Foto:A Miss Ceará, Melissa Gurgel, que foi alvo de declarações preconceituosas por ser nordestina em 2014 – Divulgação
Os casos de racismo foram os mais
denunciados: 86.570 do total, o que representa crescimento de 34,15% em
relação a 2013. Entretanto, o número que mais chamou atenção durante a
divulgação do documento foi o acréscimo substancial no número de casos
de preconceito de origem, de 365,46%, para 9.921. Esta discriminação foi
impulsionada pelo resultado das eleições presidenciais, quando muitos
eleitores publicaram ofensas contra moradores das regiões Norte e
Nordeste, onde a então candidata Dilma Rousseff obteve ampla maioria de
votos.
— Os números refletem a polarização do
período eleitoral nas redes sociais. No dia após as eleições, nós
processamos 10.376 casos, a maioria de preconceito contra pessoas do
Norte e Nordeste — diz Thiago Tavares, presidente da SaferNet.
Mas não foi apenas a eleição que motivou
a discriminação em relação a origem. No final de setembro, por exemplo,
antes mesmo do resultado final do pleito, a cearense Melissa Gurgel foi
alvo de comentários preconceituosos nas redes sociais depois de ganhar o
concurso de Miss Brasil. “Ela é bonita até abrir a boca e vir aquele
sotaquezinho” e “E eu aqui achando que no Ceará só tinha gente feia”
foram algumas das declarações criticadas até pela Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB), que fez uma representação junto ao Ministério Público
pedindo punição aos responsáveis.
— O fenômeno das redes sociais jogou luz
sobre um comportamento que sempre existiu no Brasil — avalia Diana
Calazans Mann, chefe da unidade de Repressão aos Crimes de Ódio e
Pornografia Infantil da Polícia Federal. — Nossa cultura é de violência,
de discriminação. Antes da internet era mais fácil ocultar o racismo,
mas a rede ecoa essa faceta da nossa sociedade. Os internautas precisam
entender que a liberdade de expressão tem limites, e um deles é a lei
que define os crimes de preconceito.
As denúncias de tráfico de pessoas pela
internet aumentaram 192,93%, para 3.084, a maior parte agenciando
mulheres para a prostituição nas cidades que sediaram a Copa, sobretudo
São Paulo, Rio, Salvador e Fortaleza. Diante deste cenário, tanto a
SaferNet como a Polícia Federal já estão se preparando para evitar que o
cenário se repita no ano que vem, durante os Jogos Olímpicos do Rio de
Janeiro. Segundo Diana, será montada uma coordenação especial apenas
para os crimes cibernéticos durante as competições.
— O fenômeno é extremamente negativo,
mas o fato de as denúncias terem aumentado mostra que o cidadão está
atento a isso — diz Rodrigo Nejm, diretor de Educação da SaferNet. — O
problema é que existem aliciadores que enganam as vítimas, que acreditam
se tratar de uma oferta de emprego, sem saber da prostituição.
A pornografia infantil continua
liderando, pelo nono ano consecutivo, o ranking por número de páginas.
Em 2014, foram 51.553 comunicações de crime, em 22.789 endereços na
internet, dos quais 3.283 foram removidos. Apesar disso, o resultado é
comemorado, pois houve uma queda de 8,82% no número de casos.
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