O PCdoB, o PDT e o PSOL, que manifestaram
apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula no julgamento do Tribunal
Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), afirmam que não vão aderir à
proposta do PT de uma “ampla” aliança de esquerda na eleição
presidencial deste ano. Apesar de defender o direito de Lula se
candidatar novamente ao Planalto, os dirigentes partidários ouvidos pelo
Estado disseram que não vão desistir das candidaturas próprias, o que
deve pulverizar o campo ideológico na disputa.
Ao insistir na
candidatura de Lula, a Executiva Nacional do PT aprovou resolução que
defende “uma ampla e sólida aliança” da esquerda em torno do líder
petista. O documento foi divulgado na quinta-feira passada, um dia
depois de a 8.ª Turma do TRF-4 confirmar a condenação por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro e ampliar a pena imposta a Lula para 12
anos e 1 mês de prisão. Com a condenação pelo colegiado, a tendência é
de que Lula – líder nas pesquisas de intenção de voto – seja enquadrado
na Lei da Ficha Limpa e fique inelegível.
O PT promete levar a
candidatura do ex-presidente até às últimas consequências, mas os
antigos aliados PCdoB e PDT não aceitam abrir mão das pré-candidaturas
presidenciais da deputada gaúcha Manuela D´Ávila e do ex-ministro Ciro
Gomes, respectivamente.
O PSOL convidou para ser candidato à
Presidência o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST),
Guilherme Boulos, nome ligado a Lula. Se aceitar, Boulos repetirá a
estratégia de voo solo que o PSOL adota desde sua fundação, em 2004,
fruto de uma dissidência da legenda petista.
“O PT é um partido
que sempre buscou hegemonia. Nunca tive a ilusão de que eles poderiam
apoiar o Ciro. Se não for o Lula, eles vão lançar outro candidato”,
disse Cid Gomes, ex-ministro da Educação no governo Dilma Rousseff e
irmão de Ciro. “O PT quer lançar uma frente contando que o candidato
seja deles. Tem sido a prática nos últimos anos”, afirmou o
vice-presidente do PDT e líder da bancada na Câmara, André Figueiredo
(CE).
Na avaliação de dirigentes desses partidos, a decisão
judicial na segunda instância da Operação Lava Jato piorou as condições
para Lula se candidatar sem questionamentos na Justiça Eleitoral. Com
isso, acreditam que o eleitor em busca de nomes de oposição ao governo
Temer tende a encontrar alternativas em outros partidos.
Bancadas.
Ao lançar um candidato próprio, essas siglas buscam, fora da órbita
petista e sem espaço no governo federal, manter suas bancadas na Câmara
dos Deputados, o que lhes garante acesso a recursos públicos.
“Nossa
pré-candidatura está consolidada. A Manuela vai expressar nossos pontos
de vista. Temos a estratégia de afirmar a identidade do PCdoB”, afirmou
o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), ex-ministro do Esporte nos
governos Lula e Dilma. “Torcemos para que Lula tenha o direito de
concorrer, mas, independentemente de ele ser candidato ou não, nós
teremos a Manuela”, disse o deputado.
PSOL e PDT planejam
oficializar seus pré-candidatos no início de março. Boulos tem até o dia
11 de março para responder ao convite do PSOL, mas o partido afirma que
terá um nome próprio, mesmo que o líder do MTST decida não entrar na
disputa. “Nossa mobilização pelo direito de Lula ser candidato não
redundará numa aliança eleitoral. Guardamos diferenças profundas
programáticas e de princípios com o PT”, disse o presidente nacional do
PSOL, Juliano Medeiros.
“A candidatura caminha celeremente para
ser a do Boulos. A tendência é ele se candidatar de qualquer forma. Uma
coisa foi a luta contra o impeachment e contra a condenação do Lula,
porque achamos que não havia provas. Outra coisa é termos um programa
político e ideológico alternativo”, afirmou o deputado Ivan Valente
(SP).
Ciro se recupera de uma cirurgia de septo nasal e deve ser
aclamado como futuro candidato do PDT em evento programado para o dia 8
de março. Ele tem intensificado a participação em eventos políticos,
como vem fazendo a deputada Manuela D´Ávila – que participou de encontro
com sindicalistas e políticos em Belo Horizonte (MG) na sexta-feira
passada e deve cumprir agenda em São Paulo após o carnaval.
Fora
do espectro de alianças imaginado pelo PT, a Rede já lançou a
pré-candidatura de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente no governo
Lula. Marina é apontada por pesquisas de intenção de voto como
potencial beneficiária da ausência do ex-presidente nas urnas, apesar de
manter distância do PT e ter sido adversária de Dilma nas duas últimas
eleições presidenciais, pelo PV e pelo PSB.
Marina e seu partido
não aderiram à defesa pública de Lula. Ao contrário, divulgaram uma nota
“exortando o avanço de todas as denúncias de corrupção apresentadas
pelo Ministério Público, sem nenhuma distinção partidária e ideológica”.
Fonte: Exame
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