A
barragem tem capacidade para 2,4 bilhões de metros cúbicos de água, e
abastece atualmente municípios das regiões Oeste, Central e Seridó do
estado. Cinco entraram em colapso recentemente e três permanecem – ou
seja, a empresa responsável interrompeu o fornecimento e suspendeu a
cobrança da conta. Isso ainda acontece em Tenente Laurentino Cruz, Bodó e
Lagoa Nova. Outras 28 cidades estão no regime de rodízio de água.
Dos
167 municípios do estado, 153 estão em situação de emergência, e 20
estão com o abastecimento cortado. Em outras 73, foi preciso adotar
sistemas de rodízio para que a oferta não fosse totalmente cancelada. Os
cinco anos de chuvas abaixo da média desestruturaram as cadeias
produtivas, afetando inclusive as exportações e a arrecadação de
impostos.
“É
uma situação preocupante, com certeza. Os anos de 2012 e 2015 foram
muito ruins para a Armando Ribeiro. Praticamente não choveu nada. Este
ano ainda caiu uma água. Agora estamos torcendo para que as previsões de
boas chuvas se confirmem para o ano que vem. Caso contrário, em junho
de 2017 a barragem chegará a menos de 10% de sua capacidade e fatalmente
entrará no volume morto”, afirma José Eduardo Alves Wanderley,
coordenador do Dnocs no RN.
O
chamado volume morto é o resto. No caso da Armando Ribeiro, quando a
barragem atinge menos de 10% de sua capacidade de armazenamento. “Nesta
condição, a água se torna imprópria para o consumo humano em razão da
mistura com a lama e demais dejetos que estão no fundo do leito”,
explica José Eduardo.
Tratar
a água que sobra no fundo dos reservatórios exige grandes quantidades
de produtos químicos, pois é no fundo do leito onde se encontram grandes
quantidades de metais pesados e outros poluentes.
“Além
do mais, essa reserva técnica precisa ser preservada por uma questão
ambiental. Existe todo um ecossistema que vive no entorno dos
reservatórios. Retirar essa água significa sacrificar esse ecossistema”,
ressaltou Josildo Lourenço, gerente de Inovação Tecnológica e Controle
de Perdas da Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern).
O
volume morto da Armando Ribeiro ainda é menor, em termos de volume, que o
de outras represas, como as do Sistema Cantareira, em São Paulo. O
volume mais extenso torna a reserva técnica menos poluída, e o
tratamento mais fácil.
nível
da água está tão baixo que praticamente toda a antiga cidade de São
Rafael ressurgiu. O município foi inundado há 33 anos, logo após a
construção do reservatório. Na época, 730 famílias foram removidas para
um ponto mais alto da região. Agora, as ruínas antes submersas estão
acessíveis e viraram atrações turísticas. É a “Atlântida do Sertão”,
como foi apelidada a velha cidade.
A
antiga igreja e o cemitério são os locais preferidos. “Trabalhei aqui,
na antiga cidade. Fui funcionário de uma pedreira. Agora, venho para
matar a saudade”, disse Expedito Felipe de Lima, de 56 anos. “Nunca vi a
água tão baixa”, acrescentou.
Na
prainha, como é chamado o local mais visitado por banhistas, os
pescadores não gostam do que veem. “Com a água baixando, os peixes vão
desaparecendo. Antes, levava para casa uns 30 quilos de peixe por dia.
Agora, depois de um dia inteiro de trabalho, não consegui pegar 3
quilos”, lamenta Val da Silva, que é associado à colônia de pescadores
da região.
Velha São Rafael
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