Governadora do RN critica a “cassação branca” do DEM e agradece ao apoio recebido de adversários políticos
Alex Viana
Repórter de Política
Foto: Márlio Forte
Pela primeira vez, Rosalba abordou o processo de “cassação branca” a
que foi submetida dentro do próprio partido. Ela disse ter sido lesada
em seus direitos mais legítimos pelo diretório do DEM, ficando impedida
de ser julgada pelo povo. Pela primeira vez, Rosalba se disse revoltada
com sua situação política. “Eu considero que era um direito legítimo. Eu
tinha um cargo, um mandato, e é um direito, a Constituição me dá esse
direto. Mas, o diretório do partido… Usaram de todas as artimanhas para
que eu não fosse candidata. Por que não ter o direito de mostrar ao povo
o que fiz? De ser julgada pelo próprio povo? Isso me deixa indignada,
revoltada. Mas o tempo é o senhor da razão e vai mostrar muita coisa”,
alertou.
As críticas da governadora centraram-se na figura do senador José
Agripino, aliado de mais de 50 anos, segundo ela, a quem ela reputou
como alguém que “considerava amigo”. “Realmente a situação foi muito
constrangedora, traumática, até humilhante”, disse Rosalba, afirmando
que lutou para ser candidata. “Lutei até onde pude lutar, não fugi da
luta, como nunca fugi na minha vida. Era um direito que eu tinha e fui.
Fui ao diretório, fui à convenção. Mas, infelizmente, esse foi o
resultado, lastimável, para um partido que tem um nome democrata”,
declarou.
Instada a externar como recebia a notícia de cassação branca dentro
do DEM, a chefe do executivo potiguar citou as palavras “tristeza” e
“decepção”. Segundo Rosalba, esta foi a primeira vez no Brasil que um
governador no pleno gozo dos direitos constitucionais se vê vetado pela
sigla a que pertence de tentar a reeleição. “Recebi com muita tristeza,
muita decepção, porque, pela primeira vez, acho, na história… Eu não
conheço nenhum partido, no Brasil, que tenha negado a um filiado o
direito de ser julgado pelo povo”.
Rosalba aproveitou a entrevista para agradecer às mensagens de
solidariedade, até de adversários como o vice-governador, Robinson
Faria, pré-candidato do PSD a sucessor dela no governo do RN, e se
emocionou. “Quero agradecer às inúmeras mensagens, telegramas, ligações,
de todo o estado, até de adversários (chorou), me ligando para se
solidarizar contra a cassação branca que o meu partido me fez”.
A governadora tentou desmistificar o conceito – utilizado por
Agripino no DEM – de que ela estaria inelegível. Para tanto, citou
parecer do Ministério Público Federal, proferido ontem junto ao Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) em instância superior, num dos casos em que
ela recebeu condenação das instâncias inferiores da justiça eleitoral,
como indício provável de que será absolvida das acusações. “Está na
internet: o MPF deu seu parecer totalmente contrário à posição do
Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Como poderia ter cassação se eu não
era candidata?”, indagou.
Ainda na entrevista, Rosalba disse que irá continuar no governo até o
término do mandato, mas deixou em aberto a possibilidade de mudar de
partido após este momento. “Com certeza irei continuar trabalhando como
sempre trabalhei, e mostrando resultados. A Copa é resultado de muita
luta. Vou continuar com obras, ações, continuar lutando, tenho viagem
agendada a Brasília, a mesma luta para corrigir uma série de distorções
que encontramos. Superando adversidades, mostrando que se faz governo
sério, honesto e com resultados”.
“Conheço Agripino há 50 anos e sempre fui leal a ele”
Ao justificar seu sentimento de decepção pela traição engendrada pelo
senador José Agripino Maia, Rosalba lembrou a amizade de mais de cinco
décadas com o líder do DEM, destacando que sempre foi leal ao senador,
inclusive no momento mais tenso quando uma possível separação foi
vislumbrada, na época que o PSD estava sendo formado e ele, tendo
recebido o convite para ingressar no partido da base de Dilma Rousseff
(PT), preferiu permanecer no DEM porque era também o momento que
Agripino assumia a presidência nacional da legenda.
