Ano de 2013 entra para a história como o mais violento já registrado até essa quarta-feira no Estado
Alessandra BernardoRepórter
O ano de 2013 foi um dos mais violentos para o Rio Grande do Norte,
que chega ao dia 31 de dezembro registrando 1.636 homicídios e quase
três mil veículos roubados. Sem contar nos cerca de 900 assaltos a
ônibus e microônibus do sistema de transporte público ocorridos somente
na Região Metropolitana de Natal e nos 46 ataques a agências bancárias,
sendo 19 com o uso de explosivos, registrados em todo o Estado. Mas, há
pelo menos uma boa notícia, a polícia conseguiu retirar de circulação
quase cinco toneladas de drogas este ano.
Para o presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos
(Coedh/RN), Marcos Dionísio, o número oficial de homicídios ocorridos no
Rio Grande do Norte neste ano pode ser ainda maior, já que muitos casos
nem chegam ao conhecimento dos órgãos de segurança pública ou da
imprensa. Esse é o caso dos assassinatos cometidos muitas vezes em áreas
rurais ou municípios distantes da capital, onde é feito o levantamento
dos registros.
Entre os municípios com os maiores números de homicídios registrados
no Estado estão Natal, que já contabiliza cerca de 600 crimes; Mossoró,
com 179 mortes violentas; Parnamirim, que tinha registrado até o mês
passado 120 execuções e Macaíba, com 104. Os dados do Coedh/RN, são
assustadores e geralmente refletem um mesmo perfil das vítimas, ou seja,
jovens moradores de comunidades menos abastadas ou carentes, sem acesso
a serviços essenciais como educação, saúde e infraestrutura.
“Natal, Macaíba, São José de Mipibu, Ceará-Mirim, São Gonçalo do
Amarante, Parnamirim já vivem taxas de guerras civis ou de conflitos
como na Síria ou o do Iraque. Com relação a São Gonçalo, a preocupação é
relacionada ao novo aeroporto, que movimentará um grande volume de
riquezas no Estado. Isso pode atrair a atenção de bandidos pequenos e
grandes, o que, sem contratar mais policiais civis ou militares, pode
ser difícil de controlar”, explicou Marcos.
Ele citou ainda que a falta de investimento e de compromisso das
autoridades estaduais com a segurança pública potiguar, que além dos
diversos problemas estruturais e o efetivo insuficiente para prevenir e
combater os altos índices de criminalidade registrados pelo RB nos
últimos anos, pode piorar a situação.
Assaltos a ônibus viram rotina no rn
Quase 900 assaltos a ônibus registrados somente na Região
Metropolitana de Natal, até meados de dezembro. O número, que representa
praticamente o dobro do total registrado em todo o ano passado, assusta
não apenas os passageiros que necessitam do sistema de transporte
público, mas também a todos que trabalham no serviço. Conforme dados do
Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado
(Sintro/RN), por causa disso, 25% dos funcionários estão afastados de
suas atividades.
Ele disse ainda que os ataques ocorrem a qualquer hora do dia ou da
noite e que a maioria dos assaltantes são adolescentes em busca de
dinheiro para comprar drogas, que atacam quase sempre nos mesmos pontos,
a exemplo da Avenida Bernardo Vieira, nas proximidades do bairro das
Quintas. O local é um dos mais perigosos para os operadores, que citam
ainda os bairros das zonas Leste, Oeste e Norte como os trechos mais
assustadores e fonte de reclamação.
Para o diretor do Sintro/RN, Oswaldo Furtado, a falta de policiamento
ostensivo é um dos principais fatores que colaboram para o grande
número de assaltos. “Estamos entregues à bandidagem, que já não escolhe
mais hora para atacar. Não há segurança, não vemos policiais nas ruas e
os poucos que ainda vemos não são suficientes para banir os bandidos.
Sabemos que a maioria dos assaltantes quer é dinheiro para comprar
pedras de crack, que é a praga de hoje”, disse Oswaldo.
Arrombamentos e explosões de bancos marcam a temporada
Em 2013, o número de ataques a agências bancárias em todo o Rio
Grande do Norte aumentou cerca de 28%, em relação ao ano passado. Das 46
ocorrências registradas até ontem, em 19 delas os bandidos usaram
explosivos para terem acesso ao dinheiro contido dentro dos caixas
eletrônicos, principais alvos das quadrilhas, sobretudo nos municípios
do interior do Estado, onde o policiamento é menor.
Conforme os dados oficiais do Comando Geral da Polícia Militar, além
dos explosivos, os bandidos também apelaram para o uso de maçaricos em
23 ocorrências, algumas delas sem sucesso por causa da ação dos
militares, que conseguiram chegar a tempo de evitar o roubo. Além disso,
operações policiais realizadas nas divisas com os estados do Ceará e
Paraíba também colaboraram para evitar que o número de ataques fosse
maior, segundo o comandante geral, coronel Francisco Canindé de Araújo
Silva.
