Por interino
A frente da 30ª fase da Operação Lava
Jato que investiga propinas em contratos de navios-sondas e na compra da
refinaria de Pasadena (EUA) é mais um risco para integrantes da cúpula
do PMDB, entre eles o presidente afastado da Câmara dos Deputados
Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O alvo principal dessa apuração é Demarco Jorge
Epifânio, ex-executivo da Diretoria Internacional da Petrobrás, área
que era controlada pelo partido.
Demarco, como é conhecido, leva à
força-tarefa da Lava Jato a novas contas e offshores usadas por
operadores de propina no esquema de corrupção que era cota do PMDB na
Petrobrás.
A contratação dos navios sondas Vitória
10.000 e Petrobrás 10.000, por exemplo, em que a força-tarefa da
Procuradoria encontrou provas da existência de propinas de até US$ 30
milhões para agentes públicos sustentados pelo PMDB, é a origem das
investigações contra Cunha no Supremo Tribunal Federal (STF).
O operador de propinas Julio Gerin
Camargo afirmou em sua delação premiada que US$ 5 milhões desses
contratos foram para o presidente afastado da Câmara. Demarco, também
sereia um dos beneficiários dos pagamentos.
Renan. Outro delator
que apontou Demarco como parte do esquema de corrupção na Diretoria
Internacional foi o operador de propinas Fernando “Baiano” Soares. “Que
Demarco também tinha uma conta no exterior, pois certa vez o próprio
Demarco passou uma conta para o depoente (Fernando Baiano) realizar um
depósito, em uma reunião no escritório do Luís Moreira (ex-executivo da
estatal); Que por isto acredita que a conta seja dele, mas não sabe se
estava em nome dele ou de alguma pessoa de confiança; Que acredita que
tal conta seja na Suíça.”
Neste mesmo depoimento, Fernando Baiano
cita um pedido feito por Cerveró para doações de campanhas aos então
candidatos ao Senado do PMDB Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA),
e Delcídio Amaral, então do PT de Mato Grosso do Sul. As doações eram
em troca do apoio à sustentação daqueles executivos na Petrobrás.
“A partir dessa reunião Cerveró passou a contribuir com os políticos do PMDB indicados.”
Renan também é alvo de investigação no
STF, apontado como beneficiário de propinas da Petrobrás por outros
delatores. “Cerveró disse então ao depoente que os valores para campana,
solicitados pelos referidos políticos, deveria sair da sonda Petrobrás
10.000. Ficou estabelecido que seria repassado US$ 4 milhões para
aqueles políticos”, registra o termo de delação de Fernando Baiano.
Pasadena. Fernando Baiano e outros delatores revelaram que Demarco teria recebido pelo menos US$ 200 mil em propinas por Pasadena.
Agosthilde Mônaco, outro colaborador da
Lava Jato, afirmou que o valor destinado a ao executivo da Internacional
teria sido retirado do montante de US$ 1,8 milhão recebidos por ele ‘a
título de propina referente à aquisição da Refinaria Pasadena, e
entregues em espécie a Demarco’.
Epifânio também foi citado por Eduardo Musa, ex-gerente de Internacional da Petrobrás.
“Pelo teor dos depoimentos prestados
pelos colaboradores Fernando Soares, Eduardo Musa e Agosthilde Mônaco,
Demarco Epifânio teria participado do grupo que recebia vantagem
indevida decorrente dos contratos de fornecimento dos navios-sonda e
possivelmente da aquisição da Refinaria de Pasadena”, destacou o juiz
federal Sérgio Moro no despacho que autorizou realização de buscas na
residência do executivo, nesta terça.
Corrupção disseminada.
Deflagrada no mesmo dia em que o governo interino Michel Temer perde seu
primeiro ministro em decorrência dos efeitos da Lava Jato, a 30ª fase
recebeu o nome de Operação Vício em referência à prática “alastrada” de
corrupção em contratos públicos e à necessidade de “desintoxicação do
modo corrupto de contratar” descoberta na Petrobrás.
O procurador da República Roberson
Pozzobon, da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que a 30ª fase revela
como foi alastrada a corrupção na Petrobrás, descoberta inicialmente nas
obras de construção de refinarias e petroquímicas. Além do foco na
Diretoria Internacional, o principal frente é a de propinas em contratos
de empresas fornecedoras de tubulações para a estatal. Pelo menos R$ 40
milhões investigados em um esquema de corrupção que pode ter
beneficiado o ex-ministro José Dirceu – condenado a 23 anos de prisão na
semana passada.
Para os investigadores, a Operação Vício
atinge ao mesmo tempo os esquemas dos dois partidos de mando na
corrupção sistêmica descoberta na Petrobrás, PT e PMDB.
Fausto Macedo, Estadão
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