Relatório da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake
News aponta que campanhas publicitárias do governo federal foram
veiculadas em canais com “conteúdo inadequado” na internet.
As
publicidades foram veiculadas por meio de ferramentas do Google. O
anunciante não sabe necessariamente onde as mensagens serão exibidas,
mas pode, por exemplo, vetar determinados sites.
A exibição da publicidade remunera o canal onde ela é veiculada. O documento, porém, não aponta valores. Leia a íntegra do relatório (122 KB), datado de 23 de abril.
De
acordo com o relatório, elaborado por consultores legislativos, de 6 de
junho a 13 de julho de 2019, anúncios do governo federal foram exibidos
2.065.479 vezes nesses canais com “conteúdo inadequado”. O total de exibições foi de 47.188.047 no período.
O documento dá números discriminados por tipo de conteúdo veiculado pelos canais que estamparam peças publicitárias. “Impressão”, no jargão da publicidade digital, é quantas vezes algum usuário viu a peça analisada.
- divulga conteúdo sexual – 4 canais, 27 impressões;
- divulga conteúdo que desrespeita direitos autorais – 22 canais, 477.495 impressões;
- canais que desrespeitam regras do Youtube – 741 canais, 240.407;
- promove de jogos de azar ou ilegais – 12 canais, 657.905 impressões;
- divulga notícias falsas – 47 canais, 653.378 impressões;
- oferece investimentos ilegais – 7 canais, 4.092 impressões;
- promove pessoalmente autoridades – 5 canais, 5.222 impressões;
- dono é titular de cargo eletivo – 5 canais, 26.953 impressões.
Entre os canais identificados como inadequados pelo relatório está 1 site que divulga resultados do jogo do bicho.
Também
houve veiculação de publicidade no canal Terça Livre TV, no Youtube. O
dono é Allan dos Santos, apoiador de Bolsonaro. O documento aponta que
ele disse, em sessão da CPMI das Fake News, que não recebia dinheiro da
Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República).
Os
autores do documento dizem que o uso da plataforma Adsense, do Google,
para distribuir peças de publicidade compromete a transparência do
processo:
“Ao contrário do que ocorre nas outras modalidades
de publicidade, há pouco controle sobre os reais fornecedores do espaço
publicitário, já que o sistema da SECOM identifica todos os anúncios
publicados na rubrica “Google Adsense”, sem identificação dos veículos
anunciantes. Além disso, é muito difícil ou mesmo impossível identificar
os proprietários da maior parte dos canais que recebem anúncios do
Governo Federal por meio do Google Adsense, algo que põe em risco a
avaliação do cumprimento dos requisitos legais necessários para que uma
entidade se habilite como fornecedor de um produto ou um serviço ao
Poder Público.”
Os consultores responsáveis pela elaboração
do relatório contam que o governo federal demorou para fornecer os
dados. Eles solicitaram por meio da Lei de Acesso à Informação em 11 de
novembro de 2019.
Os dados foram negados em 1ª e 2ª instância. Só
em 27 de fevereiro de 2020 teria vindo decisão da CGU (Controladoria
Geral da União) ordenando que a Secom fornecesse os dados.
O
pedido era das informações sobre o período de 1º.jan.2019 até
10.nov.2019, mas foram recebidos dados referentes apenas ao período de 6
de junho a 13 de julho de 2019.
O documento também lista os principais meios que foram usados para veicular propaganda oficial na internet:
- sites – 4.018 canais, 4.418653 impressões;
- aplicativos de celular – 13.704 canais, 27.137.839 impressões;
- canais no Youtube – 47.811 canais, 15.631.555 impressões.
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