Há exatamente 14 anos o mundo
assistia de forma perplexa o desabamento das famosas Torres Gêmeas, o
Word Trade Center, após os choques consecutivos de dois aviões
comerciais. Não se tratava de um mero acidente aéreo – o que muitos
podem ter pensado após o choque do primeiro avião – mas sim da execução
de um plano encabeçado por Osama Bin Laden. Somando-se os dois ataques
às Torres, ao ataque ao Pentágono e ao avião que caiu na Pensilvânia no
mesmo dia, quase três mil pessoas morreram. Desde aquela manhã de 11 de
setembro de 2001, não apenas a história dos Estados Unidos, mas a de
todo o mundo, nunca mais seria a mesma.
Mas para compreender um pouco melhor o
que foi o “Onze de Setembro” é preciso considerar, pelo menos em linhas
gerais, o tipo de relação construída décadas antes entre Oriente e
Ocidente, fato que fomentaria o ódio de grupos radicais e
fundamentalistas. Como se sabe, o século XX foi marcado pelo pleno
desenvolvimento do capitalismo no mundo com seu coroamento como sistema
econômico dominante com o fim da Guerra Fria entre os anos 80 e 90.
Dessa forma, historicamente, as grandes potências mundiais localizadas
no Ocidente empreenderam cada vez mais o projeto de expansão de seus
poderes econômico, político e ideológico no mundo, vendo no Oriente uma
oportunidade de exploração, principalmente pelas características
regionais: rica em reservas de petróleo, além de uma posição estratégica
geograficamente. Tanto pela luta contra a expansão do bloco socialista
no Oriente Médio (em plena Guerra Fria), bem como pelo pretexto de
proporcionar e financiar o desenvolvimento econômico, a presença das
potências ocidentais – em especial dos Estados Unidos – foi se tornando
uma realidade nessa região.
Contudo, é preciso que se diga que se
esse objetivo dos países capitalistas ocidentais em poder explorar o
Oriente não é algo novo, da mesma forma não é novidade o repúdio e a
contestação da presença ocidental por parcelas da população de vários
países dessa região. Obviamente, a presença de outros países deixa
patente o enfraquecimento e a perda de autonomia e soberania de uma
nação. Em outras palavras, ficaria sugerido que a presença ocidental
prejudicaria os países do Oriente, uma vez que estes (assim como outros
países da chamada periferia do capitalismo) deveriam submeter seus
interesses aos do capital estrangeiro, ocidental. Além disso,
naturalmente, no bojo do capitalismo vem sua indústria cultural, assim
como seus valores, os quais certamente iriam na contramão da cultura e
da tradição religiosa do Oriente, acirrando um estranhamento do ponto de
vista étnico.
Em meados da década de 1990, a Guerra
do Golfo Pérsico, empreendida pelos Estados Unidos, seria uma prova
desse seu interesse em se fazer presente. Da mesma forma, a tentativa de
mediar um acordo nas questões do Oriente Médio entre palestinos e
israelenses seria outro exemplo. Contudo, a maior aproximação e apoio a
países como Israel não passaria despercebida. Segundo o site do Jornal
Estadão (O Estado de São Paulo), em notícia publicada em setembro de
2009, Bin Laden afirmava que um dos fatores que teriam motivado o ataque
às Torres Gêmeas seria o apoio (não apenas político, mas também
financeiro) dos EUA à Israel. País de tradição judaica, Israel é
historicamente inimigo do povo palestino (islâmico em sua grande
maioria), fato que o colocaria como nação inimiga do Islã.
A reação dos Estados Unidos aos ataques
foi rápida, resultando nas Guerras do Afeganistão e do Iraque, embora a
efetividade dos motivos e dos resultados desses empreendimentos seja
discutida até hoje. Quase que de forma esquizofrênica, os Estados Unidos
declararam uma guerra permanente contra o terror, contra os países que
pudessem fazer parte do chamado “eixo do mal”, e que poderiam estar
envolvidos direta ou indiretamente com o terrorismo, apoiando Osama Bin
Laden. O que se seguiu foi a disseminação de um medo internacional de
possíveis ataques, além do preconceito e intolerância contra a
comunidade islâmica, uma das consequências mais negativas de todo esse
episódio.
Esse rompante contra o terrorismo e a
luta contra um inimigo do Ocidente, personificado na figura de Osama Bin
Laden – ao ponto do governo Bush desconsiderar as opiniões e os
tratados existentes entre a comunidade internacional, declarando guerras
e invasões como no caso do Iraque – se resume em uma década de guerras e
mortes de civis e soldados (também americanos) em nome de uma paz que
ainda não está garantida. As ações eram em nome de um ataque preventivo
às possíveis ações terroristas (às quais em tempo deveriam ser
desarticuladas) e, dessa forma, seria interessante a criação de uma
coalizão de países. Assim, nações europeias a exemplo da Inglaterra
aderiram aos planos de guerra do governo Bush. Tal adesão ganhou mais
sentido quando, ao longo desse período de dez anos, alguns ataques (de
menores proporções) ocorreram em cidades importantes como Madri (em
2004) e Londres (2005).
