Por Vinicius Sassine
BRASÍLIA
— Integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato estão investigando
aliados do vice-presidente Michel Temer, como os ex-ministros do Turismo
Henrique Eduardo Alves (que já foi alvo de mandado de busca e
apreensão) e da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Os
investigadores já trabalham com a hipótese de que eles virem ministros
num governo do PMDB. Assim, retomariam o foro privilegiado e passariam
para a esfera do Supremo Tribunal Federal (STF) saindo da alçada do juiz
Sérgio Moro.
Caso o deslocamento ocorra, Alves e Geddel se somarão a três alvos
centrais da Lava-Jato, também próximos a Temer. O presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é réu numa ação por corrupção passiva e lavagem
de dinheiro no esquema de desvios da Petrobras; denunciado em inquérito
que apura quatro contas mantidas na Suíça; e investigado em outro
procedimento devido a mais nove contas no exterior. O senador Romero
Jucá (PMDB-RR) é investigado no inquérito que apura formação de
quadrilha e num segundo procedimento no STF. O senador Valdir Raupp
(PMDB-RR) também é investigado por formação de quadrilha e alvo de um
segundo inquérito.
Fontes com acesso às investigações relatam que o caso de Alves é o
mais avançado. Em dezembro de 2015, quando era ministro do Turismo, a
Polícia Federal cumpriu um mandado de busca e apreensão em um
apartamento dele, em Natal. Investigadores relatam haver indícios de uma
atuação casada de Alves e Cunha na arrecadação de recursos para
campanhas eleitorais. Essa é uma das linhas de investigação do inquérito
aberto para investigar o presidente da Câmara a partir das delações
premiadas dos donos da Carioca Engenharia. Os empreiteiros detalharam
nove contas bancárias no exterior cujos depósitos teriam beneficiado
Cunha.
TROCA DE MENSAGENS
A força-tarefa em Curitiba
tem em mãos relatórios com as trocas de mensagens entre o ex-ministro do
Turismo e executivos da construtora OAS. Pelo teor das mensagens, Alves
promete favores à empresa em tribunais de contas. Os torpedos registram
pedidos de doações a Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira.
Henrique Alves foi derrotado na disputa pelo governo do Rio Grande do
Norte em 2014.
O caso de Geddel é semelhante. A força-tarefa em Curitiba também
analisa a troca de mensagens entre ele e Léo Pinheiro. O GLOBO revelou,
em janeiro, que o ex-ministro da Integração Nacional atuou na Caixa
Econômica Federal, na Secretaria da Aviação Civil da Presidência e na
prefeitura de Salvador para atender a interesses da OAS. Ele foi
vice-presidente de Pessoa Jurídica na Caixa.
Além do lobby no governo, Geddel pediu recursos à empreiteira para
campanhas de aliados na Bahia e para sua candidatura derrotada ao Senado
em 2014.
Já os senadores Jucá e Raupp são investigados no principal inquérito
da Lava-Jato no STF, que apura formação de quadrilha. Além disso, cada
um é alvo de um segundo inquérito. A PF apontou indícios de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro em pedido de doação de campanha em 2014
feito por Jucá ao dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa. Conforme
relatório da PF, doações de R$ 3 milhões, solicitadas aos filhos de Jucá
e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), podem se
configurar propina de um pacote de R$ 30 milhões acertado entre o
empreiteiro e o senador Edison Lobão (PMDB-MA).
PROPINA EM ANGRA 3
A PF sustenta que a propina
teria sido acertada a partir de contrato obtido pela UTC nas obras da
usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis. Jucá também aparece nas trocas
de mensagens dos executivos da OAS. Ele apresentou uma emenda a medida
provisória de interesse da empreiteira, de acordo com os torpedos.
Jucá e Raupp, também foram citados na delação do senador Delcídio
Amaral (sem partido-MS). Segundo Delcídio, propinas foram pagas a partir
das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte para o “grupo de José
Sarney, do qual fazem parte Edison Lobão, Silas Rondeau, Renan
Calheiros, Romero Jucá, Valdir Raupp e Jader Barbalho”. Delcídio fez
menção aos ex-ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha, aliados de
Temer. O senador afirmou que foi diretor de Gás e Energia da Petrobras
com apoio do PMDB da Câmara e do Senado, o que incluiu Padilha e
Moreira. (Colaborou Eduardo Bresciani)
INVESTIGADOS NEGAM QUE HAJA IRREGULARIDADES
O
ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves afirmou que as doações
recebidas por sua campanha foram legais. Já o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, negou ter recebido propina e disse que apresentou defesa
sobre o caso em que é réu, refutando as acusações em relação às contas
da Suíça. No caso da Carioca Engenharia, explicou que não há a
atribuição das nove contas a ele.
— Toda arrecadação da nossa campanha está declarada no TSE. E
assuntos do interesse do meu estado sempre tratei de forma institucional
— disse Alves.
— Desminto toda acusação de recebimento de vantagem indevida — afirmou Cunha.
Eliseu Padilha ressaltou que em 1999 era ministro dos Transportes e
que participou de uma reunião em que a indicação de Delcídio Amaral foi
debatida:
— Não fiz indicação nenhuma. Numa reunião do partido (PMDB), eu
estava casualmente lá, e o partido discutia se indicaria ou não para
diretor. Não foi assinado nada. Foi uma indicação do partido, não minha.
O senador Romero Jucá informou que as doações respeitam a legislação e
foram aprovadas. Ele nega que tenha recebido propina para incluir
emendas a medidas provisórias.
O senador Valdir Raupp disse que as doações foram legais. Sobre a
delação de Delcídio, informou que nunca fez indicações no setor
elétrico. Moreira Franco disse que apoiou o nome de Delcídio para uma
diretoria da Petrobras por ele ter sido um bom ministro de Minas e
Energia no governo Itamar Franco. Geddel Vieira Lima não foi localizado.
Em janeiro, disse ao GLOBO que considerava “natural” a proximidade com
Léo Pinheiro, por ele ser um “um grande empresário”.
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