Se as
previsões meteorológicas se confirmarem, o Rio Grande do Norte - assim como boa
parte dos estados nordestinos - poderá viver em 2015 uma das maiores crises de
abastecimento de água da história. Pelo menos um terço dos reservatórios
potiguares já está com o volume de água inferior a 10% da capacidade total e
com a evaporação, além da subtração do recurso para o consumo, boa parte deles
deve secar completamente até o final do ano. A ameaça recai principalmente
sobre dez açudes, entre eles o de Gargalheiras, em Acari.
Gargalheras
Neste
cenário, até os grandes reservatórios poderão ter o uso de suas águas
repensado. A barragem Armando Ribeiro Gonçalves, maior manancial potiguar,
perde por dia só em razão do consumo 104 milhões de litros, que são utilizados
também para atender a áreas produtivas como a carcinicultura, fruticultura e
pecuária. Adicionando-se ao cálculo o que evapora do manancial, estima-se que o
reservatório perderá 275,5 bilhões de litros até o próximo 31 de dezembro, o equivalente
a 27% do seu volume atual.
Armando Ribeiro Gonçalves
Para o
meteorologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte,
Gilmar Bristot, a situação é realmente preocupante. As chuvas dos últimos três
anos não foram suficientes para encher os reservatórios e a possibilidade de
chuva é quase nula até novembro próximo, ao menos. “O segundo semestre do ano é
seco. De agosto a dezembro, praticamente não chove. E o que chove não tem
significado nenhum diante dos pesares”, assinalou o meteorologista.
Zangarelhas
Para
2015, ainda não há muitas previsões. Mas quando se leva em consideração o
panorama meteorológico atual, a preocupação ganha ainda mais peso. “Hoje temos
um quadro de El Niño no Oceano Pacifico, que é sinônimo de seca no Nordeste. E
a previsão é de que em setembro, outubro e novembro, ele vai continuar
prevalecendo. Se esse quadro não tiver mudança até o final do ano, aí eu não
sei o que vai ser de 2015. Entrar o ano com El Niño atrapalha completamente o
período chuvoso e podemos ter mais um ano de seca”, afirmou.
Uma nova
longa estiagem significa agravar uma situação que já está bastante séria. Hoje,
de acordo com a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), já
há quatro cidades que não recebem mais água nas torneiras: Tenente Ananias,
Paraná, Antônio Martins e Carnaúba dos Dantas. Nestes lugares, desde que o
abastecimento pela Caern foi suspenso, entraram em ação o Estado e a Defesa
Civil, que passam a oferecer água em carros pipa.
Santo Cruz de Apodi
Há outros
municípios que também estão prestes a ter seu abastecimento suspenso. É o caso
de Jardim do Seridó, onde o açude Zangarelhas já está com menos de 2% de sua
capacidade total. Em Olho D’água dos Borges, a situação também é de alerta: o
açude Brejo está com 3,6% de seu volume.O cenário fez com que a Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) não limitasse o uso
produtivo somente destes três maiores reservatórios: Armando Ribeiro Gonçalves,
em Assu, Umari, em Upanema, e Santo Cruz do Apodi, em Apodi.
“Nestes
reservatórios a quantidade de água nos dá uma garantia maior por mais tempo. O
que é retirado para atividade produtiva não faz tanta diferença”, explicou a
coordenadora de Gestão de Recursos Hídricos da Semarh, Joana D’arc
Medeiros. “Mas nós sabemos que esta restrição é muitas vezes desobedecida”,
assinalou.
NATAL
A
situação da capital do estado, ao contrário de boa parte do interior, não é
vista com preocupação. Choveu bastante em Natal nos últimos meses, elevando o
nível das lagoas do Jiqui e de Extremoz, bases do abastecimento do natalense.No
ano passado, chegou-se a cogitar a necessidade de racionamento na capital.
A lagoa
do Jiqui, localizada em Nova Parnamirim, é responsável por 30% de todo o
abastecimento da parte Sul de Natal (Zonas Sul, Leste e Oeste). O restante é
feito por poços. Já a Zona Norte da capital tem 70% de sua água retirada da
lagoa de Extremoz.As duas lagoas, no final do primeiro semestre de 2013,
chegaram a marcar 50% do volume total.
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