Belo Horizonte (AE)
Com honras de chefe de Estado, o corpo do
ex-vice-presidente da República, José Alencar, foi cremado no início da
tarde de ontem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes, o
corpo foi velado em clima de emoção no saguão do Palácio da Liberdade em
uma cerimônia aberta ao público, que reuniu familiares, autoridades,
políticos e milhares de populares. A presidente Dilma Rousseff e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceram ao velório.pedro vilela / ae
Corpo de José Alencar chega ao crematório Parque Renascer
Alencar morreu na terça-feira, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo,
vítima de falência de múltiplos órgãos causada por um câncer contra o
qual lutava desde 1997.
Ontem, pelo menos 4 mil pessoas, conforme
a Polícia Militar, passaram pelo caixão. O cortejo foi muito aplaudido
ao passar pela alameda que cruza a Praça da Liberdade, em frente à
antiga sede do governo mineiro. O corpo foi levado da Base Aérea da
Pampulha até o palácio no mesmo caminhão do Corpo de Bombeiros que
transportou os corpos do ex-presidente Tancredo Neves e do
ex-vice-presidente Aureliano Chaves.
O primeiro da fila pública a
entrar no palácio foi o cozinheiro Alexandre Aparecido Carlos de 26
anos, de Contagem, que chegou às 6h30 para dar adeus a Alencar. Ele
contou que sua mãe sofre de câncer e avalia que ela deveria se espelhar
no ex-vice-presidente. “Eu sempre falo para a minha mãe seguir o exemplo
dele, porque ele lutou muito. Falo para ela não deixar de perseverar”,
afirmou. Quando a visitação pública foi fechada, às 13h30, cerca de duas
mil pessoas ainda se concentravam na Praça da Liberdade para acompanhar
a movimentação no palácio. Metade delas estava na fila, mas não pode
dar o último adeus ao ex-vice-presidente.
Além da população em
geral, diversas autoridades e políticos também acompanharam o velório. O
ex-ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias,
classificou o ex-vice-presidente como “referência” pela “vida
magnífica” que levou. Patrus lembrou ainda que quando disputou a
prefeitura de Belo Horizonte, em 1992, pelo PT, Alencar era presidente
da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e promoveu debates
com todos os candidatos ao Executivo municipal.
O presidente do
PT mineiro, deputado federal Reginaldo Lopes, confirmou o papel de José
Alencar na aproximação de petistas com empresários. “Ele foi o primeiro
grande empresário a romper o preconceito contra um operário na
Presidência”, declarou, referindo-se ao ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, com quem Alencar foi eleito duas vezes para o Palácio do
Planalto. No saguão nobre ainda dividiram o espaço, entre vários
outros, os senadores Marcelo Crivella (PRB-RJ) e Itamar Franco (PPS-MG),
o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), o ministro
das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, o ministro de Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, o ex-ministro Luiz
Dulci, além do ex-governador de Minas Gerais Francelino Pereira.
Cerimônia aproxima Aécio Neves e o ex-presidente Lula
Belo
Horizonte (AE) - O velório do ex-vice-presidente José Alencar na
capital mineira aproximou, ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). O ex-governador mineiro foi o
político com quem Lula mais conversou durante a cerimônia, realizada no
Palácio da Liberdade. Petista e tucano acertaram um encontro futuro,
ainda sem data marcada.
A maior parte da conversa girou em torno
de elogios a Alencar, especialmente pela maneira como enfrentou o
câncer até o fim. “Ele foi muito mais do que um vice. Era mais forte que
eu”, afirmou. Lula antes de deixar o saguão do palácio, reservado para o
velório. Em uma sala lateral, o ex-presidente e sua sucessora, Dilma
Rousseff, despediram-se da família, depois de passarem cerca de uma hora
na cerimônia.
Lula e Dilma chegaram juntos ao Palácio da
Liberdade, pouco antes do meio-dia. Enquanto Dilma, de um lado do
caixão, ficou entre os parentes de Alencar e ao lado da ex-primeira-dama
Marisa Letícia, Lula estava no lado oposto, em meio a políticos como
Aécio, o ex-presidente e senador Itamar Franco (PPS-MG), e o governador
de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB).
Colaboradores de Lula
disseram que o ex-presidente tem conversado com políticos,
pesquisadores e representantes da sociedade civil, simpatizantes ou não
do PT e do governo, antes de iniciar as atividades do instituto que
pretende fundar. Já aliados de Aécio lembraram que o tucano sempre teve
uma relação cordial com o ex-presidente e que não terá nenhum problema
em trocar ideias com Lula.
Enquanto conversava com Aécio, à beira
do caixão, Lula em vários momentos olhou para o corpo de Alencar e fez
comentários com o senador tucano. Durante a missa, rezada pelo arcebispo
metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, o
ex-presidente fez força para não chorar, especialmente no momento em que
a viúva, Mariza, e os filhos despediram-se do ex-vice-presidente.
cinzas
As
cinzas do ex-vice-presidente serão depositadas na igreja de Nossa
Senhora da Glória na localidade de Itamuri, distrito de Muriaé, cidade
natal de Alencar, na Zona da Mata mineira. A família alega que decidiu
atender um desejo do ex-vice-presidente, que gostaria que suas cinzas
fossem depositadas na igreja na qual foi batizado.
Cremação traz à tona investigação de paternidade
Belo
Horizonte (AE) - A decisão da família de José Alencar pela cremação do
corpo do ex-vice-presidente trouxe à tona novamente a ação judicial
movida pela professora aposentada Rosemary de Morais, de 55 anos, para
ser reconhecida como filha do ex-vice-presidente da República. A família
alega que atendeu a um pedido do próprio Alencar, mas ontem, durante o
velório realizado no Palácio da Liberdade, circularam informações de que
o corpo de Alencar poderia se enterrado ao invés de cremado -
funcionários do Cemitério do Bonfim, na capital, chegaram a ficar de
prontidão no palácio.
Especulações de que a decisão pela
cremação poderia levar à anulação da possibilidade de prova material -
obtida por meio do exame de DNA - causou desconforto entre familiares e
outros presentes. Rosemary, que mora em Caratinga (MG), ameaçou
comparecer ao velório, mas acabou desistindo, com receio de “se sentir
uma intrusa”.
“Penso que é um direito deles. O certo seria colher
material (genético) dele antes de fazer a cremação. Não sou eu é que
tenho de provar, eles é que têm”, afirmou Rosemary ao Grupo Estado. “Nem
quis ir ao velório para não dar motivo, para não atrapalhar em nada,
dizer que eu fui atrás de mídia. Estou quieta no meu canto.”
Para
o advogado da professora aposentada, Geraldo Jordan de Souza Júnior,
caberia à família do ex-vice-presidente fazer a reserva do material
genético para contestar a alegação de paternidade, uma vez que sua
cliente foi declarada filha legítima pelo juiz José Antônio de Oliveira
Cordeiro, da Vara Cível de Caratinga.
Após a cerimônia de
cremação, Antônio Gomes da Silva, irmão de Alencar, negou qualquer
vínculo entre a cremação do corpo e a ação de paternidade. “De jeito
nenhum”, resumiu.
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