A
Polícia Federal instaurou há cerca de um mês um inquérito para
investigar ataques feitos por hackers aos celulares de procuradores da
República que atuam nas forças-tarefas da Lava Jato em Curitiba, no Rio e
em São Paulo, segundo apurou o Estado com uma fonte a par da
investigação. Há 4 dias, outro inquérito foi aberto para apurar ataques
ao celular do ministro da Justiça, Sérgio Moro.
No
domingo, o site The Intercept Brasil divulgou o suposto conteúdo de
mensagens trocadas pelo então juiz federal Sergio Moro e por integrantes
do Ministério Público Federal, como o procurador da República Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa em Curitiba.
As
conversas supostamente mostrariam que Moro teria orientado investigações
da Lava Jato por meio de mensagens trocadas no aplicativo Telegram. O
site afirmou que recebeu de fonte anônima o material. O The Intercept
tem entre seus fundadores Glenn Greenwald, americano radicado no Brasil
que é um dos autores da reportagem. De acordo com o site, há conversas
escritas e gravadas nas quais Moro sugeriu mudança da ordem de fases da
Lava Jato, além de dar conselhos, fornecer pistas e antecipar uma
decisão a Dallagnol.
Os
hackers miraram especialmente mensagens trocadas por meio do Telegram.
As vítimas, que não haviam acionado a verificação em duas etapas,
recurso que adiciona camada adicional de segurança às mensagens, tiveram
suas conversas violadas pelos criminosos, segundo fonte a par da
investigação.
Os
procuradores notificaram a Polícia Federal após um deles desconfiar de
mensagem recebida por meio do aplicativo. O ataque em massa foi
descoberto e começou a ser apurado pela PF.
Um
investigador que conversou com o Estado sob reserva diz que somente as
vítimas do ataque poderão confirmar se o conteúdo das mensagens é
verdadeiro. Isso porque é muito comum que hackers incluam passagens
falsas no meio de conversas “roubadas” das vítimas.
Um
integrante da cúpula do Ministério Público Federal, que falou ao Estado
sob reserva, disse que foi “imprudente” o uso do Telegram e não das vias
oficiais, já que há uma rede oficial e segura do MPF para esse fim. O
ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal, disse que
esse tipo de comunicação não deveria ocorrer por aplicativos.
“A troca
de mensagens entre juiz e Estado acusador tem de ser no processo, com
absoluta publicidade. A internet é sempre perigosa”, disse ao Estado.
Ele não quis comentar, porém, o teor das conversas e eventual
repercussão em casos em andamento.
A
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba afirmou, em nota divulgada na
noite deste domingo, que “não sabe exatamente ainda a extensão da
invasão”, mas que “possivelmente” foram copiados “documentos e dados
sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e
de segurança” dos integrantes do grupo e de suas famílias.
Disse
ainda antecipar que os criminosos tentem usar o material roubado para
constranger os integrantes da força-tarefa, falseando o conteúdo das
conversas. “Uma vez ultrapassados todos os limites de respeito às
instituições e às autoridades constituídas na República, é de se esperar
que a atividade criminosa continue e avance para deturpar fatos,
apresentar fatos retirados de contexto, falsificar integral ou
parcialmente informações e disseminar ‘fake news’.”
Segundo a
nota, os procuradores têm “tranquilidade” de que as mensagens “refletem
atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma
técnica e imparcial” e que não irão “se dobrar à invasão imoral e
ilegal, à extorsão ou à tentativa de expor e deturpar suas vidas
pessoais e profissionais”.
Também
por meio de nota, Sergio Moro afirmou que, nas mensagens em que é
citado, “não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da
atuação enquanto magistrado”. O ministro da Justiça disse lamentar “a
falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa
de celulares de procuradores” e o “sensacionalismo das matérias, que
ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava
Jato”.
Preocupação
Os ataques de hackers vêm sendo
recorrentes e já eram motivo de preocupação dentro do MPF. Em maio, a
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, determinou instauração de
procedimento administrativo para acompanhar a apuração de tentativas de
ataques cibernéticos a membros do MPF. Dodge determinou ainda que a
Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação da PGR adotasse
providências para diagnosticar eventuais ataques e resolver o problema. À
época, ela considerou os ataques graves e afirmou que eles poderiam
comprometer diversas apurações em curso.
No final
de abril, o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, informou
que seu celular havia sido “clonado ou hackeado”. O relator do processo
da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 2.ª Região, Abel Gomes,
também foi alvo de hacker, como mostrou a Coluna do Estadão no sábado.
Na semana
passada, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, teve
seu celular pessoal clonado. Ele cancelou a linha e determinou a
abertura de investigações. O ministro desconfiou de uma ligação recebida
por ele e, logo em seguida, bloqueou a linha. Procurados pela
reportagem, a Polícia Federal, a Procuradoria-geral da República e
Palácio do Planalto não comentaram.
*Com informações do Estadão.
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