Começaram a ser ouvidas nesta segunda (21) as primeiras testemunhas
da ação contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Justiça
Federal do Paraná.
A audiência foi marcada por bate-bocas entre a defesa de Lula e o
juiz Sergio Moro, que conduz o processo e tem sido acusado de
parcialidade pelos advogados do ex-mandatário.
Um dos defensores, José Roberto Batochio, chegou a afirmar que “o
juiz não é o dono do processo” e sugeriu que Moro queria “suprimir a
defesa” com suas atitudes.
“Eu imaginei que isso tivesse sido sepultado em 1945, e vejo que ressurge aqui, nesta região agrícola do nosso país”, afirmou.
O juiz rebateu: “A defesa está tumultuando a audiência, levantando questão de ordem atrás de questão de ordem. É inapropriado”.
Nos primeiros 30 minutos de audiência, enquanto o ex-senador Delcídio
do Amaral era ouvido, os advogados do ex-presidente interromperam as
perguntas por cinco vezes, argumentando que o Ministério Público tentava
induzir a testemunha ao “colocar palavras na sua boca”, ou pedindo que o
político se abstivesse de opiniões pessoais.
O ex-parlamentar, preso pela Operação Lava Jato e atual delator,
depôs como testemunha de acusação, e falava sobre o processo de
indicação política e de arrecadação de propinas em diretorias da
Petrobras.
Para ele, Lula tinha “conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão” da estatal.
Moro acolheu algumas das colocações e pediu que o Ministério Público
refizesse as questões. Mas, diante da insistência, acabou encerrando o
debate.
Para o juiz, as perguntas sobre o processo de indicação dos diretores da Petrobras eram “uma questão de contexto”.
“Mas qual é o contexto? Só existe na cabeça de vossa excelência. O
contexto, para nós, é a denúncia”, afirmou o advogado Juarez Cirino.
“Eu entendi a questão, está indeferido. Existe um contexto. Não é
possível que continuemos com essa audiência com a defesa adotando esse
comportamento inadequado”, rebateu Moro.
FIM DA AUDIÊNCIA
Mais adiante, os advogados questionaram o fato de Moro fazer
perguntas ao final da audiência, levantando novas questões que não
seriam confrontadas pela defesa.
O juiz afirmou que eram esclarecimentos sobre o depoimento, e que isso estava previsto em lei.
Batochio reclamou e afirmou que essa interpretação “aberra da Constituição e da lei processual penal”.
PEDIDO DE PRISÃO
Na semana passada, a defesa de Lula chegou a pedir
a prisão de Moro por abuso de autoridade. A queixa-crime contra o juiz
está sob análise da PGR (Procuradoria-Geral da República).
Na ação, Lula é réu sob acusação de corrupção e lavagem de dinheiro
na aquisição de um tríplex no Guarujá. Segundo o Ministério Público
Federal, os bens foram pagos com propina oriunda da Petrobras, em
contratos com a empreiteira OAS.
O ex-presidente nega e diz ser perseguido politicamente pela Lava Jato.
DEPOIMENTOS
Além de Delcídio, também foram ouvidos os executivos Eduardo Leite e
Dalton Avancini, da Camargo Corrêa, e Augusto Mendonça, do grupo Setal
—todos delatores.
Nenhum deles afirmou saber se o tríplex havia sido cedido e reformado para Lula com dinheiro oriundo de propina.
Também disseram nunca ter pago vantagens indevidas diretamente ao ex-presidente.
Eles reforçaram, porém, que havia um esquema de arrecadação de
propinas na Petrobras, e que o dinheiro se destinava aos partidos
responsáveis pelas diretorias.
“Ninguém soube dizer algo sobre a acusação. Todos foram unânimes em
dizer que não conhecem nenhuma vantagem indevida [ao ex-presidente],
nenhuma propriedade no Guarujá”, declarou o advogado de Lula, Cristiano
Zanin Martins. “Nenhuma testemunha confirmou a tese acusatória.”
Ao longo da semana, ainda serão ouvidos os ex-diretores da Petrobras
Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, o ex-deputado Pedro Corrêa e o
pecuarista e amigo de Lula José Carlos Bumlai, entre outros.
As audiências ocorrem na quarta (23) e na sexta (25).
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