segunda-feira, 21 de maio de 2012

Margareth Grilo
repórter especial
Júnior Santos
repórter fotográfico

900 quilômetros percorridos, do Agreste potiguar ao Médio Oeste; entrando e saindo de fazendas e povoados; atravessando riachos secos; margeando barreiros que minguam a cada dia; conhecendo agricultores sem roçados e pecuaristas sem rebanhos; ouvindo histórias de velhos sertanejos com a memória cheia de sol; encontrando jovens desdenhosos da terra e herdeiros das ajudas oficiais do governo; homens a quem a esperança parece ter enraizado no chão e a experiência ensinou a conviver com a falta de chuvas no semiárido potiguar.
Júnior SantosPelos caminhos da secaPelos caminhos da seca
Foram essas as paisagens e personagens que, ao sairmos de Natal no último domingo (13), passamos a encontrar por todos os caminhos que eu, o fotógrafo Júnior Santos e o motorista Duda, percorremos para atender ao desafio lançado pelos editores da TRIBUNA DO NORTE: mostrar em uma série de reportagens o que a seca deste ano - um ano que começou com as melhores promessas e previsões de um inverno acima do normal - tem de tão assustadora e grande, para estar sendo considerada a pior das últimas três décadas.

O ponto inicial da jornada foi a feira do município de   São Paulo do Potengi. No domingo, cedinho, estávamos no local da venda de milho e do feijão verde, produtos, ora bem disputados, ora rejeitados pelo alto preço que têm nessa época. Nas férias do interior, além de pechinchar os preços, o que mais clientes e feirantes fazem é falar sobre a falta de chuvas, o fim dos roçados, a morte das criações, as dificuldades de todos e as tentativas de cada um - do pequeno ao grande - para escapar ao desastre da estiagem. Também falam bastante do que deveria ter sido e não  foi feito pelo Governo. Representantes da Igreja, dos sindicatos rurais, do poder público e, principalmente, o homem do campo - todos que ouvimos - são unanimes que a seca "já não deveria causar tantos estragos nem surpreender ninguém".

E porque ainda surpreende? Pergunta simples, mas a resposta não é tão fácil nem única. Imprevidência administrativa, falta de vontade política, recursos escaços, ausência de projetos, questões culturais.. são muitos os fatores que parecem concorrem para o fato de, cinco séculos após o início da colonização e muitas mudanças socioeconômicas depois no Nordeste brasileiro, a seca continuar a sendo "um inimigo" nunca vencido e não "um vizinho indesejável, mas de convivência possível".

  A seca colocou 139 municípios potiguares em emergência reconhecida, produz miséria e desolação. Por todos os cantos, o que se encontra é um homem calejado, tolhido, dia a dia, por uma luta árdua para garantir a sua sobrevivência, de sua família e de seus animais. Uma luta que a seca não dá trégua e que já habituou o sertanejo, embora muitos afirmem que a estiagem, este ano, foi uma surpresa. Assim, o sertanejo vai escapando e 'vivendo como Deus quer, sempre olhando adiante, para o futuro", resumiu o agricultor  Manoel Cassiano, 74 anos, morador na zona rural de São Rafael. Maria das Graças Dantas Perreira, sertaneja residente na  Fazenda Curral Velho, em Jucurutu, é igualmente filosófica diante do desastre: "a vida tem flores e espinhos, e a gente tem que viver as duas situações, senão o que seria a vida?".

Atravessamos o Estado sem muitos problemas. O dia começava cedo, por volta das 6h e terminava já no cair da tarde. Por vezes, como em Santana do Matos, quase noite. As dificuldades de apuração foram maiores nas zonas rurais, onde a estiagem provocou êxodo e é preciso percorrer, por vezes, quilômetros para encontrar casas habitadas. Demos sorte em alguns momentos, em outros não.

Na quarta-feira, 16, em uma das estradas carroçáveis da zona rural de Lajes, um dos pneus de nosso veículo furou. Foram mais de duas horas perdidas em busca de um  borracheiro que fizesse o conserto, que nos permitiria com segurança retomar a estrada, na direção de Santana do Matos.

Enfim, às 14 horas seguimos adiante. Seriam mais três dias de viagem pelo sertão, indo até São Rafael, e retornando pelas principais cidades do Seridó. Na primeira cidade seridoense, Jucurutu, mais um incidente. Num dos apiários que fomos conhecer uma das abelhas das colméias cultivadas por seu Francisco Canindé, atacou o tornozelo do nosso repórter fotográfico. Nada grave. Apenas "ossos do ofício".

A verdade é que fomos tomados por essa experiência. Vamos tentar transmiti-la, em detalhes, para vocês a partir de terça-feira (22) e até o próximo domingo (27), em seis reportagens diárias.

Ora por rodovias federais e estaduais, ora por estradas de barro nossa equipe se deparou com cenários desoladores. A série de reportagens mostra bem a batalha que se trava no sertão por água e por alimento para os animais; a dependência dos programas sociais, a espera pela ajuda emergencial. A final do percurso, duas cenas foram marcantes: o 'cemitério' de animais em fazendas do município de São Tomé e o abandono da zona rural, onde o fenômeno do êxodo rural está de volta.

Em vinte e dois anos de profissão já fiz muitas coberturas no sertão potiguar. Já tinha visto a terra seca, açudes esturricados, gado magro, sertanejo lutando para tirar da lida seu sustento. Mas em secas passadas era possível movimentar o gado de uma área para outra, onde o pasto ainda brotava. Agora, encontrei uma estiagem que se espalha uniforme, na mesma proporção por todas as áreas do Estado, sem poupar serras, vazantes dos rios ou a circunvizinhança dos reservatórios d´agua.


de não ter olhado as manchas solares. Nada é perfeito. A gente leva patada. Mas é aquela coisa, o que vale é o último: não adianta você acertar tudo e no quesito mais importante você errar. Você vai ser penalizado por aquele erro.

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