Por El País
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, considerou nesta terça que foi legal a nomeação do Wellington Moreira Franco, citado na Operação Lava Jato,
como ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República com
direito a foro privilegiado _só pode ser julgado pelo próprio STF. A
decisão liminar (temporária e de validade imediata) contrasta com a de
outro ministro do tribunal, Gilmar Mendes, que em março de 2016 vetou a
nomeação de Luiz Inácio Lula da Silva, então investigado na Lava Jato,
como ministro do Governo Dilma Rousseff.
Foram duas decisões isoladas de cada magistrado, conhecidas no jargão
como “monocráticas”, e com peso igual. No caso de Lula, não houve
discussão do plenário do Supremo antes do afastamento
de Dilma Rousseff e o tema perdeu a razão de ser. Ainda assim, o
petista pede que a corte se manifeste sobre o tema, o que ainda não
aconteceu. No caso de Moreira Franco, o tema deve ser debatido no
plenário do STF, que terá o veredito final da questão depois do
discussão entre todos os integrantes do tribunal. É esperar para ver o
embate. Veja as diferenças e semelhanças entre as liminares de Mendes e
Mello.
Lula – Em março de 2016, Dilma Rousseff nomeou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
como seu ministro da Casa Civil. Lula já era investigado pela Operação
Lava Jato, em Curitiba, suspeito de ter recebido vantagens indevidas de
empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras, o que ele
nega. O PSDB e o PPS moveram um instrumento jurídico chamado mandado de
segurança para suspender a nomeação alegando que ocorreu um “desvio de
finalidade”. O real objetivo do oferecimento do cargo, na visão das
legendas, era tirar o petista da jurisdição do juiz Sérgio Moro,
que havia divulgado no mesmo dia áudios em que Lula reclama com
diversos interlocutores da investigação e um em que Dilma diz que
enviará a Lula seu termo de posse no ministério para ele usar “em caso
de necessidade” (esse áudio em específico, com Dilma, foi desconsiderado
como prova por Teori Zavascki, depois, por ter sido feito depois da
ordem judicial para a gravação ter expirado). Gilmar Mendes acatou o
pedido e o petista não pode assumir a pasta.
Moreira Franco – Em 3 de fevereiro de 2017, Michel Temer
promoveu Wellington Moreira Franco, então secretário-executivo do
Programa de Parceria de Investimentos, a novo ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, com status de ministério. Moreira
Franco foi citado 34 vezes por um dos delatores da Odebrecht, mas ainda
não é investigado pela Operação Lava Jato. Em supostas planilhas que
detalham contribuições ilegais para campanhas ele aparece com o apelido
de Angorá _ele nega as acusações. Citando a decisão de Gilmar Mendes,
PSOL e Rede também questionaram a indicação de Moreira Franco
argumentando tratar-se de “desvio de finalidade”. Celso de Mello negou o
pedido.
Uso de mandado de segurança
O que disse Gilmar Mendes sobre Lula: o magistrado
disse que o instrumento jurídico usado pelos partidos políticos era
adequado, contradizendo, inclusive, leitura que ele mesmo tinha feito
antes
“Eu mesmo registrei discordância quanto à possibilidade do partido políticoimpetrar
segurança em favor de ‘interesses outros que não os de seus eventuais
filiados’. Percebo que a análise que fiz daquela feita foi
excessivamente restritiva”
O que disse Celso de Mello sobre Moreira Franco: rejeitou o uso do instrumento jurídico para ações do tipo e disse que a questão “será apreciada em momento oportuno”
“O próprio plenário do Supremo Tribunal Federal,
em julgamentos colegiados, já se pronunciou no sentido de negar
legitimação universal ao partido político para impetrar mandado de
segurança coletivo”
Investigado X necessidade de condenação
O que disse Gilmar Mendes sobre Lula: avaliou que Lula estava na iminência ser implicado em Curitiba e que os áudios mostravam a intenção de mudar de foro judicial
“Pairava cenário que indicava que, nos próximos desdobramentos, o
ex-presidente poderia ser implicado em ulteriores investigações, preso
preventivamente e processado criminalmente. A assunção de cargo de
ministro de Estado seria uma forma concreta de obstar essas
consequências. As conversas interceptadas com autorização da 13ª Vara
Federal de Curitiba apontam no sentido de que foi esse o propósito da
nomeação”
O que disse Celso de Mello sobre Moreira Franco:
cita jurisprudência que diz que só condenados, e sem chance de recorrer
de suas sentenças, devem ser impedidos de assumir cargo
“A existência de qualquer vício no ato administrativa não passa de
mera elucubração. Não há qualquer investigação em curso contra o
ministro e, conforme a jurisprudência desse Supremo Tribunal, o impedimento do acesso a cargos públicos antes do trânsito em julgado de sentença condenatória viola o princípio da presunção de inocência”
Vantagens do foro privilegiado
O que disse Gilmar Mendes sobre Lula: ele não chega a
atacar o foro privilegiado, mas fala que Lula queria criar “tumulto
processual” e cita áudio de Lula e Dilma (que seria desconsiderado como
prova depois, por ter sido feito já terminado a autorização formal
judicial para tal)
“Não há aqui pedido de nomeação para o cargo, mas há uma clara
indicação da crença de que seria conveniente retirar a acusação da 13ª
Vara Federal de Curitiba – a ‘República de Curitiba’ –, transferindo o
caso para uma ‘Suprema Corte acovardada’ (termo usado por Lula em áudio,
mas no contexto de que a corte estaria ratificando as decisões de
Moro). Além do tumulto processual causado pela declinação, há a crença
de que o foro no STF seria leniente com o ex-presidente”
O que disse Celso de Mello sobre Moreira Franco: negou que foro privilegiado signifique escapar da Justiça
“Cumpre insistir, portanto, em que a investidura de qualquer pessoa
no cargo de Ministro de Estado não representa obstáculo algum a atos de
persecução penal que contra ela venham eventualmente a ser promovidos
perante o seu juiz natural, que, por efeito do que determina a própria
Constituição”
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