sábado, 28 de janeiro de 2012

Tragédia nas escadas

Rio de Janeiro (AE) - As vítimas do desabamento no centro do Rio tentaram fugir do edifício Liberdade pela escada segundos antes que ele desmoronasse - levando ao chão outros dois prédios, matando 15 pessoas e deixando 12 desaparecidos até o início da noite de ontem. O equipe que trabalha na remoção dos corpos chegou ontem, no início da tarde, ao ponto em que estavam pelo menos quatro pessoas que teriam tentado descer do 3º andar depois de sentirem um tremor. Durante toda a tarde, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros passaram a concentrar as buscas no lado esquerdo do Liberdade, onde ficavam o hall de entrada, os elevadores e escadas.
Wilton Junior/AEVítimas do desabamento no centro do Rio de Janeiro tentaram fugir do edifício Liberdade pela escada segundos antes do prédio desmoronar. 
Vítimas do desabamento no centro do Rio de Janeiro tentaram fugir do edifício Liberdade pela escada segundos antes do prédio desmoronar.

"Esses últimos corpos encontrados estão próximos à escada e ao corredor. Por isso, imaginamos que eles tentaram sair. Começamos a imaginar que o prédio deu sinais de desabamento e houve um momento em que as pessoas tentaram sair dele", afirmou o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões.

Quase 48 horas depois do desastre, aumentam as dificuldades das equipes de buscas, uma vez que ainda havia cerca de 20 toneladas de escombros no local do desabamento. O corpo de uma mulher chegou a ser retirado por uma escavadeira e destinado ao terreno em que é armazenado o entulho. Só depois ele foi identificado e levado para o Instituto Médico Legal. O trabalho dos bombeiros também foi dificultado pela ameaça de desabamento de parte da estrutura, que havia ficado de pé. Foi necessário retirar grandes pedaços de concreto para permitir a circulação das equipes.

Apesar de haver espaços livres nessa região do edifício, o comandante do Corpo de Bombeiros descartou a possibilidade de encontrar pessoas com vida no local.

"Todos os corpos estavam muito machucados. Esse cenário mostra que houve um impacto muito forte da estrutura. Não retiramos nenhum corpo que não tivesse com algum tipo de trauma", explicou o coronel Simões.

As equipes também desistiram de encontrar sobreviventes pois havia focos de incêndio sob os escombros, provocados por vazamentos de gás que ocorreram após o desmoronamento. Um dos corpos estava carbonizado quando foi encontrado pelos socorristas.

Até as 19 horas, haviam sido retirados dos escombros 13 corpos: cinco mulheres, quatro homens e quatro pessoas cujos sexos ainda não foram identificados. Segundo a prefeitura do Rio, parentes ainda procuram 14 pessoas. As equipes de buscas devem continuar seus trabalhos até a manhã de domingo.

Os indícios de que houve um tremor nos três edifícios que desabaram às 20h33 de quarta-feira foram reforçados pelo depoimento de Marcelo Antunes Moreira, que era zelador do edifício Colombo. Ele estava no 7.o andar quando notou que havia algum problema no prédio vizinho e tentou fugir pelas escadas, mas só conseguiu chegar ao 6.o andar antes do desmoronamento.

Em meio aos escombros, consciente, mas com a maior parte do corpo imobilizado, ele notou que um bombeiro caminhava sobre as pedras. Com a mão esquerda, a única que conseguia movimentar, tocou o coturno do bombeiro para chamar sua atenção. Marcelo foi salvo, com ferimentos superficiais no rosto e nos braços. Levado ao hospital, ele recebeu alta ontem.

Theatro Municipal

A Polícia Federal abriu um inquérito para apurar os danos ao Theatro Municipal depois do desabamento dos prédios. Ontem, quatro peritos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e dois agentes da PF fizeram uma vistoria no local. Os danos foram considerados superficiais: algumas janelas parcialmente ficaram quebradas, pequenos pedaços de reboco caíram e foram detectados problemas no maquinário do palco, por causa da poeira. Os responsáveis pelo desabamento podem ser indiciados por crime contra o patrimônio da União.

Material retirado não passa por triagem

Rio (AE) - O Corpo Bombeiros, a Polícia Civil e a Polícia Militar não se entendem em relação ao destino dos bens encontrados nos escombros dos prédios desabados no Centro do Rio Ontem, 7 caixas eletrônicos do Itaú e 4 cofres de empresas de contabilidade foram achados, mas não há um inventário sobre os objetos de valor encobertos por toneladas de escombros.

