quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Energia eólica >> governo do estado e a classe política correm atrás do prejuízo

A atração de investimentos para a implantação de parques eólicos no Rio Grande do Norte, iniciada na segunda metade da década passada com a montagem do primeiro parque aerogerador no município de Rio do Fogo, aconteceu sem que nenhum cidadão potiguar — ligado ao governo ou à iniciativa privada — tenha movido um dedo sequer para que isso acontecesse.
- Não houve, assim, o menor esforço dos formuladores das políticas de desenvolvimento estadual no sentido de estimular a exploração desse novo filão de oportunidades econômicas que caiu de mão beijada em nosso meio, a não ser numa etapa bem posterior, quando já eram numerosos os grupos investidores nacionais e estrangeiros demonstrando interesse e se mobilizando para arrendar áreas rurais no RN com vistas à instalação de usinas eólicas.
- Para ser mais objetivo, eu diria até que o Estado foi, na verdade, surpreendido pelas notícias que davam conta da existência de estudos científicos demonstrando que boa parte do território potiguar estava incluída no mapa eólico mundial como alguns dos locais mais favoráveis à construção de parques geradores de energia elétrica a partir da força dos ventos, tendo em vista ser favorecida por correntes contínuas de ar em velocidade estável durante o ano inteiro e sem ser afetada por furações, tornados e outros fenômenos meteorológicos capazes de prejudicar a atividade.
- Com o Brasil atingido pelo risco de sofrer novos “apagões”, a exemplo dos ocorridos no final da gestão Fernando Henrique, ou em 2008, na gestão Lula, e sem que o governo federal pudesse continuar priorizando a construção de mais hidrelétricas para aumentar a oferta energética (uma vez que está é uma solução caríssima, que sempre afeta profundamente o meio-ambiente e cria problemas sociais de grande repercussão), de repente passaram a ser vistas como alternativas emergenciais os investimentos em novas usinas termelétricas.
- Isto porém, segundo a área técnica, não seria suficiente para livrar o país de novos “apagões”, caso a economia voltasse a obter taxas anuais de crescimento econômico compatíveis com as demais nações em desenvolvimento.
- Foi então que começou a tomar corpo a ideia de que o país precisava estimular a exploração de fontes energéticas alternativas e renováveis, como a eólica e a solar, que já vinham sendo aproveitadas com sucesso em vários países europeus, asiáticos e nos Estados Unidos, com a vantagem de que haveria inúmeros grupos de investidores internacionais dispostos a desenvolver projetos em nosso território.
- No final da década passada, finalmente, o governo federal tomou a decisão de promover os primeiros leilões de compra de energia oriunda de fontes alternativas, ocasião em que o Rio Grande do Norte, surpreendentemente, despontou como o Estado brasileiro que
- Segundo o secretário de Energia e Assuntos Internacionais do Governo do RN, na época, Jean-Paul Prates (que hoje dirige em Natal o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, uma instituição privada que se dedica a estudos, desenvolvimento de projetos e serviços de consultoria), foi nessa ocasião que, pela primeira vez, o Poder Público local passou a dar atenção ao potencial energético do Estado e ao que isso representava para a nossa economia, em termos de atração de investimentos.
- Graças a um pequeno esforço governamental, complementado por algumas ações complementares da Federação das Indústrias do RN (através do CT-Gás-ER – Centro de Tecnologia do Gás e Energias Renováveis), que passou a promover encontros e seminários com pessoal técnico, acadêmico e da área empresarial sobre o nosso fantástico potencial eólico (estimado em mais do que uma usina hidrelétrica de Itaipu), também no segundo leilão de compra de energia promovido pelo Governo Federal, em 2010, o Rio Grande do Norte voltou a figurar com destaque em número de projetos aprovados.
- E foi assim que começou a corrida pela implantação dos parques eólicos, que já ultrapassam uma centena no interior do Estado e representam volume de investimentos superior a uma dezena de bilhões de reais.
- Acontece que, enquanto os investidores privados vão dando ritmo acelerado à construção dos aerogeradores, em sua maioria com previsão de entrar em operação a partir deste final de ano, o Governo Federal – através da Chesf (Cia. Hidrelétrica do São Francisco), estatal que atualmente gera e centraliza a transmissão de praticamente toda a energia que abastece os Estados nordestinos – ficou incumbido de construir as linhas transmissoras por onde a energia a ser gerada pelos parques eólicos será conduzida até chegar aos consumidores da região e do país.
- E a Chesf, até agora, não cumpriu sua parte nem mostra condições de cumpri-la nos prazos estabelecidos, sob as mais diversas alegações, entre elas a de que não está conseguindo obter, para tanto, as licenças ambientais dos governos estaduais e do Ibama.
- Com isso, o RN – assim como outros Estados do Nordeste onde estão sendo instalados parques eólicos – corre o sério risco de parar de atrair novos e maiores projetos nessa área, bem como de poder perder alguns dos empreendimentos já conquistados, tendo em vista que várias empresas já pensam em transferir seus investimentos daqui para o Estado do Maranhão, onde já existem linhas de transmissão em condições de uso e à disposição dos investidores em parques eólicos.
- Agora, o que se vê na área governamental e na classe política norte-rio-grandense é, outra vez, uma mobilização improvisada e apressada, no sentido de se correr atrás do possível prejuízo que está posto.
- O governo Rosalba Ciarlini, que não dedicou nos seus primeiros dois anos a mínima atenção ao assunto energia eólica – chegando inclusive a determinar a extinção da Secretaria de Energia criada no governo anterior – anuncia que pedirá audiências ao ministro das Minas e Energia e aos dirigentes da Chesf nos próximos dias. E ainda convoca, num gesto de oportunismo político, a bancada federal a se unir em favor da luta para que o Estado não perca uma das suas raras conquistas econômicas da última nossa década perdida.
- É nisso que dá a falta de planejamento.

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