Por: Ranier Bragon - Folha de S. Paulo
Grupos significativos do chamado “centrão” decidiram não participar
da tentativa de salvar o mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o que
reforça a tendência de que ele tenha o mandato cassado na votação
prevista para a noite de segunda (12).
O “centrão” formava, com o PMDB, a base de sustentação de Cunha, que
está afastado do mandato desde 5 de maio por ordem do Supremo Tribunal
Federal (STF).
Líderes de dez partidos políticos (PT, PSDB, PSB, DEM, PRB, PDT, PC
do B, PPS, PSOL e Rede), que reúnem 238 deputados, já haviam afirmado à Folha
que suas bancadas votarão em peso pela cassação de Cunha, apenas 19
votos a menos do que o mínimo exigido para a punição (257 dos 511 votos
possíveis).
Os maiores partidos do “centrão” são o PP (47 cadeiras), o PR (42), o
PSD (35), o PRB (22) e o PTB (18). O PRB já declarou apoio ao parecer
do Conselho de Ética pela cassação de Cunha.
A Folha apurou que PR e PSD caminham em sentido similar. Não haverá
decisão uniforme, mas a tendência é a de que a maior parte dos
parlamentares dessas siglas votem contra o ex-aliado.
O PSD do ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações) teve o apoio extraoficial de Cunha na disputa pela
presidência da Câmara, em julho, quando Rogério Rosso (DF) foi derrotado
por Rodrigo Maia (DEM-RJ). Entretanto, o partido já havia votado em
peso contra o peemedebista no recurso em que ele tentava anular, na
Comissão de Constituição e Justiça, seu processo de cassação.
O PR tem em suas fileiras alguns dos principais aliados de Cunha,
como João Carlos Bacelar (PR-BA) e Wellington Roberto (PB), mas grande
parte da legenda se distanciou do deputado afastado durante a disputa
pela presidência da Câmara.
No primeiro turno da eleição, esse grupo apoiou a candidatura de
Fernando Giacobo (PR-PR) e, no segundo turno, a de Rodrigo Maia.
A tendência é a de que haja votos pela cassação também no PP, PTB e
PMDB (a maior bancada da Casa, com 66 cadeiras), mas em menor escala –a
não ser que até segunda a percepção da cassação se consolide entre os
deputados, o que criaria uma onda contra o peemedebista.
A perspectiva de vitória ou derrota é um fator que tradicionalmente
influencia o voto dos parlamentares. É possível perceber isso na própria
tramitação do processo de cassação contra Cunha.
No Conselho de Ética, onde o resultado foi uma incógnita até o minuto
final, houve a aprovação do parecer pela cassação por estreita margem,
11 votos a 9.
Já na análise do recurso em que ele pedia a anulação do processo na
CCJ, os próprios aliados reconheciam a derrota com antecedência. Com
isso, o resultado foi largo –48 votos a 12 contra Cunha.
Entre deputados, há ainda o temor de que a ausência ou o voto favorável ao peemedebista os prejudique nas eleições de outubro.
Mesmo que vários deles não sejam candidatos, praticamente todos estão envolvidos na campanha de aliados.
Dos 18 líderes de bancadas ouvidos pela Folha durante esta semana, por exemplo, nenhum declarou voto favorável a Cunha.
OFENSIVA
Apesar do cenário desfavorável, Cunha e aliados mantêm a pressão para
evitar a cassação. A primeira movimentação desse grupo foi para
esvaziar a sessão. Ausências e abstenções contam como voto a favor de
Cunha.
Nos últimos dias, porém, aliados afirmam que vão tentar aprovar uma pena mais branda, a suspensão do mandato por seis meses.
Essa mudança não tem respaldo legal, diz a área técnica da Câmara.
Rodrigo Maia irá, então, rejeitar essas manobras, mas a palavra final
caberá ao plenário. Ou seja, para fazer valer essa tese, os aliados de
Cunha precisam comparecer à sessão em maior número do que os favoráveis à
cassação.
A votação de segunda, que começa às 19h, é aberta. O próprio Cunha poderá comparecer à sessão para se defender das acusações.
Se cassado, ele ficará inelegível até janeiro de 2027, quando terá 68 anos.
O peemedebista enfrenta o processo de cassação desde novembro do ano
passado, por ter omitido de seus colegas a existência de contas no
exterior vinculadas a ele.
Cunha também é réu em dois processos e alvo de outras investigações
no STF, sob a acusação ou suspeita de ser um dos principais integrantes
do esquema de corrupção na Petrobras.
Reprodução das informações da Folha de S. Paulo
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