A Fundação Nacional de Saúde (Funasa)
cancelou, nesta semana, exatos 849 convênios firmados em governos
federais anteriores com municípios espalhados por todo o Brasil. Isso
significa que a União deixará de repassar aos estados exato R$ 1.038
bilhão em investimentos. O corte atinge especialmente pequenas cidades,
com até 50 mil habitantes.
O
fim das parcerias entre o Executivo federal e os municípios brasileiros
foi oficializado no último dia 31 de maio, por meio da Portaria nº 4.749,
assinada pelo presidente da fundação, Ronaldo Nogueira, ex-deputado
federal pelo PTB. Publicada 3 de junho no Diário Oficial da União (DOU),
a norma já está em vigor e pegou prefeitos e deputados de surpresa.
A Funasa é um órgão ligado ao Ministério da Saúde, responsável pela promoção de saneamento básico à população.
Cabe à entidade repassar verbas para as cidades executarem obras ou
realizarem atividades de conscientização que envolvam sistema de
abastecimento de água, esgoto e resíduos sólidos. Muitas das vezes, esse
montante é o único valor que os municípios possuem para desenvolver o
trabalho.
Os cortesNa
portaria, a Funasa alega “disponibilidade orçamentária insuficiente para
a execução dos objetos pactuados nos instrumentos de transferência de
recursos”. A maioria dos convênios cancelados foi firmada entre os anos
de 2017 e 2018 por meio de emendas parlamentares coletivas.
Nesse
caso, as obras ainda não começaram, mas o consultor orçamentário e
especialista em convênios públicos no Congresso Nacional Renatho Melo
explica que, antes de terem o dinheiro de emendas liberadas, os
prefeitos já gastam dinheiro municipal com projetos, licença ambiental e
até na compra de espaços para a realização das construções.
É como se o governo federal tivesse dado um cheque sem fundo. Ele garantiu a verba, empenhou, agora voltou atrás e não vai pagar
Renatho Melo, consultor parlamentar
Entre
os convênios firmados nos dois anos anteriores, estão – além de obras
para o tratamento de água e esgoto – atividades para a conscientização
ambiental, visando o combate de doenças como dengue, zika e chikungunya.
Os cortes de verbas para essas ações atingem cidades da Bahia, Rio
Grande do Sul, Goiás e São Paulo, que vêm enfrentando epidemias dessas
enfermidades transmitidas pelo Aedes aegypti.
Centcoop
A Fundação Nacional de Saúde colocou ponto final também nos repasses para convênios assinados ainda entre os anos de 2002 e 2016. Nesses casos, alguns projetos estavam na fase de análise, aguardando a verba do órgão federal. Entre eles, está um para a Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop).
A Fundação Nacional de Saúde colocou ponto final também nos repasses para convênios assinados ainda entre os anos de 2002 e 2016. Nesses casos, alguns projetos estavam na fase de análise, aguardando a verba do órgão federal. Entre eles, está um para a Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop).
O
contrato com a cooperativa, no valor de R$ 3,742 milhões, foi assinado
ainda em 2013. Ele previa a aquisição de equipamentos para os
trabalhadores do local, visando o tratamento de resíduos sólidos. No
entanto, nada desse montante chegou à cooperativa até o cancelamento do
convênio.
“Esse
cancelamento é algo a se lamentar, porque a Funasa atende a ações de
saneamento em cidades com crises financeiras sem precedente e esses
recursos são fundamentais para o desenvolvimento regional desses
municípios. Vale lembrar que investimento em saneamento pode significar
uma economia em gastos na área de saúde no futuro”, explica o engenheiro
sanitarista Márcio Silva.
Funasa responde.
Procurada pela reportagem, a Funasa disse que os cancelamentos atendem a recomendações do Tribunal de Contas da União (TCU). “Deve-se registrar, por oportuno, que, comparativamente ao mesmo período do ano passado, a Funasa incrementou em 160% o volume de recursos transferidos aos municípios com os quais tem convênios celebrados, o que demonstra significativa efetividade, na medida em que estão sendo destinados às obras em franca execução física”, pontuou o órgão.
*Com informações de Larissa Rodrigues
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