Principal referência para cirurgias neurológicas e tratamento oncológico no Rio Grande do Norte, desde 2019 o Hospital Infantil Varela Santiago, em Natal, se destaca também pelos serviços de Ortopedia e Traumatologia. Por mês, são cerca de 400 consultas e uma média de 600 a 700 cirurgias por ano (algo em torno de 50 procedimentos mensais). No setor, são realizadas operações de baixa, média e alta complexidade, com atendimento a crianças e adolescentes de todo o Estado. O médico cirurgião Ricardo Araújo está à frente dos serviços desde que eles foram implantados na unidade, há quase cinco anos. Ele diz que o objetivo é tornar a unidade porta de urgência referenciada para a ortopedia e traumatologia infantil.
Com isso, as crianças, com exceção daquelas com fratura exposta,
iriam direto para o Varela Santiago, ao contrário do que acontece
atualmente – hoje, elas precisam seguir para outros hospitais e só
depois são reguladas à unidade para a realização de procedimentos ou de
acompanhamento. Segundo Araújo, conversas com a Secretaria de Estado da
Saúde Pública (Sesap) foram iniciadas neste sentido no início do ano
passado.
Até o final deste semestre, um novo encontro com representantes da pasta deve acontecer para discussões sobre o tema. Transformar o hospital em unidade de urgência referenciada é um dos grandes desafios que o médico Ricardo Araújo afirma ter no momento.
“A gente quer desburocratizar [processos] para fazer com que a
criança chegue o mais breve possível ao Varela, porque ela consolida a
fratura muito mais rápido do que o adulto. Meu objetivo é que a criança
venha direto para cá, com exceção da fratura exposta, onde o atendimento
deve continuar acontecendo no Walfredo Gurgel. Tivemos essa conversa no
início do ano passado com Lyane Ramalho [secretária de Saúde do RN],
junto com a ortopedia do CRI [Centro de Reabilitação Infantil] e do
Maria Alice Fernandes. Haveria uma escala de sobreaviso aqui para isso”,
explica.
Atualmente, além do próprio Ricardo Araújo, que atua na
traumatologia, o Varela Santiago conta com um ortopedista de plantão nas
terças-feiras e mais três, divididos em atendimentos nas quartas-feiras
(com atuação na especialidade neuromuscular) e nas sextas, (com atuação
em cirurgias de má formação congênita). “Para a urgência referenciada,
seria necessário chamar novos ortopedistas”, frisa Araújo.
O médico destaca a ampla capacidade do hospital em realizar os
atendimentos. “Fazemos desde uma simples correção de polidactilia
(quando a pessoa nasce com dedos a mais), cirurgias de má formação
congênita grave, passando por procedimentos de traumas e tumores,
especialmente, benignos”, detalhou Ricardo Araújo à TRIBUNA DO NORTE.
Investimentos
O convênio para a instalação dos
serviços de trauma e ortopedia no Hospital Infantil Varela Santiago foi
assinado em agosto de 2019, em visita do então ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, à capital potiguar. À época, a unidade médica foi
beneficiada com R$ 2,3 milhões, pagos em parcelas para o custeio dos
novos serviços. Em dezembro do mesmo ano, o Ambulatório passou a
funcionar plenamente. De lá para cá, os investimentos no setor não
pararam.
Segundo Ricardo Araújo, o hospital investiu em um intensificador
de última geração e em um novo microscópio, que custou R$ 1,4 milhão.
“Também chegou um aparelho de ultrassom que ajuda nos procedimentos de
anestesia e exames de imagem. O Varela comprou sete perfuradores,
investiu em uma mesa cirúrgica, além de uma mesa de tração ortopédica
infantil para fazer cirurgia de colo de fêmur e fratura de fêmur. Nós
estamos numa crescente. Vamos completar cinco anos no final de 2024 e o
serviço, graças a Deus, vingou. Tenho um apoio imenso do pessoal da
recepção, passando pelo ambulatório, enfermarias, centro cirúrgico,
faturamento, laboratório, setor de imagens, radiografia, setor de gesso,
sala de imobilização, regulação, marcação de consultas, agendamento de
cirurgias e direção”, descreve em pormenores o médico.
