Propostas e medidas para frear a criminalidade e a violência no País
têm recrudescido nos últimos meses. Uma parcela significativa da
sociedade defende a redução da maioridade penal e endurecimento das
leis. Casos como o do estudante Victor Hugo Deppman, 19 anos, morto na
porta de casa por um adolescente de 17 anos reascenderam o debate, que
levou até o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a
encaminhar para o Congresso um projeto de revisão do Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) em relação aos crimes violentos.
Segundo estudo recente divulgado pelo Centro Brasileiro de Estudos
Latino-Americano, especialista em estudos científicos e sociais em 17
países, denominado Mapa da Violência 2013 – o número de mortes por armas
de fogo no Brasil subiu 365% em 30 anos. Por outro lado, os índices
correspondentes ao número de mortes para cada 100 mil habitantes apontam
que as taxas se estabilizaram a partir do ano 2000.
A solução definitiva para esse problema divide especialistas, que
defendem ou condenam o desarmamento da população, visto como o ponto
crucial deste debate. Para entender melhor esse complexo problema
social, o Terra ouviu especialistas que atuam diretamente na área da segurança sobre alternativas para a diminuição da violência.
Pró-desarmamento
De acordo com a Coordenadora de Sistemas de Justiça e Segurança
Pública do Instituto Sou da Paz, Carolina Ricardo, para se acabar com as
mortes por armas de fogo no Brasil é preciso investir em uma política
forte de desarmamento. “De fato, na década de 90 houve um aumento muito
grande no número de mortes, porém, a partir do ano 2000, houve uma
tendência de queda. Nós percebemos uma mudança no perfil dessas mortes,
que deixaram as grandes cidades do Sudeste a passaram a se concentrar em
áreas das regiões Norte e Nordeste”, disse.
Carolina aponta que houve um grande avanço no combate à violência com
a entrada em vigor do estatuto do desarmamento, mas acredita que há
muito a se fazer ainda. “A aprovação do estatuto é uma grande vitória. O
que vivemos desde 2003 é o desafio para implantar o estatuto por
inteiro, mas já podemos afirmar que nos Estados onde houve mais
recolhimento de armas de fogo, houve uma queda maior no número de
mortes”, falou a pesquisadora, que destaca o trabalho feito por
Pernambuco, que foi o único Estado do Nordeste a apresentar redução nas
mortes por arma de fogo entre 2001 e 2010, tendo sido o Estado com o
menor número de concessões de porte de armas na região no período e o
que mais recolheu armas nas campanhas de entrega voluntária.
No Sudeste, as duas maiores cidade do País também se destacaram nos
índices. São Paulo e Rio de Janeiro recolheram mais de 490 mil armas
ilegais e concederam menos portes. Em 2010, São Paulo registrou 9,3
mortes por armas de fogo para cada 100 mil pessoas, contra 28,7 casos no
ano 2000.
Para Carolina Ricardo, é preciso tirar o Estatuto do Desarmamento “do
papel”. Segundo ela, o principal caminho para reverter drasticamente o
quadro de violência no Brasil é “criar uma base de dados organizada para
saber quantas armas estão em circulação”. A pesquisadora acredita ser
muito fácil se conseguir uma arma no Brasil, já que o controle ainda
está longe do ideal. “As forças de segurança, por exemplo, precisam ser
melhor fiscalizadas e cuidar dos estoques de armas. Muitas delas acabam
parando nas mãos dos criminosos.”
Sobre a mobilização popular em defesa da diminuição da maioridade
penal, a representante do Sou da Paz disse que essa é uma resposta
superficial em relação ao problema da criminalidade. “Muita gente
reclama que o criminoso é preso e muitas vezes é solto em seguida. Vejo
que não devemos analisar o problema por esse ponto. O principal problema
aqui é a morosidade da resposta judicial. Se a lei garante que a pessoa
responda o processo em liberdade, ela pode responder em liberdade, mas a
maioria dos casos nem sequer é investigada”, disse.