Num primeiro momento, os esforços se
concentraram no Afeganistão para a desarticulação do regime talibã
(apoiadores de Bin Laden, logo da Al Qaeda), com um projeto, no mínimo
contraditório, de impor a democracia como regime político para aquele
país. Em seguida, os Estados Unidos redirecionaram sua estratégia de
guerra, atacando o Iraque do ditador Sadam Hussein com o propósito de
também levar a democracia. Pelo menos em tese, a guerra contra o Iraque
se deu por conta do possível apoio de Sadam às organizações terroristas,
além de sua suposta propriedade e produção de armas nucleares (para
destruição em massa), acusação esta mais tarde desmentida. Assim, eram
países que compunham o eixo do mal.
Contudo, olhando criticamente não
apenas o resultado, mas as condições do desenvolvimento dessas ações dos
Estados Unidos, especialistas afirmam que nas entrelinhas desses
empreendimentos contra o terror estava um projeto de expansão e
fortalecimento da hegemonia norte-americana no mundo e que tinha a
questão do combate ao terrorismo mais como pretexto do que como
objetivo.
Passados dez anos, é possível fazer um
breve balanço das transformações ocorridas na ordem mundial,
relacionando-as com esses famigerados ataques em uma manhã de setembro
em Nova York. Apesar de Osama Bin Laden estar morto desde maio de 2011, e
apesar de os Estados Unidos terem ocupado com relativo sucesso o
Afeganistão e o Iraque (aliás, com a captura de Sadam e sua condenação à
morte, posteriormente), a vitória americana não necessariamente se
configurou a contento.
Alguns trilhões de dólares foram (e
ainda serão) desembolsados pelo governo norte-americano em nome da
guerra, o que, se somado à política econômica nacional nos últimos anos,
fez com que os Estados Unidos aumentassem substancialmente sua dívida.
As crises econômicas, como as de 2008 e 2011, enfrentadas pelo país (e,
obviamente, pelo mundo) contribuiriam para o enfraquecimento da
hegemonia americana, que agora divide espaço com países em forte
crescimento econômico como a China (isso sem falar no fortalecimento de
outros que compõem o BRICS, como o Brasil). Assim, o desvario por uma
caça aos terroristas, mas que tinha como real objetivo realçar o poder
norte-americano no mundo, resultou em um grande fracasso. De tal modo,
os Estados Unidos saíram diminuídos, menores do que quando entraram nas
guerras. Em outras palavras, ocorreu uma fragilização do imperialismo
norte-americano (embora seja incontestável que os EUA são e serão
poderosos por um bom tempo, dado seu poder bélico, tecnológico e
financeiro no mundo), e uma consequente rearticulação dos atores
internacionais, com o surgimento de novos blocos e da reorientação das
relações entre os países.
Além disso, a luta contra o terror
promoveu a exacerbação do xenofobismo, da intolerância, da perseguição
ao islamismo, assim como práticas polêmicas pelas forças de Estado em
nome de uma segurança e defesa nacionais. Prova disso seria o lamentável
equívoco cometido pelo governo inglês ao matar um brasileiro (Jean
Charles de Menezes) em 2005, por confundi-lo com um suspeito de
terrorismo.
De fato, alguns pontos merecem
destaque: não houve outro ataque de mesmas proporções que as do 11 de
Setembro, e a Al-Qaeda realmente se fragilizou com a morte de Bin Laden.
Porém, isso não significa, infelizmente, que outros eventos de cunho
terrorista não venham a ocorrer. Afinal de contas, a forma como os
Estado Unidos intervieram apenas ampliou sua imagem negativa para o
Oriente, o que pode permitir que, para alguns, o discurso de grupos
radicais e fundamentalistas faça mais sentido do que nunca. Mesmo assim,
pode-se pensar numa avaliação menos pessimista quando se olha para a
“Primavera Árabe” (Revolução Política que tem transformado regimes como o
Egito e a Líbia), uma vez que os jovens do Oriente estariam percebendo a
importância da luta política, desinteressando-se por medidas radicais e
de violência tão características dos extremismos religiosos, fato que
poderia diminuir adeptos aos grupos fundamentalistas. Assim, menos
jovens poderiam estar interessados em se tornar pilotos suicidas em nome
de Alá e do nacionalismo, mas sim compreendendo outras possibilidades
de luta.
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