quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Tragédia: Morte de 10 agricultores no Agreste reacende debate sobre segurança na migração de cortadores de cana

 
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O motorista Luiz Carlos Torquato dirige ambulâncias há três anos, mas disse nunca ter visto uma cena de acidente tão chocante quanto a do acidente que matou 10 agricultores em Venturosa, no Agreste do estado. Depois de estourar um dos pneus, uma Sprinter superlotada com 23 trabalhadores que iriam trabalhar no corte de cana-de-açúcar em Coruripe, Alagoas, perdeu o controle e caiu da Ponte da Carrapateira, no quilômetro 32,4 da BR-424, na noite da segunda-feira. Luiz não sabia por onde começar a ajudar as vítimas em meio ao pânico em que também se viram 13 feridos. Sem querer, o motorista testemunhoau um dos episódios mais tristes da história de outra cidade - Betânia, no Sertão - de onde partiram as vítimas. A tragédia reacende o debate em torno da qualidade do transporte oferecido aos canavieiros, principalmente entre estados. Em dezembro de 2011, um acidente no Mato Grosso do Sul matou 33 pessoas, a maioria trabalhadores de Buíque (PE).

“Foi uma cena muito triste a que encontramos depois do acidente. Chegamos por volta das 19h30 e já havia umas cinco pessoas mortas no chão. Também tinha gente presa nas ferragens e um homem puxou a minha perna implorando por socorro. Começamos a levar os feridos para o Hospital de Venturosa”, contou Luiz. Segundo a polícia, o veículo estava com a capacidade bem acima do permitido, que seria de 16 passageiros.

O caso foi registrado pela Delegacia de Venturosa e pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). A polícia ainda não sabe a velocidade que o carro estava desenvolvendo no momento do acidente. O delegado de Venturosa, Gustavo Ramos, segue investigando o caso, de acordo com o chefe da Polícia Civil, Osvaldo Morais. O motorista Josivan Severino dos Santos, que está internado em estado grave no Hospital da Restauração, deve ser indiciado pelas mortes.

Durante todo o dia ontem, dezenas de curiosos paravam para ver o veículo que ficou completamente destruído ainda na ribanceira onde caiu. O comissário Edmilson Silva ficou assustado com a cena que viu. “Em 27 anos de Polícia Civil, nunca vi tanta gente morta. Para virar o carro, precisamos da ajuda de um caminhão munck. Só depois disso, as vítimas foram socorridas”, relatou.

Risco
Para o diretor de Política Salarial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape), Paulo Roberto Rodrigues, esse problema tem sido constante e exige ações conjuntas para combatê-lo. Ele lembra essas que migrações deveriam ser comunicadas aos sindicatos da categoria, dos municípios de origem e destino. “Mas na prática isso não acontece”, lamentou.

No setor da cana, entende o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de Pernambuco, Renato Cunha, alguns avanços têm sido alcançados graças a discussões com as entidades de classe dos trabalhadores, como a Fetape a Contag. “Pernambuco é tido como referência em relação à qualidade do transporte, pois as usinas cumprem as normas de segurança e saúde do trabalhador”, disse.

A insegurança no transporte, pontuou o diretor da Contag Aristides Santos, cresce ao se tratar da migração dos trabalhadores rurais. “Às vezes, eles viajam de um estado para outro sem que tenham firmado contratos e atraídos por promessas nem sempre verdadeiras”, pontou. As migrações ocorrem não somente entre estados do Nordeste. O movimento, revelou, tem crescido do Nordeste para estados no Sudeste e do Centro-Oeste, como São Paulo e Mato Grosso do Sul.

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