Depois de um fim de semana de superlotação, 53 pacientes ainda estavam "internados" nos corredores do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, no final da manhã de ontem, 02. A maioria aguarda vaga nos hospitais estaduais ou na rede conveniada - para cirurgias ortopédicas. A promessa da Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) era de transferir 26, dos 53 pacientes, para o Hospital Memorial. Essas remoções já começariam na tarde de ontem, segundo informou o secretário estadual de Saúde, Domício Arruda.
Adriano AbreuOntem, 53 pacientes estavam internados nos corredores do HWG
No início da noite, o secretário informou que parte das transferências tinham sido feitas, mas não estava com os números em mãos. Mesmo transferidos, os pacientes da ortopedia ainda vão aguardar para fazer as cirurgias. Isso porque, os cirurgiões e anestesiologistas, vinculados, respectivamente à Cooperativa dos Médicos do RN (Coopmed) e à Cooperativa de Anestesiologias do RN (Copanest) não estão realizando procedimentos eletivos.
A transferência de pacientes "internados" nos corredores do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel para os hospitais Deoclécio Marques, em Parnamirim, e para o hospital Rui Pereira, ajudaram a desafogar os corredores. No domingo, 01, 69 pacientes estavam "internados" nos corredores do HWG. Entre a tarde do domingo e a manhã de ontem, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesap) transferiu 16 pacientes, sendo 14 para o Hospital Dr. Ruy Pereira, em Natal, e dois pacientes para o Hospital Deoclécio Marques, em Parnamirim.
"Estamos monitorando o fluxo dos pacientes e os leitos disponíveis em outras unidades hospitalares do Estado para evitar a superlotação no Walfredo Gurgel e agilizar a liberação das ambulâncias", afirmou o Secretário de Estado da Saúde Pública, Domício Arruda. Os médicos vinculados ás duas cooperativas - Coopmed e Copanest esperam para esta terça-feira, 03, o pagamento de uma segunda parcela dos repasses em atraso.
Fernando Pinto, presidente da Coopmed. acredita que uma decisão, quanto à retomada dos procedimentos eletivos, só deve sair na quarta-feira, 04. Nesta data os anestesiologias têm assembleia. Os médicos da Coopmed tinham assembleia ontem a noite. "A intenção é restabelecer as cirurgias o mais breve possível".
As duas cooperativas tem contrato com a Prefeitura de Natal para garantir a realização de procedimentos de média e alta complexidade, nos hospitais da rede estadual, municipal e credenciada. No contrato, que complementa em 100% o valor da tabela do Sistema Único de Saúde (SUS), o Estado arca com 60% do valor do procedimento e o município de Natal, com 40%. Desde o último dia 13 de dezembro do ano passado, as cooperativas suspenderam a realização dos procedimentos eletivos, devido ao atraso na liberação dos repasses.
No caso da Coopmed, o repasse em atraso somava R$ 4,6 milhões [de agosto a novembro], incluindo a parcela do Estado e do SUS. Esses dois últimos entram na conta da Secretaria Municipal de Saúde, que apenas faz o repasse às cooperativas. Na quinta-feira, 29/12, a SMS repassou R$ 1,4 milhão à Coopmed, referente ao pagamento da parcela do município [setembro]; duas parcelas referentes ao desembolso do Estado [agosto e setembro] e o repasse do SUS outubro. No acordo com as cooperativas, essa primeira parcela deveria ter sido repassada no dia 20/12.
"Esses valores do Estado já estavam na mão do município há mais de 40 dias, mas não tinham sido repassados à Cooperativa", pontuou Fernando Pinto. A promessa do município é fazer um segundo repasse nesta terça-feira, 03/01 e um terceiro, no dia 12/01, para quitar o débito em atraso. No caso da Copanest o contrato com o município cobre os procedimentos da anestesiologia nas cirurgias eletivas e de urgência, nos hospitais universitários [Onofre Lopes, Maternidade Januário Cicco e Hospital de Pediatria Heriberto Bezerra, da UFRN]; os hospitais filantrópicos [Liga e Varela Santiago] e os hospitais conveniados da rede privada. A última fatura paga é referente ao mês de agosto/2011.
