Procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco
recomendaram nesta quinta-feira (15) a suspensão imediata das obras no Túnel Monteiro,
no eixo leste da Transposição do Rio São Francisco, por grave risco de
acidente de trabalho. Uma força-tarefa do MPT fiscalizou as obras no
local e encontraram falta de condições seguras de transporte e trabalho
dos funcionários nos canteiros de obra dos consórcios São Francisco
Leste e Bacia do São Francisco. A recomendação foi enviada às empresas
nesta quinta-feira.
Duas equipes do MPT percorreram cerca de 217
quilômetros de canal, passando pelos municípios de Custódia (PE),
Sertânia (PE) e Monteiro (PB). O trabalho de campo começou na
terça-feira (13) e terminou ontem (14). De acordo com a procuradora
Lívia Viana de Arruda, que participou da ação, dos 13 trabalhadores que
constroem o túnel, seis apresentaram lesões de pele nas pernas, como
queimaduras e irritações, que seriam causadas pelo contato com produtos
químicos usados na concretagem da obra, de 3,5 quilômetros de extensão.
“As
lesões ficam mais próximas às canelas por conta do contato com os
agentes químicos e o não fornecimento dos equipamentos de proteção
adequados. Vários estavam com bota, mas elas não eram suficientes para
manter a pele afastada do composto químico que provocou as lesões”, diz a
procuradora. “Quase metade dos trabalhadores tinham as lesões. E uns
tinham menos tempo de trabalho, então é bem significativo, não pode ser
tido como coincidência”.
Na fiscalização também foram encontradas
outras irregularidades, de acordo com o órgão: funcionários sem
treinamento para executar o serviço, falta de equipamentos de segurança
individuais e coletivos adequados e ausência de plano de segurança.
Outros problemas também foram encontrados, como ausência de banheiros
químicos na frente de trabalho e água fornecida em situação irregular
por não ser acondicionada da forma correta.
Inquérito
A
procuradora disse que as más condições de trabalho (com exceção das
observadas no Túnel Monteiro) já foram detectadas em outras duas
fiscalizações feitas no trecho, em 2011 e 2013, quando outras empresas
eram responsáveis pelas obras. Desta vez, houve uma denúncia que motivou
a abertura de inquérito civil na Procuradoria do Trabalho do município
de Caruaru.
A recomendação também pede que os consórcios não
utilizem mais os veículos fornecidos pela R.R. Transporte LTDA para a
locomoção dos trabalhadores. Segundo texto divulgado pelo MPT, os
veículos, fabricados na década de 1980, estavam “sucateados”. “Todos os
ônibus inspecionados estavam sem cintos de segurança. Tacógrafos, faróis
e pneus apresentaram defeitos”, diz a nota.
Lívia Viana diz que o
pedido de suspensão foi feito por causa da gravidade dos riscos aos
trabalhadores; as obras podem ser retomadas assim que as adequações
necessárias forem feitas. Isso não impede que as empresas respondam por
dano moral coletivo, por exemplo, em face do que já foi encontrado.
“Mesmo tendo havido a correção, a gente verificou que houve um dano,
então estamos analisando quais providências judiciais serão tomadas
independente disso”, diz a procuradora.
Os consórcios deverão
apresentar provas de que corrigiram as irregularidades para retomar as
obras – e os salários dos trabalhadores devem ser pagos normalmente
enquanto a suspensão durar. O descumprimento da recomendação pelas
empresas pode gerar ações administrativas e judiciais.
Empresas
Cerca
de 1.600 pessoas trabalham na área fiscalizada pelo Ministério Púbico
do Trabalho. O Consórcio São Francisco Leste é formado pelas empresas
S.A. Paulista de Construções e Comércio e Somague Engenharia S.A. do
Brasil. Já o Consórcio Bacia do São Francisco tem a S.A. Paulista e a
FBS Construção Civil e Pavimentação LTDA como integrantes.
A
empresa S.A Paulista, presente em ambos os consórcios e falando em nome
dos demais, informou, por meio do setor jurídico, que recebeu a
recomendação e está apurando as informações para decidir que
providências tomar.
A R.R Transporte LTDA foi procurada, mas não foi encontrada.
Transposição
O
projeto de transposição do Rio São Francisco se divide em dois eixos: o
leste, com 217 quilômetros de canal, dos quais 88,7% estão prontos; e o
norte, com 260 quilômetros e 90,7% concluídos. 390 municípios de
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará serão beneficiados com o
projeto. O MPT divulgou nota em que, segundo o Ministério da Integração
Nacional, o contrato inicial com o Consórcio Bacia do São Francisco é
de R$ 705 milhões.

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