Tribuna do Norte - O
açude Gargalheiras seco é uma imagem que, aos 87 anos de idade, o
advogado seridoense Manoel de Brito não imaginou nem esperava ver um
dia. “O Gargalheiras é um símbolo para a população do Seridó,
principalmente para o povo de Acari e Currais Novos”, atesta ele.
Nascido na região, em Jardim do Seridó, Manoel de Brito lembra que a
construção da barragem, oficialmente batizada com o nome do marechal
Dutra, foi também uma longa espera para o Rio Grande do Norte. As obras
começaram em 1921, no governo do presidente Epitácio Pessoa (o
governador era Ferreira Chaves), mas foram logo paralisadas, ficando
máquinas e instalações abandonadas. “A estrada velha de Jardim para
Acari passava por ali e eu via aquele maquinário todo sendo comido pela
ferrugem”, acrescenta. Em 1949, já rapaz e repórter do jornal A
República, Manoel de Brito estava presente quando o presidente Eurico
Gaspar Dutra visitou o estado e ouviu de Dom Marcolino Dantas, bispo de
Natal, o apelo em forma de trocadilho; “Presidente, mande construir o
Gargalheiras para quando houver inverno as aguas gargalharem”.
Dez anos depois, o açude
estava pronto – “Foi graças ao Batalhão de Engenharia do Exercito,
instalado em Caicó. As obras foram comandadas pelo major Pinho”, lembra
Manoel de Brito – e em 1960, ano de chuvas acima da média, o
Gargalheiras sangrou pela primeira vez. As águas, passando sobre a
imponente parede de 25 metros de altura da barragem, formam uma queda em
cascata conhecida como “véu de noiva”. Após cinco anos de uma nova
seca, as pedras do leito do rio Acauã – integrante da bacia do
Piranhas/Açu – estão à mostra. Quando o Gargalheiras voltará a
gargalhar? Nem mesmo Manoel de Brito, que já foi secretário de Interior e
Justiça por duas vezes, na década de 1970/1980, e enfrentou mais de uma
seca prolongada, arrisca uma previsão. Para ele, o Gargalheiras seco e a
falta d´agua no semiárido nordestino, neste século, também são símbolos
da falta de cuidados com a região e prioridades certas nas políticas
dos últimos governos.
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