Por: Gessica Ribeiro
A adolescência é um período de muitas descobertas, mas também
bastante conturbado, devido às mudanças que acontecem nessa fase da
vida. A transação entre a infância e a vida adulta traz uma série de
novidades, com as mudanças do corpo e na forma de pensar e agir. É na
adolescência que meninos e meninas começam a formar sua identidade e
fazem valer suas vontades. A partir daí, começam as paqueras, os namoros
e muitos deles decidem iniciar sua vida sexual.
No entanto, pela falta de maturidade de meninos e meninas que tomam
essa decisão precoce, o número de adolescentes grávidas é cada vez
maior. E segundo pesquisadores e especialistas no assunto, isso já não
caracteriza apenas uma questão sócio-econômica, pois ao contrário do que
acontecia há alguns anos, atualmente adolescentes das classes média e
alta também compõem esse quadro.
No Brasil, o índice de gravidez na adolescência é de 20% e para
evitar que esse número aumente, governos, escolas, hospitais, igrejas e
entidades que desenvolvem ações sociais, estão desenvolvendo projetos de
conscientização quanto à essa temática.
No Rio Grande do Norte, a cada 100 crianças nascidas, 21 são filhos
de jovens de 10 a 19 anos, isso corresponde a 21% do total de grávidas.
Na tentativa de reduzir esse índice, em março deste ano, o Governo do
Estado aderiu ao projeto ‘Vale Sonhar’, do Instituto Kaplan, que foi
implantado em 167 municípios, por meio da Secretaria de Estado da
Educação e Cultura (Seec).
O Instituto Kaplan, referência em todo o Brasil na disseminação do
conhecimento sobre educação e responsabilidade sexual, desenvolve o
projeto ‘Vale Sonhar’, que visa contribuir com a diminuição do número de
gravidez na adolescência através de um trabalho desenvolvido nas
escolas públicas. O projeto realiza nas escolas de Ensino Médio
palestras, ações e oficinas de prevenção sobre responsabilidade pessoal
dos alunos, a partir da percepção do impacto da gravidez no projeto vida
e no futuro de um adolescente.
Para a titular da Seec, Betania Ramalho, a implantação do projeto
tende a diminuir evasão escolar, causada pelas dificuldades geradas com
uma gravidez precoce. “A gravidez na adolescência é o motivo pelo qual
25% das meninas deixam a escola antes do tempo. Por ser um período muito
difícil para elas, quando a vida muda em diversos aspectos, e até por
não ter com quem deixar os bebês quando nascem, elas optam por abandonar
a vida escolar, abrindo mão das expectativas e do sonho de ser alguém
por via da escola. Acredito que através do projeto ‘Vale Sonhar’, nós
conseguiremos reduzir os índices de adolescentes grávidas no nosso
Estado e evitar que elas desistam de seu futuro, afirmou.
A gravidez é o período de crescimento e desenvolvimento do embrião na
mulher e envolve várias alterações no organismo, e sendo ela planejada
ou não, exige cuidados importantíssimos à saúde da mãe e do bebê. Do
ponto de vista físico-biológico, a gravidez na adolescência é de alto
risco, devido ao sistema reprodutivo na menina ainda não estar
completamente desenvolvido.
De acordo com a ginecologista e obstetra Cleide Bessa, os riscos em
uma gravidez precoce são os mesmos de uma gravidez de uma mulher prestes
a atingir a chamada melhor idade. “Do mesmo modo que uma mulher com
mais de 45 anos apresenta uma gravidez de alto risco, uma adolescente
também apresenta, pois seu ovário não ovula normalmente, e seu organismo
não produz hormônios no equilíbrio total. A incidência de hipertensão,
comum na gravidez, é ainda maior nas adolescentes que também são mais
propensas a ter anemia. Além disso, elas não se cuidam como devem,
geralmente continuam com os mesmo hábitos alimentares, não tomam a
medicação indicada e, com isso, se o quadro anêmico se agravar, aumenta
ainda mais o risco de o bebê nascer prematuramente, com baixo peso e
dificuldades para sobreviver”, explicou.
A série de mudanças físicas e psicológicas que ocorrem durante a
gestação, aliada aos conflitos com familiares e a perda da liberdade com
a chegada do bebê, tornam o período pós-parto um momento difícil, e que
pode trazer como conseqüência, a depressão. Para muitos destes
adolescentes, não há perspectiva no futuro, e os planos de vida se
perdem.
Por isso, Cleide Bessa alerta sobre a importância da realização do
pré-natal para que a adolescente tenha o apoio de um profissional para
explicar todas as mudanças que ocorrem durante e depois da gestação. “A
adolescente gestante deve ter o acompanhamento pré-natal, pois nesses
atendimentos ela poderá compreender melhor o que está acontecendo com
seu corpo, com seu bebê, prevenir doenças e, além disso, poder conversar
abertamente com um profissional, esclarecendo suas dúvidas e anseios”,
disse.
A gravidez na adolescência, geralmente acarreta sérias conseqüências
para todos os familiares, mas principalmente para os adolescentes
envolvidos, pois envolvem crises e conflitos, já que não estão
preparados emocionalmente e nem mesmo financeiramente para assumir
tamanha responsabilidade. Com isso, muitos são expulsos de casa ou até
mesmo saem por conta própria para fugir da pressão que sofrem. Sem
apoio, algumas meninas chegam a cometer abortos ou abandonam as crianças
sem saber o que fazer ou para fugir da própria realidade.
Diversos fatores podem estar relacionados à gravidez na adolescência e
vão desde a estrutura familiar até a formação psicológica. Por isso, o
apoio da família é tão importante, como afirma a ginecologista e
obstetra, Cleide Bessa. “Muitas adolescentes escondem a gravidez dos
pais, por medo das reações e até mesmo porque nunca tiveram um bom
relacionamento com eles. A família é a base que pode ser um suporte para
esses adolescentes, que não estão preparados para enfrentar todas as
mudanças causadas por uma gravidez precoce. É importante a compreensão, o
diálogo, a segurança, o afeto e auxílio para que tanto os adolescentes
envolvidos quanto a criança que está sendo gerada se desenvolvam de
forma saudável. O apoio da família é indispensável nesse momento”,
afirmou.
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