quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Vizinha de F.Gomes narra os momentos de desespero

Cardoso Silva
Todos os dias à noite, minhas duas filhas reunem-se com as amiguinhas da vizinhança, e vão brincar na calçada. A rua onde moro é pacata. O bairro é um dos mais tranquilos da cidade. Por ser uma cidade interiorana, ainda há certa traquilidade nas ruas, e por isso, nunca tivemos muita preocupação em relação a isso.
De forma estranha, nenhuma das meninas saiu hoje para brincar. Nem as minhas, nem as da vizinhança. Todas estavam guardadinhas em casa.
E lá eu estava, no meu quarto, bem tranquila “tuitando”, quando, por volta das 20h40min, ouço 6 disparos. Vi logo que não eram bombas “de são joão”. Eram tiros.
Corri do jeito que estava, para ver o que tinha acontecido. Pensei: como assim?? Tiros na rua em que moro??? Não pode ser.
Quando cheguei à calçada aqui de casa, olhei para o meu lado esquerdo, e pude ver o Jornalista F. Gomes, duas casas depois da minha, sentado no mesmo lugar onde sempre costumava sentar-se à noite: sua calçada. Porém, algo estava diferente. Ele estava coberto de sangue, e um pranto enorme se ouvia na rua. Não pude acreditar, mas era verdade: ele acabara de ser assassinado.
Congelei. E assim como todos os vizinhos, entrei em pânico. Ninguém sabia o que fazer. A mãe do jornalista e suas irmãs, que moram em frente à casa dele (ou seja, do outro lado da rua) presenciaram tudo. Dois homens numa moto, descarregaram cerca de seis tiros, à queima roupa, no jornalista que tranquilamente descansava sentado numa cadeira, dedilhando seu laptop (depois eu soube que “apenas” três ou quatro tiros, o atingiram).
Lembrei que minhas filhas poderiam ter visto tudo também. Afinal, elas brincam na calçada ao lado. Por sorte, hoje elas não saíram de casa.
Logo a rua se encheu de gente: polícia, amigos, vizinhos, pessoas do bairro, curiosos de outros lugares… Ninguém acreditava no que tinha acabado de acontecer.
Corri para o twitter e para o orkut, e comecei a dar, em primeira mão, a triste notícia. Teria sido meu primeiro “furo de reportagem”, se eu fosse uma jornalista.
Mas, mesmo não sendo jornalista, quis compartilhar a agonia que senti naquele momento:
Acabaram de \dar cerca de 6 tiros/ no jornalista F. Gomes na porta de sua casa
Não acredito que ele tenha sobrevivido… Detalhe: ele mora há duas casas da minha..
Tô muito nervosa aqui
Escutei os tiros daqui do quarto!!!!!
Tá todo mundo louco gritando aqui na rua……
O jornalista já tinha sido ameaçado várias vezes e é uma figura muito conhecida na região
Não tô acreditando que isso aconteceu!!!! Muito louco!
Caralhoooo!! Tem um homem morto à tiro, quase na porta da minha casa….
PQP… Violência é foda.
Gente, eu nunca imaginei passar por um troço desses. Tô chocada até agora.
Nesse momento em que escrevo, a rua já foi interditada. Há uma grande aglomeração de pessoas em frente a casa dele. A notícia já se espalhou por todo o estado, e até no Brasil (O Jornal “O Globo” – Online, também já divulgou a notícia). A amanhã, a minha rua tão pacata, estará nas principais páginas policiais.
Casa do jornalista. Calçada em que ele foi morto. Foto: Blog do Cardoso Silva
Uma grande perda para o jornalismo. O RN perde uma grande voz. Alguém que não se calava perante às injustiças. Alguém que, por denunciar sem medo os crimes e os criminosos da região, teve seu direito à vida aniquilado, de uma forma bárbara e cruel.
E para nós, seus vizinhos aqui da rua, significa a perda do nosso mais ilustre morador… Muito revoltante.
Francisco Gomes – Jornalista e Radialista

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