As informações desencontradas geram dúvidas. As autoridades fornecem diferentes caminhos para os interessados em recuperar o patrimônio. Durante a madrugada de ontem, um dentista que tinha consultório no Edifício Colombo foi preso por calúnia e difamação ao acusar um bombeiro de saquear pertences.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, os objetos de valor são levados ao posto de comando móvel da corporação onde são registrados e entregues a Polícia Militar. A PM entregaria o material à Polícia Civil. "Este é um protocolo de 150 anos. É muito leviano imaginar que neste cenário de sofrimento e tristeza alguém seja capaz de pegar esta ou aquela peça", afirmou o comandante da Defesa Civil, o coronel do Corpo de Bombeiros Sérgio Simões.

No entanto, a Polícia Militar informou em nota ontem que "todo o material e os pertences das vítimas encontrados nos desabamentos estão sob a responsabilidade da Prefeitura e devem ser encaminhados para um depósito municipal"A PM acrescentou que atua apenas no cerco ao local da tragédia.

A Polícia Civil também negou que fique responsável por pertences encontrados nos escombros. De acordo com a Assessoria de Comunicação da instituição, os peritos apreendem apenas o material de interesse da investigação sobre as causas do desabamento, como vigas e pedaços de concreto corroídos. A polícia informou que um funcionário do Banco Itaú acompanha as buscas.

O material retirado do local do desabamento não passa por uma triagem, segundo o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório. O entulho removido pelas máquinas é colocado em caminhões, que os depositam em um canteiro de obras da prefeitura na zona portuária. De lá, tudo segue em grandes carretas para um terreno próximo ao lixão de Gramacho, em Duque de Caxias, na Baixada.

"O material vai ficar separado porque ainda pode ser necessário realizar uma perícia nesses escombros", explicou Osório. "Já requisitamos e temos o apoio policial necessário para proteger o local onde está o material." Apenas os cofres, caixas eletrônicos do banco que funcionava em um dos prédios e os objetos que eram facilmente identificados pelas equipes de resgate são separados no local do desabamento.

Autuado por calúnia e difamação depois de ter acusado um sargento do Corpo de Bombeiros de se apropriar de objetos encontrados nos escombros dos prédios que desabaram no centro do Rio, o dentista Antônio Molinaro continuava ontem sem saber o que fazer para recuperar o que restou de seu consultório, que ficava no quarto andar do Edifício Colombo.

Obras no prédio causavam polêmica antes do desastre

Rio de Janeiro (AE) - Apontada por especialistas e dirigentes do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ) como uma das possíveis causas do desabamento do Edifício Liberdade, as obras promovidas pela Tecnologia Organizacional (TO) no terceiro e no nono andares do prédio eram fonte de polêmica muito antes da tragédia.

O condomínio já havia pedido explicações à TO sobre as intervenções que estavam sendo realizadas. Havia preocupação em relação ao entulho e ao peso que o material de construção guardado nas salas da empresa exercia sobre a estrutura do prédio.

Contratado pela TO, o engenheiro calculista Paulo Sérgio da Cunha Brasil elaborou um laudo limitando-se a informar ao síndico Paulo Renha que os quatro sacos de cimento armazenados no terceiro andar não apresentavam risco à estrutura. Ele negou tem qualquer participação na obra e disse que não foi contratado para fazer avaliações no nono andar.

"Havia um questionamento do síndico se aqueles quatro sacos de cimento poderiam provocar dano à estrutura. Eu falei que esse era o peso equivalente a duas pessoas se cumprimentando. Pensei até que era brincadeira. Isso não pode, evidentemente, causar nenhuma avaria", explicou o engenheiro. Cada saco de cimento pesa 50 quilos.

Cunha Brasil destacou que não chegou a identificar um engenheiro responsável pela obra no local. Ele também disse ter achado estranho que Renha não tenha apresentado questionamentos sobre uma parede que ele viu sendo erguida no terceiro andar. "Isso o síndico não questionou. E a parede é mais pesada que os sacos de cimento", disse.

Ainda segundo o engenheiro, todos os pilares do Edifício Liberdade eram externos. Não havia pilares ou vigas no meio das lajes do prédio. A eventual remoção de parede interna, portanto, não provocaria abalo na estrutura do edifício. "Todos os pilares são externos. No meio da laje, não tem pilar e não tem viga. Era uma laje plana", explicou.

Procurado, o advogado Geraldo Beire Simões, que representa o síndico do edifício Liberdade, não retornou as ligações. À TV Globo, ele informou que o laudo sobre as obras no nono andar ainda estavam sendo aguardados.

Em entrevista coletiva concedida ontem, Sérgio Alves, um dos sócios da TO, alegou que as obras no nono andar tinham começado há apenas oito dias e reconheceu que o laudo pedido pelo síndico não tinha sido entregue, pois o engenheiro Cunha Brasil precisou resolver problemas pessoais. O sócio disse que o síndico foi comunicado e que recebeu uma autorização verbal para iniciar a reforma e entregar o laudo em até 15 dias.

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