Na rede privada, os anestesiologistas prestam serviço no Incor, Hospital do Coração, Hospital Natal Center, Hospital Médico Cirúrgico, Hospital Memorial, Prontoclínica da Criança Paulo Gurgel e Urocentro. Na rede municipal, eles cobrem a Maternidade das Quintas. Segundo o presidente da Copanest, Madson Vidal, os procedimentos de urgência estão sendo realizados normalmente, no HUOL, MEJC, Varela Santiago e Maternidade das Quintas. No caso da Coopmed o contrato inclui as mesmas unidades hospitalares, com exceção dos hospitais universitários.
"Nós estamos mantendo plantão também no Incor, mesmo sem obrigatoriedade disso no contrato, e no caso da Liga, dependendo do caso, se o paciente não puder esperar nós damos cobertura", garantiu o médico. Os outros dois contratos da Copanest cobrem plantões nos hospitais Maria Alice Fernandes, Deoclécio Marques e no Santa Catarina e, segundo o presidente da Copanest, Madson Vidal, não sofreram interrupção. "Apesar de também haver atraso, nós estamos mantendo os plantões por envolver risco de morte. Não cogitamos suspender".
Ambulâncias do Samu ficam paradas
Das 17 ambulâncias que ficaram paradas, em frente ao Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, ao longo do domingo, 01, com macas "presas" no interior da unidade, quatro ainda continuavam na mesma situação, ontem pela manhã. Por volta das 11h20, segundo o condutor de um dos veículos, Jairo José da Silva, ainda não havia perspectiva de horário para a liberação das macas.
"Viemos às 7h para render a equipe de ontem (domingo, 01), aqui, porque eles não tiveram como sair e a maca está "presa" até agora. É difícil de maca ser liberada por aqui", contou o técnico de enfermagem da ambulância, Ivanaldo Sousa Santos. A unidade de suporte básico do Samu Natal estava no estacionamento do hospital, às 11h55, quando a reportagem deixou o hospital.
Para se ter ideia do caos, no domingo, das 12 ambulâncias do Samu Natal, oito ficaram retidas no HWG. O Samu Natal circulava com apenas quatro veículos. As outras nove retidas no HWG no domingo eram veículos do Samu Metropolitano. Segundo o condutor socorrista, Lailton Nóbrega, a dificuldade de liberar maca no HWG é grande. 'Essa dificuldade, não é de hoje. É uma situação que vem se arrastando há muito tempo, mas que se agravou no final do ano", afirmou o socorrista.
Por sorte, a ambulância que conduzia chegou às 11h20 e foi liberada às 11h45. "Encontramos uma maca de bobeira no corredor e pegamos", justificou. Em entrevista ontem à TRIBUNA DO NORTE, o coordenador do Samu Metropolitano, disse que a transferência dos 42 pacientes [26 deles seriam transferidos ontem para o Memorial] deve desafogar os corredores nos próximos quatro dias.
Hospitais no interior estão sem estrutura
Mas a crise no Hospital Walfredo Gurgel não tem como única razão a "greve" dos cirurgiões e anestesiologias contratos através de cooperativas médicas. A desestruturação dos hospitais no interior do Estado cria um gargalo que estoura nos corredores do HWG. Exemplos não faltam nos corredores da unidade, que é a maior do Estado. Andrea Ferreira de Araújo chegou ao hospital no sábado, 31, com a mãe Maria Freire de Araújo, 63 anos, que fraturou o fêmur. "A gente nem sabe quando ela vai fazer a cirurgia. Disseram que ia ser transferida hoje para o Memorial", disse Andrea. A mãe dela está no corredor numa maca da ambulância na qual foi trazida, do município de Várzea.
José Maria do Nascimento, 26 anos, ocupa uma maca, do Samu Metropolitano. Chegou ao hospital no domingo, 01, e aguarda transferência. "O médico disse que ele vai ficar em observação, por uma semana, para ver se há necessidade de cirurgia", contou a acompanhante Lúcia Venturino da Silva, considerando a situação absurda.
"Tem gente que está há 15, 20 dias esperando uma vaga para fazer cirurgia. Por isso, que fica lotado dese jeito". A mãe de Vitória Medeiros, dona José Alice, 66 anos, está numa maca, no corredor do hospital, aguardando há 19 dias, uma vaga para cirurgia ortopédica.
Vitória chegou ao hospital com a mãe no dia 15 de dezembro, dois dias depois de os cirurgiões e anestesiologias terem suspendido temporariamente os procedimentos.
O aumento no número de acidentes também agravou a situação. Nos dias 31/12 e 01/01 somente o Samu Natal fez 83 atendimentos de trauma, 15% a mais que no mesmo período em 2010.
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