Um dos ataques que mais chamaram a atenção da população neste ano foi
contra a agência do Banco do Brasil do município de Apodi, no início de
novembro. Na ocasião, uma quadrilha com cerca de 20 integrantes
invadiram a cidade, cercaram o prédio da Polícia Militar e explodiu os
terminais eletrônicos. A reação policial veio rápido, mas um soldado
ficou gravemente ferido. Foi tanto explosivo que toda a estrutura física
do prédio ficou destruída.
Para o coronel Araújo, muitas das quadrilhas que cometem esse tipo de
crime atuam não só no Estado, mas também na Paraíba, Ceará e
Pernambuco, que também registram casos de explosão e arrombamento de
caixas eletrônicos e agências bancárias. Ele disse que a corporação está
trabalhando em conjunto com outros órgãos da Segurança Pública, para
coibir esse tipo de crime.
Quase três mil veículos roubados só até novembro
Aumentando visivelmente a cada ano, o roubo e/ou furto de veículos no
Rio Grande do Norte também é um tipo de crime que assombra os
potiguares. Conforme dados da Delegacia Especializada na Defesa da
Propriedade de Veículos e Cargas (Deprov), cerca de 2,9 mil veículos já
foram subtraídos até o final de novembro passado em todo o Estado, o que
dá uma média de 264 roubos por mês ou ainda cerca de oito por dia.
Entre os modelos preferidos, estão os populares Palio, Uno e Gol,
além dos automóveis com maior potência, geralmente acima de 2.0, usados
principalmente para outros crimes. Estes geralmente são abandonados após
o uso, o que, conforme informações da Deprov, colaboram para a média de
49% de recuperação dos automóveis levados, ou seja, cerca de 1.450.
Segundo o ex-titular da Deprov, Frank Albuquerque, neste quesito, o
principal alvo dos bandidos são as caminhonetes Toyota Hilux, usados por
quadrilhas para cometer outros crimes. “Os assaltantes querem carros
com motor potente para poderem fugir dos locais com máxima rapidez. E
usam veículos com tração para poderem praticar assalto até em terrenos
de fazenda, que podem apresentar muitas dificuldades em suas estradas”,
explicou.
Já entre os bairros com maior incidência de roubos são Lagoa Nova,
Alecrim, Candelária e Nossa Senhora da Apresentação. Fora da capital, o
município vizinho, Parnamirim, também é responsável por uma grande
parcela de ocorrências. E, os veículos que não são abandonados e
recuperados, são geralmente encaminhados para desmanche, onde suas peças
são revendidas a preços abaixo do mercado, dentro e fora do Rio Grande
do Norte.
Na última sexta-feira, os policiais da Deprov prenderam 11 pessoas
acusadas de integrarem uma quadrilha especializada em furtos, roubos e
adulteração de veículos na Região Metropolitana de Natal, durante a
Operação Revide. Com os acusados, foram apreendidos 11 automóveis, duas
armas de fogo, R$ 25 mil em dinheiro, cheques, documentos e vários
equipamentos para adulteração de veículos. Entre os presos, três já
estavam detidos em presídios do Rio Grande do Norte.
Segundo o delegado Atanásio Gomes, atual titular da Deprov, as
investigações começaram em março passado, quando o delegado Frank
Albuquerque ainda respondia pela unidade e resultou em 17 mandados de
prisão e 25 de busca e apreensão. Ele explicou que a quadrilha atuava no
Rio Grande do Norte e Paraíba e que as encomendas dos veículos roubados
eram feitos, geralmente, de dentro dos presídios.
Cinco toneladas de drogas apreendidas nas ruas do Estado
Em contrapartida ao crescimento da violência no Rio Grande do Norte, a
população tem um motivo para comemorar: a retirada de quase cinco
toneladas de drogas das ruas, pelas mãos das polícias Civil, Militar,
Federal e Rodoviária Federal. Somente no sábado passado, duas toneladas
de maconha foram apreendidas de uma única vez, no bairro de Nova
Esperança, em Parnamirim.
Além da maconha, que representa 4.665 toneladas de todo o
entorpecente apreendido em 2013 no Estado, também foram recolhidos cerca
de 27 quilos de cocaína e 20 quilos de crack, que é hoje uma das
principais pragas, segundo o comandante da Polícia Militar, coronel
Araújo.
Mais uma vez, a Polícia Civil conseguiu, através da Delegacia
Especializada de Narcóticos (Denarc), ter a maior apreensão de drogas do
Estado, enquanto a Polícia Rodoviária Federal (PRF), ficou com a menor
apreensão. Já a Polícia Federal registrou um aumento de 50,66% na
quantidade de drogas apreendida este ano, em relação ao total recolhido
em 2012, conforme dados divulgados pelo órgão na manhã de hoje.
Conforme os dados divulgados ontem pela instituição, foram 967,7
quilos de entorpecentes, entre maconha, cocaína e crack, que foram
retirados das ruas em 2013, incluindo os 15,9 quilos de cocaína
apreendidos somente no Aeroporto Internacional Augusto Severo, em
Parnamirim, em três ocasiões diferentes.
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