Diário de Natal
Macas retidas na porta do maior hospital público do Rio Grande do Norte.
O cenário típico de uma segunda-feira no Hospital Walfredo Gurgel é
reflexo do alto índice de atendimentos no setor de politrauma por causa
dos acidentes de moto durante os finais de semana. Quarenta e dois por
cento das vítimas de acidentes de trânsito no Estado são decorrentes de
motocicletas, o que representa o 3º maior índice do Nordeste, região que
detém o maior mercado consumidor, e que comprou no ano passado, 35% de
todas as motos vendidas no país. O RN só perde para Sergipe, com 44%, e
Piauí, que lidera o ranking com quase metade das pessoas que morreram no
trânsito quando estavam sobre duas rodas.
Número de acidentes cresce assustadoramente, assim como aumenta a frota de motocicletas em todo país. Cidades do interior concentram 77,33% da frota no RN. Foto: Paulo de Sousa/DN/D.A Press e Fábio Cortez/DN/D.A Press |
De acordo com o setor de estatísticas do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), a frota de motos no Estado é de 302.141 veículos, o que corresponde a 34,92% de um total liderado pelos automóveis (45,23%). Natal tem 71.521 motos (23,67%), e Mossoró, 42.871 (14,19% do total no estado). As outras cidades do interior detém 63,14% da frota, o que preocupa as autoridades de saúde pública.
O médico Domício Arruda, titular da Secretaria Estadual de Saúde (Sesap), afirma que é previsível o aumento do número de acidentados entre a noite da sexta-feira e a manhã do domingo nos maiores hospitais da rede. "O problema tem se agravado a cada dia. Hoje, por sinal, esse é o principal motivo de internação na parte de traumatologia dos maiores hospitais do Estado. Outra preocupação é o interior do Estado, onde está a maior parte das motocicletas e muitas vezes o deslocamento para esses hospitais de referência atrasam o socorro médico. Infelizmente, às vezes, a demora é fatal", afirma.
A cada três dias, uma pessoa morre por causa de problemas com acidentes de moto no perímetro entre a região metropolitana de Natal e a região do Mato Grande. "Proporcionalmente morre mais gente nessas regiões do que nas regiões metropolitanas de São Paulo (1,5 por dia) e Rio de Janeiro (um a cada dois dias). Isso é grave porque temos que levar em conta que estas metrópoles são muito mais populosas que nossa região", destaca o ortopedista e traumatologista Julimar Nogueira, do Hospital Walfredo Gurgel.
No HWG, a média de atendimento por acidente de moto gira em torno de 80 a 90 acidentados por final de semana, o pico semanal dos traumas. "Vivemos uma epidemia no trânsito por causa dos acidentes por moto. A maioria causa severos danos ao paciente, seus familiares e à sociedade por se tratar de vítimas que permanecem afastadas do seu trabalho. Esta situação deve ser encarada como um problema de saúde pública. Há um grande numero de doentes com sequelas, uma legião de sequelados - a maior parte sem produzir. Gera um custo muito alto tanto para a assistência quanto para previdência", colocou o médico.
Influência do álcool
Na grande maioria dos acidentes, as vítimas estão alcoolizadas. "A mesma motocicleta que é usada durante a semana para trabalhar, vira veículo de lazer nos finais de semana", diz Domício Arruda. Por causa da relação álcool e uso de veículos como motos e carros, o problema se agrava. Quem pilota uma moto após beber, por exemplo, põe em risco a vida de outras pessoas, além de si próprio. Para tentar diminuir o uso de álcool nas estradas durante o verão, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesed) intensificou as blitzen e testes de bafômetro nas estradas que são os principais destinos dos veranistas. "Esperamos que, após a Operação Verão, as estatísticas melhorem. Ainda é cedo para observar os resultados", contou Arruda.
O coronel Francisco Canindé de Freitas, comandante da Polícia Rodoviária Estadual (CPRE) disse que a partir desse mês de janeiro foram intensificadas as operações para coibir irregularidades sobre duas rodas. No final de semana passado foram apreendidas 60 motocicletas por diversos motivos: falta de capacetes, carteiras de habilitação e outros equipamentos obrigatórios. Foram realizados 1.800 testes de bafômetros, mas nenhum motociclista foi flagrado bêbado. "O trabalho está sendo feito não para diminuir a quantidade, e sim a gravidade de acidentes", afirma Freitas.
Para o comandante, os acidentes são praticamente inevitáveis. "No momento em que não se ampliam as rodovias, nem é possível diminuir o aumento das vendas de novas motos, cabe ao CPRE trabalhar para que a legislação de trânsito seja cumprida. Fiscalizando assim queremos reduzir a gravidade desses casos", explicou.
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