Reprodução / BLOG DA NATUZA NERY
O coronel reformado da Polícia
Militar João Baptista Lima Filho preso nesta quinta-feira, 21, pela
Operação Descontaminação, tentou esconder celular após a chegada da
Polícia Federal a sua casa em São Paulo. O coronel Lima disse aos
agentes que estava passando mal e sentou no sofá da sala de sua
residência. Quando ele se levantou, a PF encontrou os aparelhos embaixo
de uma das almofadas do sofá.
Coronel Lima é amigo do ex-presidente Michel Temer (MDB) há mais de 40
anos. A Descontaminação, desdobramento da Lava Jato, afirma que o
militar reformado da Polícia Militar de São Paulo é um dos operadores
financeiros do emedebista. Ambos foram presos.
O juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Criminal Federal do Rio, mandou
custodiar por tempo indeterminado também a mulher de Lima, Maria Rita
Fratezi, o ex-ministro Moreira Franco (Minas e Energia) e os empresários
Carlos Alberto Costa, Carlos Alberto Costa Filho, Vanderlei de Natale e
Carlos Alberto Montenegro Gallo. O juiz ainda decretou as custódias
temporárias de Rodrigo Castro Alves Neves e Carlos Jorge Zimmermann.
Até
as 18h, a PF já havia prendido nove dos dez alvos da Descontaminação.
Somente Carlos Alberto Montenegro Gallo ainda não havia sido capturado.
Ele estava em negociação para apresentação.
O magistrado ordenou
busca e apreensão nos endereços desses investigados, assim como da filha
do ex-presidente Maristela Temer, do almirante Othon Luiz Pinheiro da
Silva, de Ana Cristina da Silva Toniolo e de Nara de Deus Vieira. Também
foram realizadas buscas nas empresas vinculadas aos investigados.
A
ação que prendeu Temer e seus aliados é decorrente da Operação
Radioatividade, que mirou um esquema de cartel, corrupção ativa e
passiva, lavagem de capitais e fraudes à licitação que atuou na
construção da usina nuclear de Angra 3.
A nova investigação apura
pagamentos ilícitos feitos por determinação do empreiteiro José Antunes
Sobrinho, ligado à Engevix, para "o grupo criminoso liderado por Michel
Temer, bem como de possíveis desvios de recursos da Eletronuclear para
empresas indicadas pelo referido grupo".
A Lava Jato identificou
um "sofisticado esquema criminoso para pagamento de propina na
contratação das empresas Argeplan, AF Consult Ltd e Engevix para a
execução do contrato de projeto de engenharia eletromecânico 01, da
usina nuclear de Angra 3".
O Ministério Público Federal afirmou
que a Argeplan, de coronel Lima, "participou do consórcio da AF Consult
LTD, vencedor da licitação para a obra da Usina Nuclear de Angra 3,
apenas para repassar valores a Michel Temer".
Segundo a
Procuradoria, a AF Consult do Brasil e a Argeplan não tinham pessoal e
expertise suficientes para a realização dos serviços, e, por isso, houve
a subcontratação da Engevix. No curso do contrato, conforme a
investigação, coronel Lima solicitou ao sócio da empresa Engevix o
pagamento de propina, em benefício de Michel Temer.
A Lava Jato
destaca que a propina foi paga no final de 2014 com transferências
totalizando R$ 1,91 milhão da empresa da Alumi Publicidades para a
empresa PDA Projeto e Direção Arquitetônica, controlada pelo coronel
Lima.
Para justificar as transferências de valores foram simulados
contratos de prestação de serviços da empresa PDA para a empresa Alumi.
O empresário que pagou a propina afirma ter prestado contas de tal pagamento para o coronel Lima e para Moreira Franco.
As
investigações apontaram que os pagamentos feitos à empresa AF Consult
do Brasil ensejaram o desvio de R$ 10,859 milhões, "tendo em vista que a
referida empresa não possuía capacidade técnica, nem pessoal para a
prestação dos serviços para os quais foi contratada".
De acordo
com a Lava Jato, o esquema "praticou diversos crimes envolvendo variados
órgãos públicos e empresas estatais, tendo sido prometido, pago ou
desviado para o grupo mais de R$ 1,8 bilhão".
A investigação
aponta que diversas pessoas físicas e jurídicas usadas de maneira
interposta na rede de lavagem de ativos de Michel Temer continuam
recebendo e movimentando valores ilícitos, além de permanecerem
ocultando valores, inclusive no exterior.
Os procuradores afirmam
que "quase todos os atos comprados por meio de propina continuam em
vigência e muitos dos valores prometidos como propina seguem pendentes
de pagamento ao longo dos próximos anos".