“A taxa de homicídios esclarecidos no Brasil é de apenas 8%. Muitas
vezes os crimes não são investigados da maneira correta, provas se
perdem e a Justiça demora para julgar. Esse é um problema que precisa
ser solucionado”, disse Carolina Ricardo.
Contra o desarmamento
Para o ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) e
vereador de São Paulo coronel Paulo Adriano Lucinda Telhada (PSDB), o
desarmamento pode ser um fator que potencializou os crimes violentos na
sociedade. Para ele, o ideal era que houvesse a possibilidade do porte
de arma, mas com um controle rígido sobre isso.
“Vejo o crime com armas de uma maneira que eu responsabilizo até a
própria lei do desarmamento. Sabe por quê? Porque a lei do desarmamento é
feita para punir o cidadão de bem. O bandido não está nem aí se tem a
lei do desarmamento, ele vai continuar armado do mesmo jeito, e com
armas pesadas”, disse o vereador.
Para o ex-policial, o número alarmante de mortes por armas de fogo no
País existe em decorrência da própria legislação. “Eu acho que um dos
problemas sérios da morte com relação a armas de fogo, de modo geral, é
uma legislação muito branda. Eu vejo como uma legislação falha, na qual o
cara que comete crimes seja encarado como uma pessoa que fez isso (por
causa) da lei e por nossa sociedade terrível. Vejo que a nossa lei é até
benévola: ela vitimiza o bandido. A vítima do crime acaba sendo vítima
do bandido e da própria sociedade. Isso é algo muito perverso de se
pensar”, falou Telhada.
Famoso defensor das causas policiais, o vereador tucano relembra dos
tempos de farda e relata experiências em ocorrências. “Eu sei o que
representa uma arma. Fui baleado duas vezes, sei o quanto dói.
Infelizmente estive em vários entreveros e não desejo a ninguém matar
uma pessoa ou ser baleado. Quem mais odeia a violência é quem trabalha
com ela. Não tem pessoa que mais queira a paz do que eu. Eu fui vítima
da violência, eu fui baleado, eu estive em vários tiroteios e sei o
quanto isso é terrível e o quanto é triste para a família”, falou.
Para Telhada, a legislação brasileira não precisa seguir o modelo dos
Estados Unidos – onde armas pesadas são vendidas em lojas -, mas também
não deveria desarmar a população. “Atitude de desarmar a população é
típica de regimes como nazismo, fascismo, socialismo e até militarismo.
Sou contra qualquer ideologia radical, seja de esquerda ou de direita. A
grande sacada é a democracia. Veja os Estados Unidos – apesar de achar
que há excessos por lá. Mas você vê que o governo não tem medo de que a
população ande armada, porque o governo não tem que temer o povo”,
falou.
Questionado sobre casos típicos de uma sociedade armada, como aumento
de mortes em brigas de trânsito ou por motivos banais e até acidentes
dentro da própria casa, Telhada contra-argumentou: “Realmente pode
acontecer, mas o que acontece com essa lei atual? Você quer matar o
carrapato, mas ao invés disso você mata a vaca que é mais fácil. Para
não morrer nenhuma criança, que seria horrível, ninguém anda armado.
Está um ‘samba do crioulo doido’. Bandido faz o que quer e continua
matando pai de família. Se o cidadão puder andar armado, que se tenha
uma lei forte, para que o ‘cara’, se fizer qualquer besteira, vá preso.
Eu não sou favorável a passar a mão na cabeça de ninguém, nem policial,
nem autoridade, nem o cidadão comum. Todo mundo é igual perante a lei”,
completa.
Sobre soluções alternativas para se combater a violência, o vereador
acredita que atitudes como o aumento de policiais na rua, apreensão de
armas ilegais e a colaboração da sociedade podem amenizar o problema.
“Aqui em São Paulo nós começamos com o Disque-denúncia há alguns anos e
hoje temos em todo o País. Uma denúncia facilita a retirada de armas
ilegais da sociedade e isso ajuda a diminuir a violência. Com a
legalização, quem portasse uma arma ilegal, com certeza estaria com má
intensão. Esse sempre tem que ser punido”, concluiu.
Fonte: Portal Terra
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