Ao todo, segundo ele, são mais de 25 profissionais em atuação no
setor. “Depois da criação da ortopedia, o hospital contratou três
técnicos de radiologia [até então, só havia um] para dar conta das
radiografias. Nosso ambulatório abre cedinho, às 7h, porque nós temos
crianças de todo o Estado, que vêm para cá dependendo de carro de
prefeitura. Elas passam por mim para depois ir para o setor de
imobilização e de radiografia em seguida. E aí, voltam aqui para que eu
veja a radiografia e possa liberá-las. Hoje [sexta-feira, 3 de maio],
até às 10h, já foram realizados 34 atendimentos”, relata Araújo.
Uma dessas crianças foi a pequena Maria Letícia. De 7 anos. No
dia 27 de março ela caiu em casa, no município de Florânia, na região
Central potiguar. A menina foi levada ao Hospital Walfredo Gurgel na
capital para o primeiro atendimento. “Ela fraturou dois ossos do braço
direito. No Walfredo, foi feita uma redução [técnica para tratar
fraturas sem a necessidade de cirurgia] e, no dia seguinte, ao deixarmos
o hospital, recebemos o encaminhamento para que ela fosse acompanhada
aqui no Varela”, disse a assistente social Ingrid Diniz, ao lado da
pequena e do marido, após a última consulta da menina.
“Desde então, ela vem a cada 15 dias para ser avaliada. Hoje,
recebeu alta, mas o médico [Ricardo Araújo] nos entregou uma referência
para que, caso seja necessário, Maria Letícia possa retornar para um
novo atendimento”, completou a assistente social. A auxiliar de serviços
gerais Maria Ivone Câmara, de São Miguel do Gostoso, levou a filha,
Camila, de 11 anos, ao Varela Santiago na última sexta para retirar o
gesso do braço direito. A garotinha caiu e quebrou o pulso enquanto
brincava na escola no início de abril. “Ela foi empurrada por uma colega
e caiu, usou a mão para proteger a cabeça e, ao tocar o chão, quebrou o
pulso. Fomos atendidas no Walfredo no mesmo dia, em 9 de abril. Dez
dias depois, fomos encaminhadas para cá”, contou Maria Ivone ao rasgar
elogios à assistência prestada pelo Varela Santiago.
“O atendimento é ótimo, as pessoas são excelentes. A gente vem
com uma certa angústia, mas quando conhece esse profissionais, tudo
passa”, destaca. Ingrid Diniz, mãe da pequena Maria Letícia, também
ressalta a qualidade dos serviços ofertados pela unidade. “Não há do que
reclamar. Os profissionais são super humanizados e doutor Ricardo é
maravilhoso”, sublinha, ao deixar o hospital com a menina e o esposo.
Regulação
Segundo o médico Ricardo Araújo, os
atendimentos no setor de ortopedia e traumatologia do Hospital Varela
Santigo é feito, atualmente, apenas por meio de regulação. Isso é
possível de duas formas, a depender da rede de atendimento a que o
paciente se submete pela primeira vez. “Quem mora em Natal vai para as
Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) ou para o Hospital Municipal, onde
há o setor de ortopedia. Nessas unidades, eles pegam uma ficha de
referência e, a partir daí, vêm para cá ou ligam para agendar
atendimento”, explica o cirurgião ortopedista.
Já os pacientes do interior precisam procurar os postos de saúde
dos respectivos municípios ou algum hospital da rede estadual de saúde.
No Walfredo Gurgel, a criança ou adolescente será encaminhada por meio
do Núcleo Interno de Regulação (NIR). “Nesse caso, semelhante ao que
acontece no Hospital Municipal, que também tem um NIR, o paciente é
mandado para o ambulatório ou faz o agendamento por telefone”, diz
Araújo. Além de facilitar os atendimentos com a urgência referenciada,
como pretende o médico, outra meta perseguida pelo setor é entregar a
chamada ortopedia e traumatologia resolutiva.
“Estamos falando de baixo custo, o que é primordial para uma
instituição filantrópica que atende pelo SUS. E o mais importante: uma
ortopedia e traumatologia sem complicações. Porque a complicação, às
vezes, é muito mais cara do que o primeiro atendimento. As operadoras de
saúde hoje – incluindo o SUS – medem a qualidade de uma equipe muito
mais pelo baixo índice de complicação do que pela quantidade de
resolução no primeiro atendimento. Nossa meta é ficar em um nível de
infecções [complicações] de 2%, que é o índice internacional. Com isso, a
gente chega a uma ortopedia resolutiva que leva a criança à cura o mais
rápido possível”, explica.
Felipe Salustino
Repórter
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