A presença do presidente Jair Bolsonaro na manifestação em frente ao Quartel General do Exército contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde deste domingo, provocou um “enorme desconforto” na cúpula militar. Ao Estado,
oficiais-generais destacaram que não se cansam de repetir que as Forças
Armadas são instituições permanentes, que servem ao Estado Brasileiro e
não ao governo.
Eles observaram que a presença de Bolsonaro em frente ao QG teve
outra gravidade simbólica. Pela Constituição, o presidente da República é
também o comandante em chefe das Forças Armadas. Mesmo com cuidados
para evitar críticas diretas, os generais ressaltaram que o gesto foi
uma “provocação”, “desnecessária” e “fora de hora”.
À reportagem, os generais não esconderam o mal-estar. Afinal,
Bolsonaro os deixou em “saia justa”. Chefes militares não podem se
pronunciar. O Estado ouviu sete oficiais-generais,
sendo cinco do Exército, um da Aeronáutica e um da Marinha. Eles
lembraram que o País tem uma “verdadeira guerra” a ser vencida e que não
é possível gastar energia com alvos diferentes. Houve quem observasse
que o presidente enfrenta “resistências”, inclusive do Congresso, mas
todos avaliam que a presença dele na manifestação provocou ainda mais a
ira dos representantes do Executivo e do Judiciário.
Por conta da presença do presidente na manifestação, houve
necessidade de reforço da guarda do QG. Isso acabou passando uma imagem
que também foi considerada ruim pelos generais. Os soldados deslocados
para a guarda estavam de plantão e tiveram de sair às pressas para o
local da manifestação e, de certa maneira, proteger Bolsonaro da
multidão.
No momento, os militares da ativa do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica, sob a batuta do Ministério da Defesa, tentam focar seus
trabalhos no combate à pandemia do novo coronavírus, sem emitir qualquer
posicionamento político sobre as polêmicas.
A atitude do presidente, ainda segundo a análise de um dos militares,
passa um sinal trocado para a sociedade. As avaliações tiveram uma dose
de desabafo por parte dos generais. Eles ressaltaram passam o tempo
todo tentando separar o governo do Exército, já que há sempre quem
lembre da presença de militares em cargos de ministro no Palácio do
Planalto.
Um general contemporizou lembrando que “não é a primeira vez” que
acontece uma manifestação em frente a um quartel. Outro emendou que “as
manifestações pacíficas e ordeiras são expressões legítimas da
democracia”. Um terceiro lembrou que podem pegar as gravações que não
vão ver o presidente atacando ninguém, mas falando de liberdade e de
emprego. O clima, porém, era de desconforto.
ESTADÃO CONTEÚDO
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