Responsável pela comunicação social da Presidência da República, a Secom
publicou neste final de semana em suas redes sociais um vídeo de
divulgação de ações federais no combate à pandemia e usou, em
determinado ponto, uma expressão que remete à famosa inscrição nazista
na entrada do campo de concentração de Auschwitz (Polônia): "Arbeit
macht frei" ("O trabalho liberta").
A peça da Secom, que foi compartilhada pelo presidente Jair
bolsonaro (sem partido), afirma, em determinado ponto: "O trabalho, a
união e a verdade nos libertará [sic]".
No texto em que apresenta o
vídeo, o perfil da Secom no Twitter faz uma leve variação, sem o erro
de concordância: "Parte da imprensa insiste em virar as costas aos
fatos, ao Brasil e aos brasileiros. Mas o @govbr, por determinação de
seu chefe, seguirá trabalhando para SALVAR VIDAS e preservar o emprego e
a dignidade dos brasileiros. O trabalho, a união e a verdade libertarão
o Brasil."
O secretário Fabio Wajngarten reagiu ao caso em uma rede social. "É
impressionante: toda medida do governo é deformada para se encaixar em
narrativas. Na campanha, faziam suásticas fakes; agora, se utilizam de
analfabetismo funcional para interpretar errado um texto e associar o
governo ao nazismo, sendo que eu, chefe da Secom, sou judeu!"
"Abomino
esse tipo de ilação canalha, sobretudo nos tempos difíceis pelos quais
estamos passando. Esquecem dos ensinamentos judaicos recebidos por mim e
por boa parte da minha equipe, e da tradição de trabalho do povo judeu
de lutar por sua liberdade econômica."
E completou: "Acusar
injustamente de nazifascismo tira o peso do termo. Se todos são
nazifascistas, ninguém é, o que muito interessa aos criminosos, que
passam a ser vistos como pessoas comuns.É a isso que se prestam alguns
políticos e veículos da mídia na busca por holofotes a qualquer preço".
No mês passado o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo,
foi cobrado a se retratar por líderes judaicos por ter comparado o
isolamento social para conter o coronavírus aos campos de concentração
nazistas que mataram milhões de judeus. O ministro afirmou ter havido
uma leitura distorcida de sua manifestação.
Em janeiro, o
secretário especial de Cultura Roberto Alvim foi demitido após divulgar
um vídeo em que parafraseava um discurso de Joseph Goebbels, ministro da
Propaganda de Adolf Hitler, além de usar outras simbologias nazistas.
O
vídeo divulgado pela Secom neste fim de semana surgiu em meio às
críticas de falta de empatia do presidente com a quantidade de
brasileiros mortos em decorrência do novo coronavírus.
A
propaganda apresenta, em ordem cronológica, uma sequência de medidas
implementadas pelo governo e declarações do presidente e de seus
ministros, como Paulo Guedes (Economia), Nelson Teich (Saúde) e Ônix
Lorenzoni (Cidadania).
Algumas informações, no entanto, foram apresentadas fora de contexto e por isso oferecem uma leitura distorcida dos fatos.
Em
determinado momento, por exemplo, afirma-se que o Brasil tem uma das
menores taxas de letalidade por milhão de habitantes, entre as maiores
economias do mundo. A informação se refere ao dia 23 de abril.
O Brasil apresenta de fato um índice menor. No entanto, seria preciso
levar em consideração que os países encontram-se em momentos diferentes
do combate à pandemia. O surto atingiu antes a China –epicentro da
crise sanitária– e os países europeus. Alguns desses agora vêm
apresentando crescimento menor no número de mortos.
O Brasil
aparenta ainda estar distante do pico da pandemia, que muitos
especialistas acreditam que vá acontecer entre os meses de junho, julho e
agosto. Como a Folha mostrou neste sábado, o número oficial de mortes
no país cresce atualmente a um índice de 6,5%, muito superior aos
europeus e apenas abaixo dos Estados Unidos.
O material divulgado
pela Secretaria de Comunicação também ressalta frases, como a dita por
Bolsonaro, afirmando que tem "o Brasil a zelar" e em outra, no qual
ressalta que "estamos juntos na defesa da vida do povo brasileiro, na
defesa dos empregos e também buscando levar tranquilidade e paz para o
nosso povo".
Também é lembrada frase de Paulo Guedes, na qual
afirma que "o presidente desde o início disse que nenhum brasileiro ia
ficar para trás".
Bolsonaro vem sendo criticado por suas declarações e comportamento
polêmicos em meio à pandemia do novo coronavírus. No sábado (9),
quando o Brasil registrou 10 mil mortes em decorrência da Covid-19, o
presidente havia marcado um churrasco, que acabou cancelado. Bolsonaro,
no entanto, saiu para um passeio em uma moto aquática.
*Com informações da FOLHAPRESS
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