quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Relatório mostra aumento de casos de racismo, pornografia de vingança e preconceito contra nordestinos na web

Foto:A Miss Ceará, Melissa Gurgel, que foi alvo de declarações preconceituosas por ser nordestina em 2014 – Divulgação
2014_755080170-2014092676731.jpg_20140926Para marcar o Dia da Internet Segura, celebrado na terça-feira em 113 países, a ONG SaferNet divulgou relatório que denuncia uma explosão de preconceitos e perigos na grande rede brasileira. O levantamento das denúncias recebidas em 2014 mostra um aumento de 8,29% em relação ao ano anterior, para 189.211. Foram 58.717 páginas com indícios de crime, sendo que 7.092 foram retiradas do ar.
Os casos de racismo foram os mais denunciados: 86.570 do total, o que representa crescimento de 34,15% em relação a 2013. Entretanto, o número que mais chamou atenção durante a divulgação do documento foi o acréscimo substancial no número de casos de preconceito de origem, de 365,46%, para 9.921. Esta discriminação foi impulsionada pelo resultado das eleições presidenciais, quando muitos eleitores publicaram ofensas contra moradores das regiões Norte e Nordeste, onde a então candidata Dilma Rousseff obteve ampla maioria de votos.
— Os números refletem a polarização do período eleitoral nas redes sociais. No dia após as eleições, nós processamos 10.376 casos, a maioria de preconceito contra pessoas do Norte e Nordeste — diz Thiago Tavares, presidente da SaferNet.
Mas não foi apenas a eleição que motivou a discriminação em relação a origem. No final de setembro, por exemplo, antes mesmo do resultado final do pleito, a cearense Melissa Gurgel foi alvo de comentários preconceituosos nas redes sociais depois de ganhar o concurso de Miss Brasil. “Ela é bonita até abrir a boca e vir aquele sotaquezinho” e “E eu aqui achando que no Ceará só tinha gente feia” foram algumas das declarações criticadas até pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que fez uma representação junto ao Ministério Público pedindo punição aos responsáveis.
— O fenômeno das redes sociais jogou luz sobre um comportamento que sempre existiu no Brasil — avalia Diana Calazans Mann, chefe da unidade de Repressão aos Crimes de Ódio e Pornografia Infantil da Polícia Federal. — Nossa cultura é de violência, de discriminação. Antes da internet era mais fácil ocultar o racismo, mas a rede ecoa essa faceta da nossa sociedade. Os internautas precisam entender que a liberdade de expressão tem limites, e um deles é a lei que define os crimes de preconceito.
As denúncias de tráfico de pessoas pela internet aumentaram 192,93%, para 3.084, a maior parte agenciando mulheres para a prostituição nas cidades que sediaram a Copa, sobretudo São Paulo, Rio, Salvador e Fortaleza. Diante deste cenário, tanto a SaferNet como a Polícia Federal já estão se preparando para evitar que o cenário se repita no ano que vem, durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Segundo Diana, será montada uma coordenação especial apenas para os crimes cibernéticos durante as competições.
— O fenômeno é extremamente negativo, mas o fato de as denúncias terem aumentado mostra que o cidadão está atento a isso — diz Rodrigo Nejm, diretor de Educação da SaferNet. — O problema é que existem aliciadores que enganam as vítimas, que acreditam se tratar de uma oferta de emprego, sem saber da prostituição.
A pornografia infantil continua liderando, pelo nono ano consecutivo, o ranking por número de páginas. Em 2014, foram 51.553 comunicações de crime, em 22.789 endereços na internet, dos quais 3.283 foram removidos. Apesar disso, o resultado é comemorado, pois houve uma queda de 8,82% no número de casos.

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