“Fui insistentemente convocada por figuras como Jorge Bornhausen,
Gilberto Kassab, Kátia Abreu. Pelo governador Raimundo Colombo, que
quando decidiu deixar o Democratas, me ligou, me aconselhou. Raimundo
Colombo me disse: Rosalba, lá na frente você vai se arrepender. O
partido não vai lhe dar as oportunidades que você está precisando. Eu
disse, de jeito nenhum. Conheço José Agripino há mais de 50 anos. Quando
fui prefeita estava no PDT, mas o PFL se formou, eu mudei para o PFL, e
na época da redemocratização… Fui prefeita, senadora, e agora que ele
assumiu, quando ele assumiu a presidência, o partido já estava
diminuindo, quando ele assumiu a presidência, ele é do meu estado, sou a
única governadora, abandoná-lo? Não vou fazer isso porque seria uma
desfeita e até uma traição. Fiquei por lealdade, para fortalecer o
partido, infelizmente… (se emocionou novamente)”.
Não foi apenas o PSD de Kassab que foi oferecido a Rosalba. Outras
legendas, como o PROS, que estava sendo formado pelo governador do
Ceará, Cid Gomes, além do PTB, também foram postas à disposição da
governadora. “O governador do Ceará, Cid, me chamou, e o PTB, que ficou à
minha disposição. Até outros, como PP, o partido de Crivela (PRB). O
ministro me convidou. Até para a base do governo Dilma”, disse, sem se
declarar arrependida de ter permanecido no Democratas. “A gente nunca
deve se arrepender do que fez. Tomei essa decisão naquele momento
mostrando quem eu sou: leal, fiel, e respeitando o meu partido”.
Governadora garante que vai participar das eleições deste ano
Ao se reportar à própria sucessão, a governadora Rosalba Ciarlini
afirmou que irá, sim, participar do processo eleitoral, escolhendo ou
adotando tacitamente um candidato, seja ao governo, seja ao Senado. Como
beneficiários da traição do DEM, os pré-candidatos ao governo, Henrique
Alves (PMDB), e ao Senado, Wilma de Faria (PSB), não terão a simpatia
de Rosalba, cujo apoio poderá oscilar entre os pré-candidatos do PSD,
Robinson Faria, do PSOL, Robério Paulino, e do PSTU, Simone Dutra.
Rosalba pediu paciência aos que seguem sua liderança política. Após
as convenções que ocorrem neste mês de junho, com a oficialização das
candidaturas, ela irá anunciar sua posição. “Vou sim participar do
processo eleitoral. Quero pedir a meus amigos, aqueles que sempre
estivemos juntos, que tenham um pouco de paciência. Deixem as convenções
acontecerem”, pediu.
Sobre o futuro, Rosalba disse que poderá voltar à medicina, sua
profissão. “Dia 1º de janeiro entrego o governo a quem o povo escolher.
Espero que o povo tenha várias opções para analisar. Não sou política de
profissão. Porque tem gente que é pai, é neto, é filho é sobrinho… Eu
não sou política de tradição. Minha família, inclusive, é muito grande.
Mas Ciarlini, na política, só eu”, disse. “Minha profissão é medica,
volto para cuidar das crianças”.
DESFILIAÇÃO
Na entrevista, Rosalba não deixou dúvidas de que irá deixa o DEM. Ela
só não quis adiantar o destino político. “Eu acho que ficamos numa
situação muito difícil. Mas isso é uma questão a ser decidida, vamos
deixar a poeira baixar. Vamos deixar passar esse momento muito
traumático para saber que rumo nós vamos tomar”, afirmou. “Existe uma
questão, se eu sair agora, o partido me toma o mandato. Fui eleita para
quatro anos, e vou concluir o mandato com mais ações, com mais obras, e
mais realizações”.
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