sexta-feira, 1 de abril de 2011

Corpo de Alencar é cremado após velório em Minas Gerais

Belo Horizonte (AE) 
Com honras de chefe de Estado, o corpo do ex-vice-presidente da República, José Alencar, foi cremado no início da tarde de ontem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes, o corpo foi velado em clima de emoção no saguão do Palácio da Liberdade em uma cerimônia aberta ao público, que reuniu familiares, autoridades, políticos e milhares de populares. A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceram ao velório.pedro vilela / ae

Corpo de José Alencar chega ao crematório Parque Renascer
Corpo de José Alencar chega ao crematório Parque Renascer
Alencar morreu na terça-feira, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, vítima de falência de múltiplos órgãos causada por um câncer contra o qual lutava desde 1997.

Ontem, pelo menos 4 mil pessoas, conforme a Polícia Militar, passaram pelo caixão. O cortejo foi muito aplaudido ao passar pela alameda que cruza a Praça da Liberdade, em frente à antiga sede do governo mineiro. O corpo foi levado da Base Aérea da Pampulha até o palácio no mesmo caminhão do Corpo de Bombeiros que transportou os corpos do ex-presidente Tancredo Neves e do ex-vice-presidente Aureliano Chaves.

O primeiro da fila pública a entrar no palácio foi o cozinheiro Alexandre Aparecido Carlos de 26 anos, de Contagem, que chegou às 6h30 para dar adeus a Alencar. Ele contou que sua mãe sofre de câncer e avalia que ela deveria se espelhar no ex-vice-presidente. “Eu sempre falo para a minha mãe seguir o exemplo dele, porque ele lutou muito. Falo para ela não deixar de perseverar”, afirmou. Quando a visitação pública foi fechada, às 13h30, cerca de duas mil pessoas ainda se concentravam na Praça da Liberdade para acompanhar a movimentação no palácio. Metade delas estava na fila, mas não pode dar o último adeus ao ex-vice-presidente.

Além da população em geral, diversas autoridades e políticos também acompanharam o velório. O ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, classificou o ex-vice-presidente como “referência” pela “vida magnífica” que levou. Patrus lembrou ainda que quando disputou a prefeitura de Belo Horizonte, em 1992, pelo PT, Alencar era presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e promoveu debates com todos os candidatos ao Executivo municipal.

O presidente do PT mineiro, deputado federal Reginaldo Lopes, confirmou o papel de José Alencar na aproximação de petistas com empresários. “Ele foi o primeiro grande empresário a romper o preconceito contra um operário na Presidência”, declarou, referindo-se ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem Alencar foi eleito duas vezes para o Palácio do Planalto.  No saguão nobre ainda dividiram o espaço, entre vários outros, os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Itamar Franco (PPS-MG), o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o ex-ministro Luiz Dulci, além do ex-governador de Minas Gerais Francelino Pereira.

Cerimônia aproxima Aécio Neves e o ex-presidente Lula

Belo Horizonte (AE) - O velório do ex-vice-presidente José Alencar na capital mineira aproximou, ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). O ex-governador mineiro foi o político com quem Lula mais conversou durante a cerimônia, realizada no Palácio da Liberdade. Petista e tucano acertaram um encontro futuro, ainda sem data marcada.

A maior parte da conversa girou em torno de elogios a Alencar, especialmente pela maneira como enfrentou o câncer até o fim. “Ele foi muito mais do que um vice. Era mais forte que eu”, afirmou. Lula antes de deixar o saguão do palácio, reservado para o velório. Em uma sala lateral, o ex-presidente e sua sucessora, Dilma Rousseff, despediram-se da família, depois de passarem cerca de uma hora na cerimônia.

Lula e Dilma chegaram juntos ao Palácio da Liberdade, pouco antes do meio-dia. Enquanto Dilma, de um lado do caixão, ficou entre os parentes de Alencar e ao lado da ex-primeira-dama Marisa Letícia, Lula estava no lado oposto, em meio a políticos como Aécio, o ex-presidente e senador Itamar Franco (PPS-MG), e o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB).

Colaboradores de Lula disseram que o ex-presidente tem conversado com políticos, pesquisadores e representantes da sociedade civil, simpatizantes ou não do PT e do governo, antes de iniciar as atividades do instituto que pretende fundar. Já aliados de Aécio lembraram que o tucano sempre teve uma relação cordial com o ex-presidente e que não terá nenhum problema em trocar ideias com Lula.

Enquanto conversava com Aécio, à beira do caixão, Lula em vários momentos olhou para o corpo de Alencar e fez comentários com o senador tucano. Durante a missa, rezada pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, o ex-presidente fez força para não chorar, especialmente no momento em que a viúva, Mariza, e os filhos despediram-se do ex-vice-presidente.

cinzas

As cinzas do ex-vice-presidente serão depositadas na igreja de Nossa Senhora da Glória na localidade de Itamuri, distrito de Muriaé, cidade natal de Alencar, na Zona da Mata mineira. A família alega que decidiu atender um desejo do ex-vice-presidente, que gostaria que suas cinzas fossem depositadas na igreja na qual foi batizado.

Cremação traz à tona investigação de paternidade

Belo Horizonte (AE) - A decisão da família de José Alencar pela cremação do corpo do ex-vice-presidente trouxe à tona novamente a ação judicial movida pela professora aposentada Rosemary de Morais, de 55 anos, para ser reconhecida como filha do ex-vice-presidente da República. A família alega que atendeu a um pedido do próprio Alencar, mas ontem, durante o velório realizado no Palácio da Liberdade, circularam informações de que o corpo de Alencar poderia se enterrado ao invés de cremado - funcionários do Cemitério do Bonfim, na capital, chegaram a ficar de prontidão no palácio.

Especulações de que a decisão pela cremação poderia levar à anulação da possibilidade de prova material - obtida por meio do exame de DNA - causou desconforto entre familiares e outros presentes. Rosemary, que mora em Caratinga (MG), ameaçou comparecer ao velório, mas acabou desistindo, com receio de “se sentir uma intrusa”.

“Penso que é um direito deles. O certo seria colher material (genético) dele antes de fazer a cremação. Não sou eu é que tenho de provar, eles é que têm”, afirmou Rosemary ao Grupo Estado. “Nem quis ir ao velório para não dar motivo, para não atrapalhar em nada, dizer que eu fui atrás de mídia. Estou quieta no meu canto.”

Para o advogado da professora aposentada, Geraldo Jordan de Souza Júnior, caberia à família do ex-vice-presidente fazer a reserva do material genético para contestar a alegação de paternidade, uma vez que sua cliente foi declarada filha legítima pelo juiz José Antônio de Oliveira Cordeiro, da Vara Cível de Caratinga.

Após a cerimônia de cremação, Antônio Gomes da Silva, irmão de Alencar, negou qualquer vínculo entre a cremação do corpo e a ação de paternidade. “De jeito nenhum”, resumiu.

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