Diário de Natal
Um verdadeiro estado de calamidade pública. Urina dentro de garrafas
plásticas, goteiras, telhas quebradas, salas com rachaduras e mofo. Um
odor forte e mal cheiroso nos corredores mal leva a crer que é neste
prédio que funciona a Casa de Estudante do Rio Grande do Norte, mais
necessariamente o setor masculino. Atualmente, 210 estudantes ocupam a
entidade. No período de férias, os alunos não contam com o almoço
preparado pelos funcionários da casa e nem com a higienização do local, o
que piora ainda mais a situação daqueles que tiveram que ficar no local
durante o período de férias.
Instituição abriga 210 estudantes, mas muitos dos moradores vivem irregularmente no local, em busca de aluguel barato. Fotos: Fábio Cortez/DN/D.A Press |
Roberto Souza, nome fictício de um estudante de 19 anos que não quis se identificar, está na casa há seis meses. Caicoense, o jovem estuda da Escola Estadual Felipe Guerra e precisa se submeter a morar no local por não ter outro lugar para ficar. "É deprimente viver aqui. Tudo é tão sujo e precário. A alimentação, quando tem, é ruim. Sem contar que existem pessoas que moram na casa que não são mais estudantes e querem mandar em tudo", revela.
Depredação piora o quadro. Última reforma ocorreu em 2007 |
Os alimentos, o gás e o pagamento de luz e água do prédio estão sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sethas). Segundo o secretário adjunto da pasta, Walter Correia, a secretaria nunca deixou faltar recursos para manter a parte de sua incumbência. "A nossa parte está sendo feita. Porém, o prédio não é da responsabilidade do Governo Estadual. Cabe à administração cuidar da infraestrutura do prédio", disse o secretário.
Desabrigados usam a casa para lavar roupas, tomar banho e deixam o local ainda mais sujo. Os estudantes precisam aprender a compartilhar o espaço com não moradores e com qualquer pessoa que quiser entrar na casa. O quesito segurança é colocado em jogo constantemente, uma vez que o medo de assaltos e de roubos deixa os jovens que ali residem ainda mais inseguros.
O estado deplorável da casa é conseqüência do tempo e das ações de vandalismo cometidas pelos próprios estudantes que moram na casa. A última reforma em 2007, durante o governo Wilma de Faria, "não passou de uma maquiagem", segundo afirma outro estudante de 26 anos, que está na casa desde 2006, o qual também não quis se identificar. "Pouco tempo depois tudo volta a aparecer destruído: pias, lavabos, sanitários, chuveiros; tudo", revelou Francisco Lopes, nome fictício.
Segundo Francisco, a falta de consciência das pessoas que freqüentam a casa é a principal causadora da deterioração do prédio. "O pessoal não preserva, não cuida. Só estraga e quebra. Só pode dar nisso", disse o jovem. As aulas de reforço são dadas em um auditório detonado, com carteiras quebradas, diversas frestas no telhado e sem a prometida biblioteca e computadores. A iluminação do local não existe: "De noite, temos que andar apalpando as paredes ou com lanternas. As lâmpadas que tinham, os próprios estudantes retiraram para repor no quarto. É uma escuridão total", conta.
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