Segundo a força-tarefa,
as apurações também indicaram uma espécie de braço da organização,
especializado em atos de contrainteligência, a fim de dificultar as
investigações, tais como o monitoramento das investigações e dos
investigadores, a combinação de versões entre os investigados e,
inclusive, seus subordinados, e a produção de documentos forjados para
despistar o estado atual das investigações.
O Ministério Público Federal requereu a prisão preventiva de alguns
dos investigados, pois, todos esses fatos somados apontam para a
existência de uma organização criminosa em plena operação, envolvida em
atos concretos de clara gravidade.
Defesas
O
advogado Maurício Silva Leite, defensor de João Baptista Lima Filho,
declarou estar perplexo com a prisão decretada. Segundo o advogado, "a
própria Procuradoria-Geral da República manifestou-se em relação aos
mesmos fatos e concluiu que não havia elementos para a prisão do meu
cliente. Surpreendentemente, 2 meses depois, contrariando o entendimento
da PGR, a prisão é decretada pela 1ª instância, sem a existência de
nenhum fato novo".
Em nota, o criminalista Antonio Claudio Mariz
de Oliveira afirmou que "a decretação da prisão preventiva de Michel
Temer surpreendeu o mundo jurídico e a sociedade brasileira com certeza
tendo em vista a sua flagrante desnecessidade. Não se tem conhecimento
de nenhum fato que autorizasse essa medida de força uma vez que Michel
Temer, desde que saiu da Presidência está, como sempre esteve, pronto a
responder a qualquer intimação da Justiça ou da polícia, não tendo sido,
no entanto, procurado por nenhuma autoridade policial ou judiciária."
"O
presidente estava levando uma vida de inteiro conhecimento público,
diariamente em seu escritório e em sua casa à noite. Não estava
programando nenhuma viagem, estando, portanto, isento de qualquer medida
que cerceasse a sua liberdade. Por tais razões sua prisão nos parece
absolutamente desnecessária", afirmou o criminalista.
O advogado Eduardo Carnelós, que defende Michel Temer, afirmou que a prisão do ex-presidente "é uma barbaridade".
"A
prisão do ex-Presidente Michel Temer, que se deu hoje, constitui mais
um, e dos mais graves!, atentados ao Estado Democrático e de Direito no
Brasil.
Os fatos objeto da investigação foram relatados por
delator, e remontam ao longínquo 1° semestre de 2014. Dos termos da
própria decisão que determinou a prisão, extrai-se a inexistência de
nenhum elemento de prova comprobatório da palavra do delator, sendo
certo que este próprio nada apresentou que pudesse autorizar a
ingerência de Temer naqueles fatos.
Aliás, tais fatos são também objeto de requerimento feito pela
Procuradora-Geral da República ao STF, e o deferimento dele pelo
Ministro Roberto Barroso, para determinar instauração de inquérito para
apurá-los, é objeto de agravo interposto pela Defesa, o qual ainda não
foi julgado pelo Supremo.
Resta evidente a total falta de
fundamento para a prisão decretada, a qual serve apenas à exibição do
ex-Presidente como troféu aos que, a pretexto de combater a corrupção,
escanecem das regras básicas inscritas na Constituição da República e na
legislação ordinária.
O Poder Judiciário, contudo, por suas instâncias recursais, haverá de, novamente, rechaçar tamanho acinte".
Nota
do advogado Antônio Sérgio Moraes Pitombo, que defende Moreira Franco,
afirma que "a defesa de Wellington Moreira Franco vem manifestar
inconformidade com o decreto de prisão cautelar. Afinal, ele encontra-se
em lugar sabido, manifestou estar à disposição nas investigações em
curso, prestou depoimentos e se defendeu por escrito quando necessário.
Causa estranheza o decreto de prisão vir de juiz de direito cuja
competência não se encontra ainda firmada, em procedimento desconhecido
até aqui."
Após a decretação da prisão de Vanderlei De Natale, seu
advogado Fernando José da Costa vem a público afirmar que "se trata de
uma prisão ilegal, que não vincula Vanderlei aos fatos apurados no Rio
de Janeiro. Sua empresa está sediada em São Paulo e jamais prestou
serviços para a Eletronuclear, objeto da presente investigação."
O MDB, por meio de nota, "lamenta a postura açodada da Justiça à
revelia do andamento de um inquérito em que foi demonstrado que não há
irregularidade por parte do ex-presidente da República, Michel Temer e
do ex-ministro Moreira Franco. O MDB espera que a Justiça restabeleça as
liberdades individuais, a presunção de inocência, o direito ao
contraditório e o direito de defesa".
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