O ministro da Justiça Sergio Moro conversa com o presidente Jair
Bolsonaro na tribuna de honra do estádio do Maracanã (Carl de Souza/AFP)
RIO DE JANEIRO – Era para ser a apoteose do show orquestrado por ele próprio no Maracanã. Mas no minuto em que a figura do presidente Jair Bolsonaro foi projetada nos telões do estádio da final da Copa América, durante a cerimônia de premiação da competição, uma sonora vaia tomou conta do palco da grande decisão, vencida pelo Brasil por 3 a 1 sobre o Peru.
A grande maioria dos 69.986 espectadores do Maracanã reprovou a
presença do político na celebração, como aconteceu tantas vezes com a
ex-presidente Dilma Rousseff, embora tivesse quem o
aplaudisse entre os presentes. Um tímido grito de “Mito! Mito!” não
ganhou coro e foi rapidamente abandonado.
Convidado pela Confederação Sul-Americana de Futebol a participar da
celebração, Bolsonaro foi quem vestiu a medalha de campeão no técnico Tite,
que o cumprimentou fazendo uma reverência. O presidente tentou um
abraço mais efusivo, puxando o treinador pelo pescoço, mas não teve
sucesso. O zagueiro Marquinhos sequer apertou a mão do presidente,
passando reto pelo mandatário (depois, na zona mista, o camisa 4 disse
já havia o cumprimentado). Como um verdadeiro penetra de festa,
Bolsonaro “invadiu” a celebração dos jogadores brasileiros. Ele se
posicionou a frente da taça, que estava apoiada sobre o gramado, tomou-a
nas mãos e convocou uma nova série de poses para os fotógrafos. Nesse
momento, Tite se manteve mais distante, e não posou para as fotografias
ao redor do presidente.
A “atuação” do presidente – Faltavam 20 minutos para
o início da partida final entre Brasil e Peru quando o presidente
chegou ao Maracanã. A comitiva presidencial de mais de trinta veículos
chegou com escolta policial e das Forças Armadas. Diversos seguranças
vestidos de terno e gravata se espalharam pela tribuna de imprensa,
localizada bem acima dos camarotes do Maracanã. Entre os presentes
estavam o ministro da Justiça, Sergio Moro, o ministro da Economia,
Paulo Guedes, e o ministro da Cidadania, Osmar Terra.
Ao chegar na tribuna de honra do Estádio do Maracanã, Bolsonaro fez
questão de abraçar efusivamente o prefeito da cidade do Rio de Janeiro,
Marcelo Crivella (PRB-RJ). Quando os espectadores dos assentos mais
exclusivos notaram a presença do presidente nos camarotes, eles deram as
costas para o gramado e rapidamente sacaram os celulares para registrar
o momento. O mandatário retribuiu os acenos com sinais de positivo com
os dedos, com acenos e até mesmo um coraçãozinho para o público.
O ministro Moro, acuado pela série de revelações sobre sua atuação ao
longo do julgamento dos acusados pela Operação Lava-Jato, não saiu da
cola de Bolsonaro. O acompanhou praticamente o tempo inteiro. Quando do
primeiro gol brasileiro, o presidente fez questão de erguer o braço de
seu subordinado, como se estivesse o ensinando a se comunicar com as
massas. Apenas no intervalo se distanciaram, justamente quando o
presidente começou a atender aos vários pedidos de selfie daqueles que
dividiam os camarotes com o mandatário. Foram vários pedidos, de famosos
– caso do ex-jogador e capitão do penta Cafu – e a anônimos, todos
atendidos por Bolsonaro. O clima estava tão favorável que o presidente
participou efusivamente da Ola comandada pelos torcedores.
O presidente deixou seu assento, estrategicamente posicionado ao lado
do ministro Moro, aos 35 minutos do segundo tempo. Apesar da vitória
temporária da seleção brasileira, Bolsonaro preferiu acompanhar de pé
mais alguns minutos do jogo, como se quisesse se garantir da vitória
antes de descer ao nível do gramado para a cerimônia de premiação. Mesmo
assim, ele não viu a marcação do pênalti e o gol de Richarlison, que
sacramentaram a conquista brasileira.
Por Alexandre Salvador, Alexandre Senechal e Luiz Castro
Revista Veja
Nenhum comentário:
Postar um comentário