quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Maior parte das vítimas é jovem

Roberto Lucena - Repórter TN

O dia 27 de fevereiro de 2011 jamais será esquecido pelo empresário Marcelo Almoedo e sua esposa, a advogada Andréa Almoedo. Foi na madrugada daquele dia que o filho do casal, Alan Almoedo Moura, faleceu após um acidente automobilístico. Dois dias antes, Marcelo conversou com Alan. "Meu filho, muito obrigado por me deixar ser seu pai durante esses anos. Obrigado por ser esse filho, que tanto me orgulha",  disse Marcelo. A conversa, sem que pai e filho soubessem, era uma despedida.

Júnior SantosAlan Silva caiu da moto pilotada por seu amigo e espera cirurgiaAlan Silva caiu da moto pilotada por seu amigo e espera cirurgia
No último domingo, Gustavo Retlen Costa de Queiroz não resistiu aos ferimentos provocados por uma forte colisão entre o carro que ele conduzia e um poste. E faleceu no local do acidente. Mais que a causa da morte, as vítimas têm em comum o fato de serem jovens. Alan tinha apenas 17 anos e Gustavo, 23. Os dois casos, somam-se a tantos outros que acontecem todos os dias no Rio Grande do Norte. Diariamente, jovens arriscam a vida em carros e motos pelas estradas, ruas e avenidas de todo o Estado.

O coordenador médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu Natal), Ariano Oliveira, é categórico ao afirmar que a maioria dos acidentes envolvendo veículos acontece, principalmente, com jovens. "É notório que há uma grande incidência de acidentes com mortes de jovens com idade entre 15 e 18 anos, bem como naqueles com entre 28 a 30 anos", diz. Nos últimos anos, as motos de baixa cilindrada, as chamadas "cinquentinhas", também foram as responsáveis pelo aumento no número de ocorrências no Samu Natal. "Como não há uma legislação específica para disciplinar o uso dessas motocicletas, qualquer pessoa pode comprar uma. Une-se a inexperiência com a imaturidade e o resultado é o aumento do número de acidentes", afirma Ariano.

O clínico geral Salomão Diniz há 35 anos atende pacientes no Pronto Socorro Dr. Clóvis Sarinho. Ele conta que, em cada plantão de seis horas, registra, pelo menos, oito pacientes que se envolveram em acidentes de trânsito. "Desses, quase a totalidade estavam conduzindo ou eram carona em motos", afirmou.

Nos corredores do maior pronto socorro do estado, é fácil constatar o que disse o médico. Na tarde de ontem, em um dos corredores do hospital, pelo menos cinco pacientes aguardavam uma vaga para submeter-se a uma cirurgia. As histórias são parecidas. "Eu estava indo para casa, depois do trabalho. Veio um carro e me trancou. Acabei caindo", disse o agricultor Ronaldo Oliveira, 33 anos. O acidente que vitimou Ronaldo aconteceu no dia 25 de outubro, em São Paulo do Potengi. Desde então, ele aguarda  uma cirurgia que será realizada em um dedo da mão direita.

O comerciante Alan Silva, 20 anos, caiu de uma moto na última quinta-feira. Quem pilotava a motocicleta era um amigo. A colisão com um carro foi a causa do acidente em uma das avenidas do bairro Nova Natal, na capital. "Quebrei o tornozelo e agora estou aqui esperando a cirurgia. A queda foi feia, mas a culpa nem foi do meu amigo. A mulher que estava dirigindo o carro foi a culpada. O jeito agora é esperar essa vaga e aguardar ficar bom", disse.

Felizmente, os pacientes estão vivos para contar as histórias deles. Apesar do impacto e violência dos acidentes, não correm risco de morte. "E esses que estão aí devem dar graças a Deus que não ficaram com uma sequela maior. Muitos ficam paraplégicos ou perdem membros importantes como uma perna ou braço", disse Salomão Diniz. "Acho que é necessário, urgentemente, a implantação de aulas sobre educação no trânsito nas escolas, no ensino básico. As pessoas precisam aprender, desde cedo, como evitar acidentes tão graves", afirmou o médico.

"Se os acidentes com motos e aqueles que envolvem ingestão de bebida alcoólica fossem reduzidos, o atendimento no Clóvis Sarinho diminuiria 80%. Esses dois ingredientes, moto e álcool, junto com a imaturidade, são responsáveis por um número muito elevado de atendimentos no hospital de referência", diz Ariano Oliveira.

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