O governo de Cuba assume uma campanha internacional contra o governo de Michel Temer e, em carta enviada a dezenas de altos funcionários de entidades internacionais e diplomatas de todo o mundo, denuncia “energicamente o golpe de Estado parlamentário-judicial” contra Dilma Rousseff. O comunicado alerta aos diversos organismos sobre a mudança de política externa que ocorrerá no Brasil e a aproximação do Itamaraty aos “grandes centros do poder”.
Em um email enviado na manhã desta quinta-feira, 1º, para o mais alto escalão de entidades como a ONU, Unicef, Organização Mundial da Saúde, Organização Mundial do Comércio, Organização Internacional do Trabalho e dezenas de outras, o governo de Raul Castro alertou em inglês e espanhol que a cassação de Dilma foi um “ato de desacato à vontade soberana do povo”.
Se hoje é a Venezuela que teoricamente preside o Grupo Latino Americano (Grulac) nas organizações internacionais, a crise interna em Caracas tem transferido para Havana parte dessa campanha em apoio ao Brasil. Em maio, quando Dilma foi afastada temporariamente, Cuba já havia tomado uma posição similar.
Desta vez, a campanha passou a ser mais abrangente. Em um e-mail separado, o governo cubano também enviou à imprensa internacional o alerta.
Segundo Havana, a ex–presidente e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram “esforços por reformar o sistema político e ordenar o financiamento dos partidos e suas campanhas”. A carta ainda destaca o “apoio” de ambos nas “investigações contra a corrupção que foram abertas e à independência das instituições encarregadas de conduzí-las”.
Mas a carta deu especial ênfase às questões de política externa. “As forças que agora excercem o poder anunciaram medidas de privatização sobre as reservas de petróleo e cortes em programas sociais. Igualmente, anunciam uma política exterior que privilegia as relações com os grandes centros do poder internacional”, alerta Cuba.
Para Havana, a diplomacia do PT favoreceu a relação regional. “Durante esse período, o Brasil foi um ativo impulsor da integração latino-amricana”, indicou. “A derrota do Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA), a convocação da Cúpula da América Latina sobre Integração e Desenvolvimento e a criação UNASUR são acontecimentos importantes na história mais recente da região e demonstram o protagonismo desse país”, indicaram.
Usando termos ainda da Guerra Fria, outro destaque de Havana se refere à “projeção do Brasil em relação às nações do Terceiro Mundo, em especial na África”. O governo cubano também destaca a criação dos Brics, do desempenho do Brasil na ONU, na FAO e na OMC. Para a diplomacia cubana, esses são exemplos da “liderança internacional do Brasil”.
Havana ainda cita a atuação dos governos do PT em temas como a defesa da paz, desenvolvimento, meio ambiente e medidas contra a fome. “O que ocorreu no Brasil é mais uma expressão da ofensiva do imperialismo e oligarquía contra os governos revolucionários e progressistas da América Latina e Caribe, que ameaça a paz e a estabilidade das nações”, insistiu.
“Cuba ratifica sua solidariedade com a presidenta Dilma e o companheiro Lula, com o Partido dos Trabalhadores, e expressa sua confiança em que o povo brasileiro defenderá as conquistas sociais e irá se opôr com determinação às políticas neo-liberais e o despojo de seus recursos naturais”, concluiu.
Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário