A atração de investimentos para a implantação de parques eólicos no
Rio Grande do Norte, iniciada na segunda metade da década passada com a
montagem do primeiro parque aerogerador no município de Rio do Fogo,
aconteceu sem que nenhum cidadão potiguar — ligado ao governo ou à
iniciativa privada — tenha movido um dedo sequer para que isso
acontecesse.
- Não houve, assim, o menor esforço dos formuladores das políticas de
desenvolvimento estadual no sentido de estimular a exploração desse novo
filão de oportunidades econômicas que caiu de mão beijada em nosso
meio, a não ser numa etapa bem posterior, quando já eram numerosos os
grupos investidores nacionais e estrangeiros demonstrando interesse e se
mobilizando para arrendar áreas rurais no RN com vistas à instalação de
usinas eólicas.
- Para ser mais objetivo, eu diria até que o Estado foi, na verdade,
surpreendido pelas notícias que davam conta da existência de estudos
científicos demonstrando que boa parte do território potiguar estava
incluída no mapa eólico mundial como alguns dos locais mais favoráveis à
construção de parques geradores de energia elétrica a partir da força
dos ventos, tendo em vista ser favorecida por correntes contínuas de ar
em velocidade estável durante o ano inteiro e sem ser afetada por
furações, tornados e outros fenômenos meteorológicos capazes de
prejudicar a atividade.
- Com o Brasil atingido pelo risco de sofrer novos “apagões”, a exemplo
dos ocorridos no final da gestão Fernando Henrique, ou em 2008, na
gestão Lula, e sem que o governo federal pudesse continuar priorizando a
construção de mais hidrelétricas para aumentar a oferta energética (uma
vez que está é uma solução caríssima, que sempre afeta profundamente o
meio-ambiente e cria problemas sociais de grande repercussão), de
repente passaram a ser vistas como alternativas emergenciais os
investimentos em novas usinas termelétricas.
- Isto porém, segundo a área técnica, não seria suficiente para livrar o
país de novos “apagões”, caso a economia voltasse a obter taxas anuais
de crescimento econômico compatíveis com as demais nações em
desenvolvimento.
- Foi então que começou a tomar corpo a ideia de que o país precisava
estimular a exploração de fontes energéticas alternativas e renováveis,
como a eólica e a solar, que já vinham sendo aproveitadas com sucesso em
vários países europeus, asiáticos e nos Estados Unidos, com a vantagem
de que haveria inúmeros grupos de investidores internacionais dispostos a
desenvolver projetos em nosso território.
- No final da década passada, finalmente, o governo federal tomou a
decisão de promover os primeiros leilões de compra de energia oriunda de
fontes alternativas, ocasião em que o Rio Grande do Norte,
surpreendentemente, despontou como o Estado brasileiro que
- Segundo o secretário de Energia e Assuntos Internacionais do
Governo do RN, na época, Jean-Paul Prates (que hoje dirige em Natal o
Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, uma instituição
privada que se dedica a estudos, desenvolvimento de projetos e serviços
de consultoria), foi nessa ocasião que, pela primeira vez, o Poder
Público local passou a dar atenção ao potencial energético do Estado e
ao que isso representava para a nossa economia, em termos de atração de
investimentos.
- Graças a um pequeno esforço governamental, complementado por algumas
ações complementares da Federação das Indústrias do RN (através do
CT-Gás-ER – Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis), que
passou a promover encontros e seminários com pessoal técnico, acadêmico e
da área empresarial sobre o nosso fantástico potencial eólico (estimado
em mais do que uma usina hidrelétrica de Itaipu), também no segundo
leilão de compra de energia promovido pelo Governo Federal, em 2010, o
Rio Grande do Norte voltou a figurar com destaque em número de projetos
aprovados.
- E foi assim que começou a corrida pela implantação dos parques
eólicos, que já ultrapassam uma centena no interior do Estado e
representam volume de investimentos superior a uma dezena de bilhões de
reais.
- Acontece que, enquanto os investidores privados vão dando ritmo
acelerado à construção dos aerogeradores, em sua maioria com previsão de
entrar em operação a partir deste final de ano, o Governo Federal –
através da Chesf (Cia. Hidrelétrica do São Francisco), estatal que
atualmente gera e centraliza a transmissão de praticamente toda a
energia que abastece os Estados nordestinos – ficou incumbido de
construir as linhas transmissoras por onde a energia a ser gerada pelos
parques eólicos será conduzida até chegar aos consumidores da região e
do país.
- E a Chesf, até agora, não cumpriu sua parte nem mostra condições de
cumpri-la nos prazos estabelecidos, sob as mais diversas alegações,
entre elas a de que não está conseguindo obter, para tanto, as licenças
ambientais dos governos estaduais e do Ibama.
- Com isso, o RN – assim como outros Estados do Nordeste onde estão
sendo instalados parques eólicos – corre o sério risco de parar de
atrair novos e maiores projetos nessa área, bem como de poder perder
alguns dos empreendimentos já conquistados, tendo em vista que várias
empresas já pensam em transferir seus investimentos daqui para o Estado
do Maranhão, onde já existem linhas de transmissão em condições de uso e
à disposição dos investidores em parques eólicos.
- Agora, o que se vê na área governamental e na classe política
norte-rio-grandense é, outra vez, uma mobilização improvisada e
apressada, no sentido de se correr atrás do possível prejuízo que está
posto.
- O governo Rosalba Ciarlini, que não dedicou nos seus primeiros dois
anos a mínima atenção ao assunto energia eólica – chegando inclusive a
determinar a extinção da Secretaria de Energia criada no governo
anterior – anuncia que pedirá audiências ao ministro das Minas e Energia
e aos dirigentes da Chesf nos próximos dias. E ainda convoca, num gesto
de oportunismo político, a bancada federal a se unir em favor da luta
para que o Estado não perca uma das suas raras conquistas econômicas da
última nossa década perdida.
- É nisso que dá a falta de planejamento.
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