O inquérito instaurado para apurar a morte da estudante Kamila da Silva Rodrigues, de 14 anos – que caiu de um ônibus escolar na zona rural de Cerro Corá,
município distante 180 quilômetros de Natal – fato ocorrido no dia 4
deste mês, apresenta uma informação importante: de acordo com a mais
recente vistoria realizada pelo Detran, o veículo não deveria estar
circulando. "Inapto", é o que diz o documento, ao apontar que a porta do
ônibus não estava funcionando e que o extintor de incêndio havia
vencido. A inspeção foi feita em março e tem validade até o final de
agosto.
O
G1 teve acesso ao resultado da vistoria e também ao próprio inquérito
policial. Neste último, em depoimento ao delegado Paulo Ferreira,
responsável pela investigação, o próprio motorista do ônibus confirma
que a vistoria já havia constatado a irregularidade na porta, que ela
"não estava travando", e que por isso o veículo não deveria estar
rodando.
Em
outros depoimentos, alunos que também estavam no ônibus disseram que
porta, inclusive, era presa com um arame, e que eram os próprios alunos
quem colocavam e tiravam o arame quando passavam por ela. Um dos
estudantes chegou a dizer que, em algumas viagens, a porta ficava o
tempo todo aberta.
Homicídio culposo de trânsito
Em
razão desta situação, uma vez comprovado que o ônibus não poderia estar
circulando, o delegado disse que o motorista deve ser responsabilizado.
E mais: "Também temos depoimentos que afirmam que a adolescente caiu
por causa de uma curva muito acentuada que o motorista fez com uma
velocidade incompatível", revelou o delegado.
Ainda
de acordo com Paulo Ferreira, apesar de a queda da estudante ter
acontecido em uma estrada carroçável na zona rural, e embora não
houvesse o indicativo de placas – deveria ter prevalecido o bom senso do
motorista.
Assim,
com todas essas situações esclarecidas e comprovadas, "o motorista deve
ser indiciado por homicídio culpo de trânsito (sem a intenção de
matar), cuja pena vai de 2 a 4 anos de prisão". Ainda há a possibilidade
de responsabilizarmos também quem permitiu que o motorista guiasse um
veículo que não deveria estar circulando, no caso, o secretário
municipal de transportes ou o gestor que tenha essa função", acrescentou
o delegado.
Paulo Ferreira disse que pretende concluir o inquérito até o dia 7 de junho.
O caso
Kamila
da Silva Rodrigues morreu depois de ser arremessada para fora de um
ônibus escolar na zona rural de Cerro Corá. Ela voltava da escola para
casa quando aconteceu o acidente. Foi por volta das 18h do dia 4 de
maio, na comunidade Sítio Baixa da Floresta. Segundo relatório da
Polícia Militar, a estudante caiu depois que o veículo fez uma curva
fechada.
O
ônibus tem capacidade para 60 passageiros, mas não estava lotado. Ao
perder o equilíbrio dentro do veículo, Kamila caiu sobre a porta, que se
abriu. A porta, de acordo com os alunos, era fechada com um pedaço de
arame. A estudante ainda chegou a ser socorrida para o hospital da
região, mas não resistiu aos ferimentos. Foi o motorista quem chamou o
socorro médico, mas ele saiu do local do acidente com medo de sofrer
agressão. Revoltados, moradores da região depredaram o ônibus.
O veículo ainda vai passar por perícia técnica.
G1/RN
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