quinta-feira, 25 de julho de 2019

Com privatização da BR, mercado espera preços mais competitivos


Um fato relevante publicado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite da última terça-feira (23) anunciava o início de uma nova etapa na trajetória da BR Distribuidora, subsidiária de distribuição e venda de combustíveis e lubrificantes da Petrobras SA. A venda de 30% de pouco mais de dois terços das ações representa a privati-zação da empresa, que agora tem 58,7% de suas ações pulverizadas no mercado.

Mas quais efeitos o consumidor final deve sentir a partir da operação? Na avaliação do consultor na área de Petróleo e Gás Bruno Iughetti, a mudança na composição acionária deve resultar em uma otimização no setor, e isso também significa preços mais competitivos.

"A Petrobras vai ter que ser uma empresa mais competitiva e isso vai refletir nos preços finais de produtos comercializados. Hoje, há uma concentração concorrencial nas mãos da companhia e, evidentemente a venda deixará o mercado mais equilibrado e mais voltado à busca de eficiência. A BR vai ficar mais competitiva e tudo isso vai refletir nos preços finais dos produtos comercializados", explica Iughetti.


O consultor na área de Petróleo e Gás destaca que a operação faz parte de uma programação de desinvestimentos da companhia e vê como positiva a retirada do setor de distribuição e revenda.

"A companhia tem que manter o seu foco na área de exploração e produção de petróleo, principalmente em relação ao Pré-Sal. Essa movimentação faz parte de um plano de desinvestimento da companhia em atividades que não são sua verdadeira vocação, como é o caso da distribuição e revenda", detalha Bruno Iughetti.

Já o consultor internacional em energia Expedito Parente Junior pondera que alguns outros pontos também devem ser levados em consideração. Ele ressalta que, de fato, quando o número de players em um determinado setor cresce, a expectativa de uma competição ainda maior acompanha o movimento.

Entretanto, ele destaca que já não existia mais um monopólio da BR. "A operação não reestrutura o setor. O elo de distribuição já era diverso, com várias redes distribuidoras de capital privado, inclusive regionais e locais", frisa.

De acordo com os dados sobre abastecimento de combustíveis mais recentes da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a BR Distribuidora detém 17,6% de participação de mercado no Brasil.

A maior parte dos postos de combustíveis no País é de bandeira branca (44,1%). Próximo à fatia da BR, aparecem Ipiranga (13,9%); Raízen (Shell e Cosan), com 11,4% e outras (8,2%). Aparecem, em seguida, Alesat (2,8%); Sabbá (1%) e SP (1%).

"Eu não vejo grandes modificações, mas uma expectativa maior de mais investimentos, o que acaba trazendo algum benefício, especialmente em qualidade do serviço prestado ao consumidor. A qualidade do produto e os preços são definidos muito mais pelo refino", pondera Expedito Parente Junior.

Refino

Assim, conforme o consultor, uma mudança no elo de refino da companhia representaria uma reconfiguração de mercado mais visível. "Se isso fosse no refino, aí sim haveria uma mudança estrutural, porque hoje praticamente 100% do refino é da Petrobras. Há um monopólio e isso permite ao Governo controlar os preços", diz Parente Junior.

Ele lembra que isso, por um lado, representa uma vantagem. Como estatal e com o controle majoritário do Governo, a Petrobras fica menos exposta às grandes flutuações de preços do petróleo no mercado internacional. Por outro lado, há uma desvantagem.

"É natural que um setor monopolizado tenha menor capacidade de investimento e menor eficiência em relação a um setor com grande competitividade entre os players", explica Expedito Parente Junior.

O assessor econômico da presidência do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos-CE), Antônio José Costa, não vê grandes impactos da medida a curto e médio prazo, mas visualiza uma concorrência mais acirrada entre as empresas distribuidoras no futuro.

"A curto e médio prazo, não vejo nenhuma repercussão. Mas a longo prazo, o varejo deve presenciar uma concorrência mais acirrada. A empresa deve passar a ter mais condições de concorrer com grandes empresas nacionais e com multinacionais. O consumidor deve sentir a melhora na prestação de serviços prestados por essas empresas e também nos preços", analisa.

Mercado

A disponibilização das ações da BR Distribuidora vai colocar nos cofres da Petrobras R$ 8,6 bilhões. A petroleira detinha 71,25% do capital da empresa antes dessa operação. A estatal fechou a venda de quase 350 milhões de ações por R$ 24,50 cada uma. Com isso, agora a Petrobras SA passou a deter 41,25% das ações da BR distribuidora.

Bolsa

O assessor de investimentos Thomaz Bianchi explica que o mercado se mantém neutro diante da operação e que não há grandes impactos em termos de negociações na Bolsa brasileira. Sobre o valor das ações, ele avalia que não representa uma "extrema desvalorização" ante o preço que os papéis valem.

"É um preço muito justo, é tanto que as cartas da recomendação da XP Investimentos e Eleven Financial são neutras, porque não há um prêmio tão interessante em relação a isso. Não é um valor injusto. Não é um setor monopolizado", explica Bianchi.

De acordo com o relatório da XP, o preço-alvo (potencial de valorização) é de R$ 30. Em um cenário mais negativo, as ações podem chegar a R$ 24, o que representaria a perda de R$ 0,50 por ação.

Mercado

Desde que abriu capital em dezembro de 2017, a BR distribuidora se valorizou 80%, indo de R$ 19,9 bilhões a R$ 31,5 bilhões em valor de mercado. No processo, a BR superou a concorrente Ultrapar, da rede de postos Ipiranga. Mas a ultrapassagem se deveu mais a perda de valor da concorrente do que à própria valorização.

Na época do IPO (Oferta Inicial de Ações) da BR Distribuidora, a Ultrapar valia R$ 40,7 bilhões. Hoje, a empresa tem capitalização de mercado de R$ 22,7 bilhões. Segundo dados da Economatica, a Ultrapar supera a BR em valor de caixa, com R$ 6,4 bilhões versus R$ 3,85 bilhões. O total da dívida da primeira, no entanto, é quase o triplo do que o total da segunda, com R$ 16,5 bilhões contra R$ 6,35 bilhões.

A venda de ações da Petrobras foi um dos vetores da alavancagem da empresa. Desde que a operação foi anunciada, em abril, a BR se valorizou 18,88%. Ontem, as ações tocaram sua máxima histórica, a R$ 27,63, e fechou a R$ 26,32, alta de 1,19%.

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