Agripino Maia, foi
informado que o Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou o pedido da
Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizou a investigação, por
corrupção, contra o parlamentar, que tem foro privilegiado. O fato,
inclusive, surpreendeu o próprio Agripino, que já havia conseguido o
arquivamento do mesmo processo, por falta de provas.
A diferença do pedido feito hoje pela PGR e o arquivado
anteriormente, pela mesmo Procuradoria, são os elementos que hoje
existem contra o senador, líder nacional do DEM. Documentos e áudios
entregues pelo colaborador premiado (e réu) da Operação Sinal Fechado,
George Olímpio. O empresário, acusado de ser o líder do esquema, afirmou
em depoimento que José Agripino cobrou e recebeu R$ 1 milhão do esquema
para manter a inspeção veicular na gestão de sua correligionária, a
ex-governadora Rosalba Ciarlini.
Diferente do que alega José Agripino, inclusive, o que há contra ele
não é apenas o depoimento de George Soares. O empresário também entregou
ao Ministério Público do RN (e o órgão enviou para a PGR), áudios que
mostram diálogos entre ele e outros envolvidos no esquema, como o
ex-suplente de senador, João Faustino (hoje falecido), e o presidente da
Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira (PMDB). Nas conversas, George
afirma que doou R$ 1 milhão para José Agripino para garantir a
continuidade do esquema, mostrando que os dois envolvidos, pelo menos,
sabiam do acerto entre senador e empresário. E mais: no caso de João
Faustino, o suplente até confirma que o presidente nacional do DEM tem
um “compromisso” com o líder do esquema denunciado.
A delação de George Olímpio, apesar de render novos elementos contra
Agripino, não foi a primeira citação contra o senador na apuração da
Operação Sinal Fechado. Ele já foi citado antes, no depoimento de
delação premiada feito por outros réus, Alcides Fernandes e José Gilmar,
conhecido como Gilmar da Montana. Essas declarações, inclusive,
renderam a primeira investigação contra o senador na Procuradoria-geral
da República, mas o caso não foi para frente pela falta de provas e pela
declaração feita pelo próprio George Olímpio.
Na época das delações de Alcides e Gilmar, George Olímpio ainda
resistia a assumir sua culpa no esquema da Sinal Fechado. Além disso,
também negava que houvesse a participação de políticos no caso.
Consequentemente, como estratégia de defesa, chegou a fazer uma
declaração, reconhecida em cartório, que Agripino não tinha recebido
qualquer montante para “ajudar” no caso.
E é isso que Agripino, hoje, se sustenta para negar ter recebido
propina. “Este assunto, tratado em 2012, gerou processo de investigação
pela Procuradoria Geral da República que, em 31 de outubro de 2012, o
arquivou pela “inexistência de indícios, mínimos que sejam, que
confirmem a afirmação de que o Senador José Agripino Maia teria recebido
doação eleitoral ilícita do grupo investigado na operação ‘Sinal
Fechado'”.
O Ministério Público do RN, no entanto, refuta essa tese. Apesar de
não se manifestar oficialmente sobre o caso de José Agripino, o
procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis, deu declarações sobre a
denúncia feita contra Ezequiel Ferreira que acaba valendo também para o
caso do senador. Na época, o deputado estadual deu declarações idênticas
às de Agripino, afirmando que o caso era “requentado”.
“Não se trata de requentar. O que ‘esquentou’ novamente essa operação
o depoimento de George Olímpio ainda em agosto do ano passado e a
partir daí nós começamos a trabalhar com as novas informações, os novos
dados que foram trazidos por ele, novos fatos, como essa questão de
Ezequiel”, explicou Rinaldo Reis, justificando porque, assim como
Agripino, Ezequiel foi citado por Alcides, mas só depois da delação de
George, houve a evolução das investigações contra ele.
POSICIONAMENTO
Um dos maiores críticos dos esquemas de corrupção denunciados no
Governo Federal e defensor da delação premiada, José Agripino Maia vive,
hoje, a situação inversa. Além de estar, oficialmente, na condição de
investigado por esquema de corrupção, o presidente nacional do DEM ainda
deverá ser pressionado pelos parlamentares da “situação” a se defender
no plenário do Senado Federal.
Recentemente, inclusive, a senadora Fátima Bezerra, do PT, até fez
essa cobrança. Em longo pronunciamento, a petista afirmou que a oposição
ao Governo Federal era seletiva e estava silenciado sobre o caso de
corrupção de José Agripino, citado na Sinal Fechado.
Apesar do silêncio, o caso não evitou que surgisse uma mácula na
imagem do senador, líder do DEM. Tanto é que o parlamentar preferiu
participar, em Brasília, dos protestos contra a corrupção, ocorridos no
último dia 15. Lá, pela repercussão menor da Sinal Fechado, a imagem do
senador ainda segue, de certa forma, preservada. Ou seguia, até agora.
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