O empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 na
carceragem da Polícia Federal no Paraná, afirmou em delação premiada à
Procuradoria-Geral da República, no âmbito da Operação Lava Jato, que a
empresa fez doações para o senador potiguar José Agripino Maia em 2014 a
pedido do então candidato a presidente Aécio Neves (PSDB), senador por
Minas Gerais. À época, Agripino, presidente nacional do Democratas desde
2011, era coordenador da campanha presidencial tucana.
Em seus
depoimentos, cujos sigilos foram levantados nesta semana, Marcelo
revelou que todos os políticos trabalham com dinheiro não contabilizado
em suas campanhas. “Todo mundo sabia que tinha caixa dois. […] Não
existe ninguém no Brasil eleito sem caixa dois. […] Esse crime eleitoral
todo mundo praticou”, afirmou o empreiteiro.
O empresário
detalhou aos procuradores, neste contexto, suas relações com Aécio Neves
e a influência do senador nos negócios da Odebrecht com Furnas,
subsidiária da Eletrobras para a qual o mineiro, que é apontado como
envolvido em esquema de desvio de verbas, indicou diretores. Na campanha
de 2014, segundo Marcelo, o contato com Aécio se intensificou.
De
acordo com Marcelo, na oportunidade, a Odebrecht fez doações oficiais
de maneira igualitária para as duas principais campanhas presidenciais,
de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio. As contribuições, que também
aconteceram via caixa dois, tinham o intuito de receber vantagens
ilícitas em contratos com empresas no futuro governo.
Às vésperas
do primeiro turno da eleição, o empreiteiro conta que foi procurado pelo
candidato do PSDB devido ao aumento da possibilidade de a petista
vencer a disputa já no primeiro turno. Segundo Marcelo, o tucano
“precisava de um fôlego”, ou seja, dinheiro a mais para a campanha. Aí é
que aparece a citação ao nome do senador José Agripino.
“[Aécio]
Pediu um encontro comigo. Eu falei ‘Aécio, é complicado, eu não posso
aparecer doando mais para você do que pra Dilma’. Ele também tinha
assumido compromisso de apoiar algumas candidaturas e coincidiu algumas
pessoas que a gente tinha relação, eu lembro, ele falou alguns nomes.
Agripino. Eu disse ‘pô Aécio, esse é um candidato que não tem nenhum
problema, então a gente apoia’”.
Odebrecht contou ter combinado
com o diretor da empreiteira em Minas, Sérgio Neves. “Olha Sérgio,
procura o Osvaldo e acerta o valor de 15 (milhões).”
José Agripino
foi um dos políticos potiguares incluídos na lista de pedidos de
abertura de inquérito feita pelo ministro Edson Fachin, do Supremo
Tribunal do Federal (STF), que tomou por base a delação de executivos da
Odebrecht. Posteriormente, contudo, o ministro do STF devolveu o pedido
de abertura de inquérito contra o senador para a Procuradoria-Geral da
República para que o órgão se manifeste sobre eventual extinção da
punibilidade.
OUTRAS CITAÇÕES NA LAVA JATO
O
senador José Agripino foi citado também durante delação do ex-diretor
da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Segundo o delator, que citou “relação
profissional cordial” com o potiguar, o presidente nacional do PSDB,
Aécio Neves, pediu R$ 1 milhão para Agripino como contrapartida por seu
apoio na eleição presidencial de 2014.
O pagamento teria sido
viabilizado pela área de operações estruturadas da empresa. Cláudio
citou ainda pagamentos feitos em 2010 a Agripino (que aparece nas
planilhas da empresa como “Pino”) e ao seu filho, o deputado federal
Felipe Maia (DEM), vulgo “Pininho”.
Em outra citação, desta vez em
delação premiada de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro,
subsidiária da Petrobras na área de gás natural, o senador José Agripino
aparece como um dos beneficiários de propina. Na oportunidade, o
delator afirmou que o deputado federal Felipe Maia também recebeu
recursos de origem ilícita. Machado não especificou, contudo, a quantia
distribuída para os políticos potiguares.
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